Cotidiano

Investigação acusa que desvio pode chegar a 5 milhões

O vice-presidente e um cooperativado foram presos por porte ilegal de armas durante a ação policial

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades

A Operação Tracto, deflagrada na manhã desta quarta-feira (30), pela Polícia Civil de Roraima (PCRR), cumpriu quatro mandados de busca e apreensões no município de Rorainópolis e em um condomínio localizado na zona leste da capital. Na ocasião, foram presos o vice-presidente da Coopebras, E.P.V, e o médico cooperativado D.W.Z, por conta de porte ilegal de três armas nas residências dos suspeitos.

O foco principal da operação que é continuidade da operação Hipócrates era o alto escalão da Cooperativa Brasileira de Serviços Múltiplos de Saúde (Coopebras). A ação foi coordenada pela Delegacia de Repressão a Crimes da Administração Pública (DRCAP), juntamente com a Divisão Especial de Combate à Corrupção (DECOR) e o Departamento de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública de Roraima (SESP/RR) . 

Na residência de E.P.V., na zona leste da capital, foi encontrado um rifle calibre 38 e 30 munições. Já na casa de D.W.Z., que fica na área rural de Rorainópolis, duas espingardas calibre 20 e munições foram apreendidas. Com o lavramento do flagrante e arbitrada a fiança, os dois foram liberados e responderão o processo em liberdade.

O delegado geral da PCRR, Herbert de Amorim, pontua que, apesar de haver o cumprimento de busca e apreensão, se há a existência de outro delito, como o caso da posse ilegal de armas, a prisão em flagrante pode ser feita. “Por isso os dois suspeitos foram levados à delegacia”, disse.

A titular da DRCAP, Magnólia Soares, explicou que foi feita a busca de materiais, como escalas de plantão e CPUS, para saber quem de fato estava cumprido sua carga horária, e citou que as buscas ocorreram no Hospital Regional Sul de Rorainópolis, em uma clínica no município e na residência de um dos médicos presos pela operação.

“Agora a equipe vai analisar toda essa documentação e dar prosseguimento às investigações, que correm em sigilo, mas a gente acredita que esse levantamento vai somar com o que a gente já tem, que é uma sobreposição de pagamentos de carga horária não cumprida no Estado”, frisou Magnólia.

SEM SABER – As investigações apontam que o Governo de Roraima pagou indevidamente, ou seja, sem ter conhecimento das cargas horárias não cumpridas, um superfaturamento de cerca de R$ 5 milhões. Vale ressaltar que, por ter um contrato em vigência com a Coopebras, o poder executivo continua realizando os pagamentos à cooperativa.

A polícia também trabalha com a informação de haver funcionários da empresa trabalhando em outros estados, com ganhos de até R$ 45 mil.

O delegado geral da PCRR, Herbert de Amorim, esclareceu que a atual gestão estadual não tinha noção de como funcionava as finanças da empresa, já que eles se responsabilizavam pelas planilhas de horários e escalas de médicos a serem enviadas para Secretaria de Saúde de Roraima (Sesau) e que os supostos crimes ocorreram dentro da Coopebras.

João Evangelista, delegado da DRCAP, reforça que o material apreendido será analisado. “Em parceria com o Tribunal de Contas, queremos entender como é o mecanismo de atuação desse grupo, lembrando que não são todos, mas uma parcela desses médicos, aliado a outras pessoas da administração da cooperativa, é que vem resultando nesse desvio de dinheiro público”, expôs.

As investigações apontam que há a participação de contadores e administradores do conselho administrativo, além do núcleo de não-médicos da Coopebras no suposto esquema. Porém, não há ainda nenhum fator que aponte para pessoas de fora da cooperativa envolvidas no desvio.

“O que pode acontecer é que, com o aprofundamento da investigação, seja detectado que pessoas ligadas às gestões anteriores estejam envolvidas, inclusive no que se trata da renovação do contrato. Ainda não chegamos nesse nível de investigação”, completou o delegado Evangelista.

A delegada da DRCAP confirmou a continuação das investigações e diligências – caso seja necessário, em outros municípios de Roraima – conforme avançam os estudos no material apreendido nas fases Hipócrates e Tractos. “Se houver necessidade, nós a faremos”, acrescentou.

APURAÇÃO – Os trabalhos de investigação em cima da empresa, criada em 2011, começaram em janeiro de 2019 e abrangem o período de 2016 até esse ano, quando foi observada uma sobreposição nos pagamentos e em horários. “Nós reparamos que a maior parte das irregularidades estava concentrada do ano passado pra cá e é aí que estamos concentrando nossa linha de investigação”, relatou o delegado Evangelista.

O delegado geral da PCRR, Herbert de Amorim, deixou bem claro que esse esquema envolvendo o nome da Coopebras agrava ainda mais a delicada situação em que se encontra a saúde do Estado.

“Esse crime é tão repugnante porque ele causa mortes. Você vê todo dia gente morrendo por falta de estrutura e médicos. Quando tem esse desvio e você paga milhares de reais por um profissional que não está prestando o serviço, é você, sou eu, a nossa família que se prejudica com isso. Então ele é tão grave quanto qualquer outro delito”, criticou Amorim. 

OUTRO LADO – Em nota, o Governo de Roraima, por meio da Sesau, disse ver com bons olhos as ações que foram executadas na manhã desta quarta-feira, dia 30, durante a Operação Tracto. A Sesau assegurou o compromisso de auxílio nas investigações. 

A nossa equipe também pediu à Coopebras um posicionamento sobre a Operação Tracto, que investiga os atos de corrupção ocorridos na cooperativa, mas até o fechamento dessa matéria, não houve retorno por parte da empresa.