Após a FolhaBV revelar em primeira mão, na última sexta-feira (29), a descoberta de altas concentrações de terras raras no município de Caracaraí, novos desdobramentos reforçam a relevância científica e econômica do achado. Em visita técnica realizada neste fim de semana, geólogos da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e os responsáveis pelo empreendimento confirmaram que análises laboratoriais apontam níveis acima da média global de minerais estratégicos para a transição energética, incluindo platina, paládio, ródio e irídio.
Estiveram presentes durante a visita técnica, representantes de instituições estaduais como a Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Codesaima e Iater (Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural), além do senador Chico Rodrigues. Os presentes puderam conhecer os locais onde foram coletadas amostras para as pesquisas.
“Prova cabal” da ocorrência
Os geólogos Carlos Eduardo Vieira e Vladimir de Souza, que analisaram as amostras no microscópio eletrônico da UFRR, explicaram que os elementos estão disseminados nas rochas metamórficas da região em teores considerados anômalos e inéditos.
“O desafio agora é dimensionar a extensão dessas concentrações e avaliar o volume da jazida. Mas já temos a comprovação, tanto em análises químicas quanto em microscopia, de que os elementos terras raras e outros minerais críticos aparecem em níveis muito acima do normal”, destacou o geólogo Vladimir.
Segundo eles, os resultados reforçam o potencial científico de Roraima e colocam a descoberta no radar internacional.
Projeto com foco em legalidade e rastreabilidade
Um dos proprietários da área, Lusérgio Barreira, frisou que o empreendimento tem atuação legal, com autorizações do Conselho de Defesa Nacional (CDN) e da Agência Nacional de Mineração (ANM). Ele também rebateu críticas sobre associação a garimpo ilegal.
“Sempre trabalhei de forma legal, nunca em área ilegal. Nosso projeto tem rastreabilidade desde as coletas iniciais. Já realizamos mais de 300 análises em laboratórios certificados no Brasil e os teores encontrados estão entre os maiores do mundo”, afirmou.
Barreira revelou que investidores estrangeiros já demonstraram interesse em aportar recursos no empreendimento, incluindo empresários indianos, e citou a possibilidade de instalar uma planta de beneficiamento na região de Caracaraí.
“Só em uma área de 36 hectares poderemos produzir por 19 anos. No total, temos mais de 100 mil hectares requeridos. Isso pode transformar Caracaraí no município com maior arrecadação de Roraima e gerar mais de mil empregos diretos”, completou.
Minérios estratégicos e transição energética
O também proprietário e pesquisador Gustavo Hugo de Andrade destacou a relação direta da descoberta com a agenda mundial de transição energética.
“Terras raras e minerais críticos são fundamentais para tecnologias renováveis e de baixo impacto ambiental. Nossas análises mostram concentrações superiores às médias globais, o que coloca Roraima em posição estratégica. Esse achado pode representar uma nova matriz econômica para o estado”, avaliou.
Potencial transformador
O projeto conta atualmente com cooperação técnica da UFRR e acompanhamento de órgãos públicos e ambientais. A localização também é vista como estratégica: próxima à BR-174, distante de áreas indígenas e de preservação, e com fácil acesso a portos na Guiana e em Manaus.
“Queremos fazer mineração sustentável, transparente e de referência internacional”, reforçou Lusérgio.
Com os novos estudos, o empreendimento deve avançar para a fase de lavra nos próximos anos, consolidando Roraima no mapa global dos minerais estratégicos.
O que são terras raras?
Chamadas de “ouro do século XXI”, as terras raras são um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para a tecnologia moderna. Estão presentes em smartphones, computadores, televisores, carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e até em sistemas de defesa militar.
No Complexo Barreira, foram encontrados o európio que é usado na produção de telas de LED; o neodímio, em ímãs superpotentes para motores e geradores; o ítrio, em supercondutores e lasers; e o itérbio, em fibras ópticas e sistemas de comunicação avançados.
Além das terras raras
O complexo também guarda metais preciosos do grupo da platina, como irídio (21 PPM), ródio (0,390 PPM) e paládio (5,9 PPM) — todos fundamentais para a indústria automotiva, médica e de energia limpa. Além disso, foram encontrados minerais críticos como gálio, vanádio, tântalo, nióbio, tungstênio, rubídio e rênio, além de uma concentração expressiva de 9% de potássio, importante para a agricultura.