“Comecei com menos de R$ 50 e hoje é a jujuba de cupuaçu é minha maior fonte de renda” O relato é da empreendedora indígena Vera Lucy, de 54 anos, da comunidade indígena Kauwê, localizada em Pacaraima, no interior de Roraima. Ela é a mente e as mãos por trás do doce artesanal feito com cupuaçu, fruto que planta, colhe e processa junto com a família. O doce virou a principal fonte de renda da família e já cruzou fronteiras, levado na mala por turistas encantados com o sabor amazônico.
A ideia surgiu por necessidade. Em 2021, com a abertura da comunidade indígena ao turismo, Vera percebeu que apenas vender a polpa da fruta não dava retorno suficiente. “A gente planta, colhe, mas eu não conseguia manter o sítio só com isso. Foi quando decidi tentar agregar valor ao produto. Testei uma receita simples de jujuba de cupuaçu e deu certo”.
O início foi modesto: menos de R$ 50 investidos. A produção cresceu com o tempo, com divulgação pelas redes sociais e muito boca a boca. Hoje, ela atende encomendas de até 500 unidades, tem um ponto de retirada em Boa Vista e estrutura toda voltada para manter a produção funcionando.“Com o dinheiro da jujuba, paguei freezer, panela elétrica, liquidificador industrial, comprei tudo que precisava. E ela cobre todas as despesas do meu sítio”, contou.
Mesmo com a aceitação do público e o crescimento das vendas, Vera ainda enfrenta um desafio: não pode comercializar legalmente fora de Roraima. Isso porque, ao optar por manter a produção no ambiente da própria comunidade, a legislação atual restringe o alcance formal do produto. “A gente quer continuar produzindo onde começou tudo, mas ainda tem barreiras legais. Só que a gente está buscando caminhos pra resolver isso”, afirmou.
Mesmo assim, doce já chegou ao Japão, França, Dubais e…
Apesar das limitações, a jujuba já chegou a lugares que Vera Lucy jamais imaginou. Japão, Portugal, Suíça, França, Marrocos, Dubai, Texas. Em todos esses países, alguém provou o doce em Roraima e levou como lembrança. “Teve um suíço que apareceu na minha casa semana passada. Ele ganhou o pacotinho de presente em Paris, se apaixonou e decidiu vir até aqui só pra comprar mais. Você acredita?”
Como adquirir as jujubas?
As vendas são feitas por WhatsApp (95) 98122-5063 e Instagram @yuprimavera. Quando há estoque, os pacotes podem ser retirados no bairro Cidade Satélite, em Boa Vista. Quando não tem, a produção é feita sob encomenda. Dependendo da quantidade, o envio é feito por motoboy.
A produção é tocada por Vera e a filha mais nova, que aprendeu cada detalhe da receita e da rotina. Quando Vera precisa sair para eventos ou compromissos fora do estado, é a filha quem assume a linha de produção. “Ela faz igualzinho a mim. E é nela que eu penso quando falo em continuidade. Eu tô com 54 anos. Daqui a pouco, quem vai tocar tudo é ela”, afirmou.
O plano agora é crescer ainda mais. Vera já pensa em sair da categoria de microempreendedora individual e formalizar a empresa em outro nível. “A jujuba foi meu sustento, me ajudou a manter minha terra, meu sítio, e mostrar que a gente consegue viver do que planta. É só acreditar, fazer direitinho e não desistir”, concluiu.