A empresária Dioneide Leite morreu na manhã de ontem em Puerto Ordaz, Estado de Bolívar, na Venezuela, depois de ficar nove dias em coma devido a ter tido pulmão perfurado durante procedimento de redução de seios e laqueadura realizado por um médico oncologista daquele país, Oscar Hurtato. Esse não seria o primeiro caso de morte envolvendo esse médico, que não teria especialização para este tipo de procedimento.
A vítima morava em Parintins, no Amazonas, mas era natural de Alenquer no Pará e tinha 36 anos. No dia 6 deste mês, após o procedimento, foi encaminhada desacordada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A notícia sobre a morte da paciente circulou em um grupo de WhatsApp destinado a mulheres interessadas em realizar cirurgias plásticas na Venezuela. A mulher saiu de Parintins em direção à Venezuela no dia 29 de agosto.
“Dioneide estava de bruços e, quando o médico a virou para continuar o procedimento no abdomem, viu que os lábios dela já estavam roxos”, comentou a administradora do grupo, que preferiu não se identificar.
Conforme a informação, a mulher teve o pulmão perfurado durante lipoaspiração.
Este não é o primeiro caso de pacientes brasileiras que morrem em decorrência de procedimentos cirúrgicos estéticos realizados em cidades venezuelanas. Em janeiro do ano passado, uma roraimense faleceu após complicações depois de uma plástica realizada em Ciudad Guayana.
Grupos do WhatsApp e redes sociais na internet têm sido usados para a divulgação de propagandas que oferecem cirurgias estéticas a preços mais baratos do que os praticados no Brasil. Existem, inclusive, pessoas que recrutam interessadas, oferecendo pacotes que incluem transporte, acompanhantes e até mesmo passeios para compras na Venezuela.
No entanto, profissionais especializados em cirurgia plástica alertam para os riscos no caso de o procedimento não ser realizado por especialista. Além do risco de morte, quando se procura um profissional não especializado na área, outras complicações podem ocorrer. Segundo o cirurgião plástico Antero Frisina, não vale a pena arriscar a vida somente pelo preço.
Ele disse ser importante a paciente buscar informações a respeito do profissional que irá operá-la e destacou a qualidade da formação médica no Brasil, que é fiscalizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Lembrou que os pacientes brasileiros podem consultar a formação dos cirurgiões plásticos no Conselho Federal de Medicina (CFM) ou no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Segundo ele, a instabilidade econômica da Venezuela favorece o preço da plástica realizada lá, e que esta situação tem feito com que muitas pessoas, principalmente as da Região Norte do Brasil, procurem a Venezuela para submeterem-se a tal procedimento, o que estimula médicos daquele país, não especialistas em cirurgia plástica, a realizarem os procedimentos estéticos, comprometendo o resultado.
“O pós-operatório deve ser acompanhado por um período de três meses. Antes e depois da cirurgia, deve ser realizado um rigoroso acompanhamento do paciente. Os exames apontam os indicadores do paciente e, em alguns casos, é necessário suporte de outros especialistas, como endocrinologista, no caso de pacientes com diabete. Contamos com esse aporte médico, com enfoque multidisciplinar, com uma visão holística e não apenas da cirurgia plástica”, informou.
O especialista explicou que o paciente pode viajar somente depois de 15 dias após a cirurgia. “Viajar nesse período aumenta os riscos de morbidade por trombose e embolia pulmonar. Ficar sentada, viajando por longos períodos, aumenta as chances de infecções, hematomas, seromas, necrose e outros tipos de complicações. Mesmo de avião, a pessoa operada não deve viajar por causa da altitude, da rarefação do ar, podendo ocasionar alguma piora”, orientou Frisina.
“O paciente se sujeita a riscos desnecessários. O que vemos são complicações muito mais frequentes, complexas e mais graves do que é esperado. A crise econômica naquele país [Venezuela] afeta a disponibilidade de insumos médicos, comprometendo a qualidade e a segurança da plástica. Já verificamos muitos curativos inadequados”, alertou o especialista.
Ele informou que no Brasil são realizadas cerca de 200 mil lipoaspirações por ano, e que no primeiro semestre de 2016 não houve nenhuma morte decorrente de procedimentos realizados por cirurgiões plásticos. Frisina afirmou que os profissionais brasileiros se especializam durante cinco anos, sendo dois anos em cirurgia geral e depois de cirurgia plástica. (A.D)