Observar de longe, respeitar o silêncio da floresta e nunca alterar o ambiente natural. Essas são as principais regras que o estudante de jornalismo e fotógrafo Carlos Rocha segue ao registrar animais silvestres em diferentes regiões de Roraima. Apaixonado pela fauna brasileira, ele mantém um perfil nas redes sociais dedicado exclusivamente à vida selvagem em seu habitat natural — e faz questão de diferenciar seu trabalho da crescente tendência de mostrar animais silvestres como “pets exóticos” ou elementos de entretenimento online.
“Nos meus registros, eu sempre tento retratar os animais na sua rotina, no habitat deles. Evito aproximações bruscas, barulhos, ou qualquer mudança no ambiente. Isso pode estressar o animal, atrapalhar na alimentação, na reprodução e, no caso das aves, até levar à morte de filhotes ou destruição de ovos”, explica Carlos.
“O ideal é manter sempre a distância. Se for necessário se aproximar, que seja de forma lenta e consciente. Quando falamos de cativeiro, aí sim, como no Bosque dos Papagaios, há animais que já não têm condições de voltar à natureza por causa da saúde, idade ou dependência de contato humano”, completa.
Campanha
A reflexão de Carlos vem em um momento em que o debate sobre o uso indevido de animais silvestres nas redes sociais ganha visibilidade nacional. O Ibama, em parceria com a WWF-Brasil, lançou recentemente a campanha “Se não é livre, eu não curto”, com o objetivo de alertar sobre os impactos da exposição desses animais como se fossem domesticáveis.
A campanha critica diretamente a prática de influenciadores e usuários que compartilham fotos e vídeos de animais silvestres vestidos, em posições humanizadas ou sendo tratados como bichos de estimação. Esse tipo de conteúdo, segundo especialistas, não apenas romantiza uma situação de maus-tratos, como também alimenta o tráfico ilegal de fauna.
Crimes ambientais
Segundo o Relatório Global sobre Crimes contra Espécies Silvestres, citado pela Agência Brasil, mais de 4 mil espécies foram encontradas em redes de tráfico entre 2015 e 2021, em 162 países. No Brasil, os dados da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) revelam que nove em cada dez animais traficados morrem ainda no transporte.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima também participa da iniciativa e informa que só em 2023, mais de 30 mil animais foram devolvidos à natureza após passarem por reabilitação em centros do Ibama.
Ao final, a campanha deixa um recado claro: expor animais silvestres como pets ou usar sua imagem para likes é, muitas vezes, contribuir com a exploração, o sofrimento e a destruição ambiental.
Se o animal não está livre, não é conteúdo — e não merece curtida.