AMAZÔNIA

Demarcação de terras indígenas pode reduzir doenças respiratórias e infecciosas em municípios, aponta estudo

Pesquisa internacional revela que a proteção legal das áreas na Amazônia diminui a incidência de doenças em municípios situados em até 500 km de distância

Vista aérea da Terra Indígena Yanomami (Foto: Bruno Mancinelle/Casa de Governo)
Vista aérea da Terra Indígena Yanomami (Foto: Bruno Mancinelle/Casa de Governo)

Um estudo internacional em parceria com pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) mostra que a proteção legal de Terras Indígenas (TIs) amazônicas traz benefícios diretos para a saúde humana, reduzindo doenças respiratórias, cardiovasculares e infecciosas em cidades situadas em até 500 quilômetros de distância. Os resultados foram publicados na revista científica Communications Earth & Environment, do grupo Nature.

A pesquisa, intitulada de Indigenous Territories can safeguard human health depending on the landscape structure and legal status (Territórios Indígenas podem salvaguardar a saúde humana dependendo da estrutura da paisagem e do estatuto jurídico, em português), reuniu instituições de oito países da região amazônica e analisou dados de 2000 a 2019. Foram investigadas 27 doenças: 21 relacionadas ao sistema respiratório ou cardiovascular e seis de origem zoonótica ou transmitidas por vetores, como malária, febre maculosa e hantavirose.

As conclusões apontam que, quanto menor a fragmentação das reservas e maior a proteção legal, menor a incidência dessas enfermidades. “As doenças caem à medida que os territórios são conservados e protegidos”, afirma Júlia Barreto, primeira autora do artigo.

Para a bióloga, a continuidade das TIs consegue inverter os malefícios associados às queimadas e à disseminação de zoonoses. “Os povos indígenas nos mostram caminhos mais saudáveis”, acrescenta.

Impacto das queimadas

incêndios florestais em Tepequém
Estiagem e queimadas atingiram o Norte de Roraima no início de 2024. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O levantamento identificou que 80,3% das doenças registradas na Amazônia durante o período estavam associadas a queimadas – quase 23 milhões de casos, entre os cerca de 30 milhões notificados. As partículas geradas pelo fogo, de aproximadamente 2,5 micrômetros, são tão pequenas que podem viajar centenas de quilômetros com o vento, atingindo populações muito além da área do incêndio.

“Um incêndio pode adoecer pessoas a 500 quilômetros de distância”, explica Paula Prist, coautora do estudo e coordenadora do programa de pesquisa Florestas e Campos da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Ela destaca que problemas respiratórios, como pneumonia, inflamações das vias aéreas e embolia pulmonar, aumentam em proporção direta ao crescimento dos focos de incêndio na Amazônia.

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Floresta como escudo sanitário

Além de mitigar a poluição do ar, as TIs funcionam como barreiras contra zoonoses. Áreas preservadas mantêm diversidade de hospedeiros silvestres, diluindo propagação de zoonoses, como a hantavirose transmitida por roedores, e doenças vetoriais, como a malária.

Já em áreas fragmentadas, animais e vetores se aproximam das populações humanas, ampliando os riscos de surtos. “Conservar ecossistemas e reconhecer territórios indígenas é uma forma direta de diminuir a chance de uma próxima pandemia”, afirma a coautora do estudo.

O reconhecimento das Terras Indígenas ajuda na proteção dos povos indígenas, da biodiversidade e da saúde da população. Foto: Retirada do artigo

Segundo as autoras, os efeitos positivos só são consistentes em territórios demarcados oficialmente. “O manejo sustentável indígena em áreas legalmente reconhecidas promove serviços positivos para a saúde. Sem o reconhecimento da terra, dificilmente esses serviços se mantêm”, avalia Prist.

Para Júlia Barreto, os dados mostram que a importância das TIs vai além da defesa do direito ancestral. “Agora temos mais um caminho possível para buscar direitos indígenas e ecossistemas saudáveis. Os efeitos não ficam restritos aos territórios, beneficiam toda a região amazônica”, conclui.

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