
Desde essa quarta-feira (3), circula nas redes sociais a convocação de uma greve nacional de caminhoneiros marcada para esta quinta-feira (4). Embora representantes de cooperativas e movimentos do setor em diferentes estados, incluindo Roraima, afirmam que não vão aderir ao movimento, o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Roraima (SETCERR), Valcir Peccini, sustenta que os reflexos da paralisação já são sentidos em Roraima.
De acordo com ele, a paralisação “não é algo que vai acontecer, porque já começou”.
“Cerca de 40% do transporte já diminuiu, as empresas e os caminhões estão parados na porta de casa por falta de carga. Se mais 30% dos caminhoneiros e transportadoras aderirem à paralisação, teremos 70% do transporte do país parado”, explicou.
Peccini pontuou que o impacto da paralisação no estado é direta, pois o setor trabalha com gastos fixos altos e muitos funcionários. “O volume de transporte caiu tanto que o faturamento já não cobre mais essas despesas”.
“Todo transportador esperava que, nos últimos meses do ano, principalmente dezembro, houvesse aumento de carga, como sempre acontece, mas este ano foi diferente, o movimento caiu ainda mais, e a situação piorou com as mudanças na legislação tributária, que deixam o próximo ano ainda mais incerto”, disse.
Ele reforça que uma paralisação pode trazer melhorias, mas complica a situação atual dos transportadores. “Em Roraima, as operações já estão enfraquecidas, sobretudo porque passamos longos períodos sem grãos para transportar, então a situação é difícil”, adiciona.
Reivindicações dos caminhoneiros
Conforme o vice-presidente da SETCERR as reivindicações dos caminhoneiros são válidas e técnicas, sendo elas:
- Retorno da isenção de pedágio para eixo suspenso (caminhão vazio)
Antes, os veículos vazios podiam passar com o eixo levantado sem pagar pedágio;
O pagamento mesmo com eixo suspenso é obrigatório e segundo eles, aumentou significativamente os custos; - Em rotas longas, como Roraima e São Paulo, o gasto ultrapassa R$3 mil, podendo chegar a R$6 mil em composições maiores.
- Revisão da legislação sobre tempo de direção e descanso (regra das 11 horas)
- A regra atual obriga o motorista a parar por 11 horas, mesmo em situações em que ele está próximo do destino final;
- Há queixas de que isso prejudica motoristas que, por exemplo, estão a poucos quilômetros de casa, mas precisam interromper a viagem porque o tempo regulamentado se esgotou.
Ele rebate a ideia de que as pautas da paralisação sejam políticas.
“Essas demandas estão sendo discutidas durante todo o ano. Há muitas reuniões sobre as 11 horas, muitos motoristas multados, o fim da isenção para o eixo levantado também é uma reivindicação real. Pode não existir pedágio em Roraima, mas no restante do país pesa muito. São custos que inviabilizam a atividade”, finalizou.
Amigos do Volante
O caminhoneiro Edmilson Aguiar, fundador do movimento social “Amigos do Volante”, em Roraima, afirmou que as pautas que motivam a paralisação não contribuem para melhorar a situação da categoria.
“Se houvesse realmente a intenção de melhorar a vida dos caminhoneiros, o caminho seria outro. Essa paralisação atende a interesses políticos de quem não deveria estar fazendo política”, criticou.
Cooperativa de caminhoneiros da Baixada Santista
A equipe da FolhaBV também ouviu Marcelo Aparecido Santos da Paz, caminhoneiro autônomo e presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos do Porto de Santos (Coopercaps), em São Paulo. Ele afirmou que a mobilização anunciada por alguns grupos tem caráter político e não representa a categoria.
“Colocaram algumas pautas que até têm relação com os caminhoneiros, mas incluíram outras que não têm nenhuma conexão, como pedido de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Não concordamos. Isso não é pauta da categoria”, disse.
O profissional acrescenta ainda que apesar de uma reunião ter sido mencionada em grupos de mensagem, a pauta não chegou oficialmente ao conhecimento da categoria. “Por isso, não há previsão, nem possibilidade de paralisação no dia 04 de dezembro”, reforça.
“Qualquer movimento de reivindicação ou paralisação só pode ocorrer, após discussão ampla e aprovação da categoria em assembleia. As decisões são tomadas coletivamente, por meio de votação, e não de forma individual ou por grupos isolados.A luta trabalhista não pode se misturar com viés político, e isso é inaceitável”, finalizou.
Marcelo afirmou que as reivindicações legítimas da categoria já estão sendo tratadas com o governo federal.
“No dia 5 está marcada uma reunião na Casa Civil com o novo ministro, Guilherme Boulos, para discutir nossas demandas. O diálogo existe. Não há motivo para parar neste momento”, completou.