Cruz de madeira colocada às margens da estrada para identificar óbito na via (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Cruz de madeira colocada às margens da estrada para identificar óbito na via (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

“Minha irmã levava uma vida simples, cuidava dos três filhos sozinha e ganhava a vida trabalhando de empregada doméstica de segunda a sexta. No sábado, ela complementava a renda fazendo faxinas. Como ela era evangélica, aproveitava o domingo para ir ao culto e sair com as crianças”, assim era a vida de Dulcilene Silva dos Santos, de 40 anos, descrita pela irmã dela, Joicirene Santos.

Dulcilene teve a vida ceifada em agosto de 2023, após ter a motocicleta que conduzia atingida por um semirreboque, na Rua Sucupira, no bairro Paraviana. Ela faz parte das 118 pessoas que morreram naquele ano.

Após a morte de Dulcilene, Joicirene ficou com a guarda das crianças, que hoje têm 9, 12 e 14 anos. Para ela, o ponto mais sensível da criação dos meninos é a parte sentimental.

“A dor continua intensa, ainda me emociono ao falar dela. Até evitamos falar por conta da maneira que aconteceu e como ela deixou os filhos. Na época, o caçula tinha apenas 7 anos. Depois da morte dela, ele mudou bastante o comportamento e comenta muito sobre a mãe, e isso é muito dolorido. Depois que ela partiu, eu que fiquei com a guarda deles e é difícil lidar com algumas situações relacionadas a sentimento, mas vamos levando”, explicou.

Em outubro deste ano, a Justiça condenou A.O.B e uma empresa de transporte a pagarem indenização de R$ 200 mil à família de Dulcilene. O juiz Jarbas Lacerda de Miranda, da 4ª Vara Cível de Boa Vista, analisou as provas do caso, entre elas o Laudo Técnico Pericial nº 1212/2023, que atestou que o semirreboque estava mal acoplado e trafegava em condições precárias de segurança. O documento apontou a negligência tanto do motorista quanto da empresa.

Dulcilene morreu aos 40 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Sempre serão lembrados

Neste Dia de Finados, os familiares deverão ir aos cemitérios homenagear seus entes queridos neste domingo, 2 de novembro. Neste mesmo mês também é celebrado o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito.

Completando 30 anos desde a sua promulgação pela Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), a data tem o objetivo de lembrar as pessoas que perderam a vida em virtude de sinistros de trânsito. Assim como prestar apoio e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.

A data também trata de homenagear aqueles que sobrevivem hoje com sequelas em virtude de acidentes de trânsito, principalmente aqueles que lidam diariamente com as consequências traumáticas, como equipes de emergência, polícias, enfermeiros e médicos, entre outros profissionais.

Outras vítimas

A dor da família de Dulcilene se mistura à dor de centenas de outras que perderam entes queridos vítimas de acidente de trânsito. Conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em quatro anos, 472 pessoas morreram nas rodovias de Roraima. Os números são de 2022 até setembro deste ano.

É o caso de Wesley de Souza Sampaio, de 31 anos, que morreu em outubro, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Roraima (HGR) após quase 30 dias internado. O mesmo acidente vitimou Fabiana da Silva, de 32 anos, que morreu no local.

A amiga de Wesley, Mayrla Soares, o descreve como uma pessoa alegre e amigo para todas as horas.

“O Wesley era um cara muito extrovertido, amigo para todas as horas, com ele não tinha tempo ruim. Ele sempre inventava alguma coisa para juntar todo mundo, fosse uma viagem, um churrasco no fim de semana ou um banho”, contou.

Segundo Mayrla, os bons momentos vividos ao lado do amigo é que ficaram para sempre na memória.

“Está sendo muito difícil para todos. Ele estava sempre presente, através de ligações ou mensagens. Gostava de colecionar momentos. Todos que conheciam ele tem alguma lembrança boa na memória e foi o que ele deixou para cada um de nós. No final, é só isso o que sobra de quem parte”, comentou.

Wesley deixou dois filhos, com idade de 12 e 14 anos.

Wesley estava internado no HGR desde o dia 27 de setembro e foi a óbito dia 26 de outubro (Foto: Instagram)

Dados

Conforme o Detran, nos primeiros nove meses do ano, comparado ao mesmo período de 2024, houve aumento de 30,7% nos casos. Os meses que mais registraram óbitos foram janeiro e setembro, com 19 cada, seguidos de agosto (18) e julho (17). Já os com menos registros foram fevereiro (9) e maio (7).

As vias urbanas de Boa Vista foram onde mais ocorreram óbitos (40), seguidas das rodovias federais (38), estaduais (19) e interior (16).

Entre as rodovias federais, 15 pessoas morreram em acidentes na BR-174. A BR-401 registrou 11 mortes e a BR-432, cinco vítimas.

A rodovia estadual RR-205 contabiliza 10 mortes. Ela é considerada uma das mais perigosas. Entre os casos que mais chamaram a atenção da população foi o caso que vitimou cinco pessoas, sendo três da mesma família.

As vítimas foram: Nádia Santos, 37 anos, o marido dela, Pedro Viana, 38 anos, a mãe dele, Rosa Viana, de 63, e o casal identificado como José Carlos da Costa, 46 anos, e Rosana Ribeiro, de 48 anos.

Ainda de acordo com os dados, as Avenidas Brigadeiro Eduardo Gomes e Ville Roy, em Boa Vista, estão em primeiro lugar, com cinco óbitos cada uma. Entre as vítimas, está o empresário paranaense Sandro Eliano da Silva, de 48 anos. Ele estava como passageiro em um mototáxi, quando foi atingido por uma carreta no mês de setembro.

Um caso que repercutiu e ocorreu na mesma avenida foi o acidente entre um Corsa e uma Hillux, no mês de agosto deste ano, que vitimou Jandeci de Souza Pinho, de 48 anos, e o tio dele, Valdenilson Barroso da Silva, de 52 anos. Duas mulheres também ficaram feridas.

Quase 30 dias depois do acidente, Miraci Souza, de 56 anos, esposa de Valdenilson, morreu no HGR.