Cotidiano

Médicos plantonistas criam escala para dormir em horário de serviço

‘Camograma’ foi criado por médicos anestesistas para instruir os enfermeiros de como devem acordá-los

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Conforme denúncia recebida pela Folha por um servidor, os médicos anestesistas que estão em horário de plantão no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré (HMINSN) dormem durante o horário de serviço quando um deveria estar de prontidão. Segundo o denunciante, os médicos querem que os enfermeiros os chamem, em caso de ocorrência ou cirurgia a ser feita, sem bater na porta ou errar a cama para não acordar o outro.

Um ‘camograma’ foi criado por um dos profissionais da equipe médica para instruir os enfermeiros de que maneira os médicos devem ser acordados. “Os médicos querem que a gente vá chamar na madrugada, quando tem alguma ocorrência ou cirurgia a ser feita, fica uma situação desconfortável para os enfermeiros. Não pode bater na porta ou errar a cama, eles querem que a gente se vire”, ressaltou o denunciante.

De acordo com o servidor, as responsabilidades das cirurgias e os problemas da maternidade são jogados aos enfermeiros. “Ainda tem o assédio moral que sofrem por uma parte da equipe médica. Chegam a chamar os enfermeiros de mico e burros, e até xingam eles. Da próxima vez vai rolar boletim de ocorrência em quem quer que seja”, disse.

Além da situação, o denunciante informou que não há maca, material para cirurgia, medicamento e até produtos de higiene. No caso da falta de algum membro da equipe de enfermagem por motivos de saúde ou férias, os profissionais da unidade têm que cuidar de cerca de 20 leitos. “Dependendo do bloco, são 40 pacientes, porque tem a mãe e o bebê. Como um profissional dá conta de 40 pacientes? Ninguém está nem aí. Eu mesmo trabalhei por diversas vezes doente”, frisou.

MAIS PROBLEMAS – Conforme denúncia, a estrutura do HMINSN também não fornece conforto ou segurança aos pacientes. Cerca de 500 a 600 cirurgias estão atrasadas e, para minimizar os dados, está sendo realizado um mutirão. “Ficam cerca de 15 pacientes no corredor, sentados em cadeiras esperando para operar. Às vezes a operação é feita apenas no dia seguinte. Superlota o hospital. Não tem vaga pra nada”, afirmou o denunciante.

“Quando chega a ambulância, não tem maca ou outro local para pôr o paciente, ainda que a maioria seja grávida. Não tem obstetra na pediatria e é incumbido ao papel da enfermagem resolver a questão. Mas se os enfermeiros estão acordados, tem que ter pelo menos um médico junto, não é?”, questionou.

Ainda conforme a denúncia, há meses não há torneira da medicação de soro, a chamada three-way. Segundo o relato, quando os enfermeiros estão sobrecarregados de paciente e não há mais membros da equipe disponíveis, é necessário cortar o tubo do soro de maneira errada. “Pode entrar uma bactéria, porque às vezes faltam muitos profissionais da equipe. Para você não passar a noite inteira trocando, você é obrigado a se submeter a essa atitude porque tem emergências mais graves a resolver”, ressaltou.

GOVERNO – A Secretaria Estadual de Saúde esclareceu, por meio de nota, que o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth é a única maternidade pública do Estado e que presta serviço de atendimento de emergência à mulher e está entre as unidades do País que possui maior volume de partos realizados. “Diante do grande fluxo de trabalho na unidade, não há tempo para grandes descansos, de modo que não procede a afirmação de que os profissionais dormem na unidade enquanto deveriam estar trabalhando. Todos os períodos de descanso ocorrem conforme previsto em lei”, informou.

“Por vezes, não conseguimos comer nem descansar, o que a lei nos permite. Em contrapartida, a enfermagem e os outros colaboradores do hospital têm a opção de dividir o horário na metade e nós nunca podemos descansar, já que, tecnicamente, não é possível que outro profissional execute tais procedimentos”, explicou a diretora técnica da Maternidade, Márcia Monteiro.

Durante plantões noturnos do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, existem 13 médicos de plantão, sendo: dois pediatras neonatologistas na UTI neonatal; quatro obstetras no Centro Obstétrico, onde são realizados aproximadamente 24 partos por dia, sendo 36% de incidência de cesarianas; além de dois obstetras na Emergência, um deles fazendo pronto atendimento e outro dando apoio às intercorrências nas enfermarias e realizando curetagens pós-abortos e laparotomias de emergência. Existem ainda dois anestesistas dando assistência a todas as cesarianas, curetagens, drenagens e laparotomias de emergência, segundo a Sesau. (A.G.M)

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