Cotidiano

Indígenas engrossam movimento grevista

Dois mil índios reunidos na Praça do Centro Cívico, na Marcha dos Povos Indígenas, pediram melhorias na educação estadual

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Professores e alunos de cerca de 265 escolas indígenas que compõem as instituições de ensino administradas pelo Governo do Estado e ofertam educação escolar a mais de 15 mil estudantes de diversas comunidades aderiram à greve dos professores na Capital e paralisaram as atividades nesta segunda-feira, 10 (veja matéria na página 06A).

Aproximadamente dois mil índios de 230 comunidades e dez etnias, entre coordenadores regionais, tuxauas, professores, estudantes e demais lideranças participaram da mobilização na Praça do Centro Cívico. Eles vieram para a cidade por causa da IV Marcha dos Povos Indígenas, em alusão ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9 de agosto.

Na pauta de reivindicações, os índios protestaram contra a decisão do Governo do Estado que retirou a Educação Indígena do Plano Estadual de Educação (PEE), enviado para apreciação na Assembleia Legislativa. Houve também a cobrança pelo cumprimento da Lei 892, que trata do Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações dos servidores da Educação Básica de Roraima (PCCREB).

Segundo o coordenador da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr), Misaque Antone, a falta de estrutura, merenda e transporte nas escolas tornou a situação insustentável dentro das comunidades. “A educação está um caos nas áreas indígenas. As escolas não oferecem estrutura e os alunos não têm merenda e nem transporte. Não dá mais para a gente prosseguir dando uma boa aula sem material de apoio, e é isso que viemos reivindicar”, afirmou.

Ele anunciou que todas as escolas indígenas entraram em greve e contam com o apoio dos professores da Capital, que também estão de braços cruzados. “Quero ver a secretária [Selma Mulinari] ter coragem de demitir todos os professores. Convocamos e pedimos apoio dos profissionais em educação da Capital. Viemos de longe para lutar e conseguir que nossas reivindicações sejam atendidas, caso contrário iremos permanecer em greve”, disse.

A marcha percorreu ruas centrais de Boa Vista, tendo como destino a Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed), na tentativa de protocolar um documento e manifesto dos indígenas, mas não foram recebidos pela secretária. Em seguida, os índios foram até o Palácio Senador Hélio Campos, onde coordenadores das organizações indígenas, Conselho Indígena de Roraima (CIR), Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (Omirr) e Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) protocolaram o documento.

Além de melhorias nas escolas, os indígenas pedem a saída da titular da Seed, Selma Mulinari, pelo não cumprimento de acordos feitos com a categoria. “Temos um plano de educação e a proposta do governo é retirar as escolas indígenas. Pedimos respostas, mandamos várias propostas para a secretária para que se mantenha o plano original”, disse o presidente do CIR, Mário Nicacio.

Estudante do 3º ano do ensino médio em uma escola da comunidade Maturuca, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no Município de Uiramutã, a Nordeste de Roraima, Josué de Lima classificou como grave a situação das unidades de ensino na localidade. “Não temos estrutura, não temos merenda e nem material didático. O governo não entra em acordo com os nossos professores e viemos aqui para garantir nosso direito à educação”, ressaltou.

SECRETÁRIA – Principal alvo dos indígenas, que exigem a saída da Secretaria de Educação, a titular da pasta, Selma Mulinari, afirmou que recebeu as escolas da gestão anterior sucateadas. “É preciso que se diga que não podemos fazer milagres. Para reestruturar o processo educacional é preciso que haja a revitalização das unidades e a capacitação de professores e gestores”, destacou.

Disse que foi feita reunião com o grupo de indígenas, que ficaram de formar uma comissão para rediscutir a questão do plano. “O que fizemos foi normatizar os 20 itens que constam no Plano Estadual de Educação, mas qualquer pessoa pode fazer sugestão para mudar”, frisou.

Questionada sobre o pedido de exoneração do cargo, Mulinari disse que “não caiu de paraquedas” na Seed. “Sou professora de carreira, tenho 30 anos dentro dessa secretaria. Tenho especialização e mestrado, não caí de paraquedas, como muita gente pensa, e tenho capacidade para estar aqui”, frisou. (L.G.C)

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