Cotidiano

Movimento protesta contra hidrelétrica

Biólogo que comanda Movimento Puraké afirma que Bem-Querer será a pior hidrelétrica já projetada para a Amazônia no Século XXI

Motivado por uma preocupação com o futuro das Corredeiras do Bem-Querer, um dos pontos turísticos do Estado de Roraima, localizadas no Município de Caracaraí, Centro-Sul do Estado, um evento será realizado amanhã pelo Movimento Puraké, quando se comemora o Dia da Amazônia, com o tema “Salve o Rio Branco no Dia da Amazônia, não à hidrelétrica”. O objetivo é debater, além de alternativas, os impactos que podem ser causados a partir da obra de construção da usina hidrelétrica naquela região, bem como no rio Branco.
O evento está previsto para começar às 14 horas no auditório Alexandre Borges da Universidade Federal de Roraima (UFRR), no Campus Paricarana. Haverá exposição de artes, exibição de vídeodocumentários sobre hidrelétricas construídas na Amazônia e debate acerca do assunto. Ao final haverá show musical com artistas regionais.
De iniciativa do Movimento Puraké, o evento também tem a intenção de mostrar à sociedade roraimense problemas que surgirão decorrentes da obra, conforme os organizadores, como um alagamento em grande proporção, maior que o que ocorreu com a implantação da usina de Belo Monte.
Segundo o biólogo e representante do movimento, Ciro Campos, este é um tema complexo que envolve não apenas questões ambientais, mas também econômicas e sociais que têm relação com o planejamento do futuro da população.
Conforme ele, no que diz respeito ao critério de eficiência, ou seja, área alagada por energia gerada, a obra do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2), do Governo Federal, seria a pior já projetada para a Amazônia no Século XXI. Ele disse que sociedade precisa saber dos efeitos negativos, uma vez que só se divulgam aspectos positivos. “Creio que mais de 90% do povo do Estado ainda não têm conhecimento do mapa de inundação. Em Porto Velho, Rondônia, alguns bairros foram destruídos por conta da abertura da saída da água da Hidrelétrica de Santo Antônio”, citou.
Ele afirmou que a população não sabe que a correnteza do rio Branco vai acabar na frente das cidades de Boa Vista, Caracaraí e Iracema, bem como as praias irão desaparecer para sempre e que os peixes de pele, justamente os de maior valor comercial e mais apreciados, irão desaparecer também.
O ativista aponta ainda para o histórico das hidrelétricas na Amazônia, o qual mostra que o número de empregos gerados por uma obra desse porte é sempre menor do que o número de pessoas que chegam em busca desses empregos. Além disso, segundo ele, houve ainda aumento gradativo de violência contra crianças e adolescentes, como aconteceu nos primeiros seis meses da obra em Altamira, no Pará. “Visualizando esses e outras situações, tememos passar por esses problemas aqui também”, comentou Campos.
O biólogo afirma que já é de conhecimento, com a formação do lago e o fim da correnteza do rio, o aumento na proliferação de mosquitos na margem do rio Branco em Boa Vista e, consequentemente, o aumento de doenças transmitidas por eles. “Lembrando que o vento sopra do Cantá para Boa Vista. Portanto, as plantas aquáticas vão se acumular na margem daqui. É bastante conhecido pela ciência esse fenômeno de proliferação do mosquito em lagos de reservatórios, e a população de Boa Vista sequer foi avisada que esse risco existe”, disse.
Para Campos, é fundamental que as pessoas tomem conhecimento da situação, pois estas devem cobrar do poder público uma nova discussão acerca da necessidade e alternativas para a obra.
Conforme ele já existe muitas usinas hidrelétricas construídas na Amazônia, além das que se encontram em andamento. A construção de mais uma se torna então desnecessária para o que se chama de segurança energética para Roraima, uma vez que há outros caminhos a serem seguidos que também garantem essa segurança. “Já que nós temos o linhão que está trazendo a energia de Tucuruí, que vai fornecer a energia que Roraima precisa em curtíssimo prazo, além dos preços das energias alternativas despencando, a hidrelétrica do Bem-Querer é totalmente desnecessária”, argumentou.
Sobre as energias alternativas, como a eólica e a solar, Ciro Campos enfatiza que o preço desse tipo de energia vem caindo rapidamente, enquanto o da energia elétrica continua estável. “A tendência é que essa queda de preço continue. O nosso Estado tem potencial para a produção dessas duas energias”, afirmou ao acrescentar que, daqui a 13 anos, quando a usina estiver em plena operação, o preço da energia solar vai ter chegado a patamares muito mais vantajosos não só para o Estado, mas para as pessoas.
“Hoje nós só pagamos a energia que nos fornecem. O caminho alternativo é as famílias produzirem toda ou parte da sua energia e, durante a noite, quando não há a geração solar, a gente tenha as usinas hidrelétricas construídas com seus reservatórios para fornecer energia nesse horário”, frisou. “As alternativas durante o dia fazem com que a gente economize essa energia dos reservatórios”.
MOVIMENTO PURAKÉ – Criado em 2012, o Movimento Puraké conta com cerca de 20 pessoas e mais 12 organizações que fazem parte da “Frente de defesa do Rio Branco”. O objetivo do grupo é levar informações à sociedade e fazer com que participe de debates voltados para questões ambientais, especificamente sobre as grandes obras que podem causar impacto negativo sobre a vida das pessoas. (M.F)