Cotidiano

Jovem supera envolvimento com drogas com apoio da família e amigos

“Se eu tivesse a oportunidade me ajoelharia e pediria perdão a cada pessoa que fiz mal. Machuquei muita gente. Muitas pessoas ficaram traumatizadas ao sentir um revólver na cabeça. Quantas ainda lembram desta cena? Na minha cabeça passa um filme, e me dá

O ano era 2001. No auge da ação das gangues urbanas mais conhecidas como “galeras”, William, aos 11 anos de idade, experimentou maconha pela primeira vez, e depois passou para drogas mais pesadas e, consequentemente, veio o envolvimento com a criminalidade. Drogas, assaltos, tiro, cadeia.

A história de William não é muito diferente da de centenas ou milhares de jovens boa-vistenses que não sobreviveram à brutalidade do sistema. Pelo que ele conta, foi abandonado pelo poder público. A realidade dele poderia ter sido outra, se tivesse participado de projetos sociais.

Hoje, com 29 anos de idade, ele olha para trás e conta com detalhes a trajetória que percorreu. Há seis meses “limpo”, ele não tem vergonha de falar sobre o que viveu, das inúmeras tentativas de abandonar o vício e até de se suicidar.

“É fácil entrar neste mundo, mas muito difícil sair. Tudo começa com curiosidade, que vira diversão, até se envolver de uma vez com o tráfico de drogas para vender e sustentar o vício com dinheiro fácil, ostentar”, contou.

William lembrou que no início era só alegria, e aos poucos se tornou um tormento, virando tristeza e veio a depressão. Sem políticas de enfrentamento, ele achou que o caminho mais seguro era aumentar a dosagem da droga.

“Usei cocaína e crack, o que piorou minha situação. Estou vivo por um milagre, porque Deus tem um propósito na minha vida, não é por acaso. As drogas me levaram a trilhar caminhos ruins. Levei tiro em disputa de boca. Tentei me suicidar por enforcamento, com veneno e remédios, e por fim me joguei em frente a um carro em uma das ruas mais movimentas de Brasília e sobrevivi. Mas muitos amigos morreram, outros estão presos”, relembrou.

O arrependimento é um sentimento que o atormenta. “Se eu tivesse a oportunidade me ajoelharia e pediria perdão a cada pessoa que fiz mal. Machuquei muita gente. Muitas pessoas ficaram traumatizadas ao sentir um revólver na cabeça. Quantas ainda lembram desta cena? Na minha cabeça passa um filme, e me dá tristeza”, disse.

Ajuda de Deus

O apoio a pessoas como Willian vem de instituições ligadas à igrejas e das famílias, que muitas vezes precisam se desfazer dos poucos bens que têm para arcar com o tratamento.

“Além da minha família, o apoio incondicional para estar ‘limpo’ veio das comunidades terapêuticas. Como essas entidades são importantes neste processo de recuperação e o governo e a prefeitura não vê isso. Mesmo sem estrutura, fazem um trabalho com os dependentes químicos e auxiliam as famílias na medida do possível. Tenho certeza que muitos poderiam estar recuperados ou em processo de recuperação, mas as condições estruturais dessas entidades são poucas”, disse.

William já passou por mais de 20 comunidades terapêuticas e clínicas de recuperação. Na tentativa de ajudá-lo a largar o vício e sair deste submundo, a família o internou em uma clínica em Brasília, tudo mantido pela família e doações dos amigos.

A recaída, segundo ele, ocorre por vários fatores. Além da falta de compromisso do dependente químico, que tem que ter vontade de sair, falta o empenho da família e, principalmente dos governos estadual e municipal com políticas efetivas de combate e de recuperação dessas pessoas, com parcerias com as comunidades terapêuticas.

“Quem é e quem foi dependente deve evitar amizades e lugares da ativa. Precisamos do apoio da sociedade, da mão do Poder Público nos acolhendo. O beiral durante anos foi reduto de drogados e a Prefeitura e o Estado nunca se importaram com aquelas vidas”, ressaltou.

Além de não ter políticas efetivas o suficiente para combater este problema social, Willian destacou que sente falta do poder público em ações não governamentais. Ele já coordenou projeto em Casa Terapêutica e sabe quais as principais necessidades dessas entidades.