Cotidiano

Metade do dinheiro arrecadado é enviada para familiares da Venezuela

Na avaliação de professor, evasão de recursos não traz nenhum impacto imediato à economia local

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A maioria dos recursos arrecadados por imigrantes venezuelanos com uma ocupação temporária ou que trabalham na informalidade exercendo atividades como diaristas, vigiando carros em estacionamentos e trabalhadores da construção civil, é enviado para os familiares no país de origem para suprir a necessidade de alimentação e compra de remédios para os pacientes com doenças crônicas.

Este é o caso do vigia de carros Jhonny Jose Mattos Palma, que morava na cidade de El Tigre. Há três meses em Boa Vista, ele ganha cerca de R$ 60,00 por semana, dos quais R$ 40 encaminha para seus familiares e o restante fica para suprir suas necessidades básicas e comprar alimentos. 

“Deixei na Venezuela minha esposa e dois filhos. A situação a cada dia se complica em razão da falta de alimentos e medicamentos. A maior parte das doações que recebo, encaminho para eles. Espero que consiga uma ocupação melhor e, com isso, possa contribuir ainda mais com a alimentação deles. É angustiante esta situação e não temos nenhuma perspectiva de melhoras. É um verdadeiro sofrimento”, relatou.

A diarista Nilze Fagundez Peres trabalha três vezes por semana em uma residência e ganha mensalmente R$ 600,00. Com esse valor, ela paga o aluguel, que divide com duas conterrâneas, e manda cerca de R$ 400,00 para a mãe, que cuida de seus dois filhos.

“Há quatro meses em Boa Vista, estou à procura de um trabalho melhor, mas enquanto não consigo, trabalho como diarista na casa de uma família no bairro Mecejana. Aqui, trabalhando de forma digna, tenho conseguido minimizar as dificuldades de meus familiares em Maturin. Na Venezuela, trabalhava em uma empresa de contabilidade, pois sou formada em Economia. Não me importo em ser uma diarista, pois deixei minha família em busca de dias melhores”, relatou.

O venezuelano Ramon Hernandez vende frutas da época, que ele colhe nas residências. Parte do dinheiro que arrecada com as vendas nos semáforos é usado para se alimentar e o restante ele está juntando para mandar buscar seus pais, que residem em Puerto La Cruz.

“Quando cheguei, há cinco meses, vindo de carona com uns amigos que seguiram para o Amazonas, prometi a meus pais que iria de alguma forma trazê-los e minimizar a situação de miséria que estão passando. É difícil você abandonar tudo e recomeçar do zero, mas tenho força para trabalhar e quem sabe um dia a Venezuela volta a ser um país digno como antes”, disse.

Professor diz que evasão de recursos não gera impacto na economia

Na avaliação do economista e professor Raimundo Keler, a evasão de recursos não traz nenhum impacto imediato à economia local, mas em sua opinião, se esta situação persistir por muito tempo é possível avaliar como um impacto negativo abrangendo diversos segmentos.

“Não temos atualmente nenhum controle do valor encaminhado semanalmente ou mensalmente à Venezuela. Por um lado esse trabalho informal passa a ser positivo em razão de ocorrer uma circulação de moedas no comércio, uma vez que os venezuelanos passam a ser captadores e no final do dia trocam nos supermercados, postos de combustíveis e no comércio em geral. Por outro lado, nenhum órgão, como a Receita Federal, tem ideia do valor encaminhado à Venezuela. No futuro, se essa situação persistir, poderemos ter um impacto negativo com esta evasão dos recursos”, avaliou. (R.G)

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