CAMILA COSTA
Colaboradora da Folha
O garimpo ilegal continua sendo uma prática frequente em áreas indígenas. Na semana passada, familiares denunciaram para a Folha o desaparecimento de cinco garimpeiros que estavam atuando na região do Homoxi, na Terra Indígena Yanomami, no Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste de Roraima, há aproximadamente cinco meses.
Depois que a Fundação Nacional do Índio (Funai) negou a existência do caso, a Hutukara Associação Yanomami confirmou a denúncia. “Os garimpeiros estavam em festa, alcoolizados, e ameaçaram os Yanomami daquela região. Eles [índios] se reuniram e tomaram as providências. Os garimpeiros foram mortos”, afirmou Dário Yanomami, diretor da Hutukara.
Ingrid Carreiro, 20 anos, filha de um desses garimpeiros, Raimundo Oliveira, de 47 anos, na segunda-feira, 07, formalizou denúncia junto ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR). Os familiares, além de irem ao MPF, também procuraram a Funai para pedir esclarecimentos. No entanto, não conseguiram contato com nenhum responsável, muito menos entrar no órgão.
“Sabemos que o garimpo é uma prática ilegal, mas a única coisa que estamos buscando é ajuda das autoridades competentes para trazer os corpos e poder enterrar”, disse a respeito da visita ao MPF, que fez em companhia de familiares das outras vítimas. O órgão deu um prazo de no mínimo sete dias para dar posicionamento.
Dário Yanomami, por sua vez, afirmou que os corpos dos garimpeiros foram cremados, após receber a informação dos indígenas da região via radiofonia. A região do Homoxi abriga cerca de 800 indígenas, mas o diretor da entidade indígena não sabe quantos foram responsáveis pela matança. “Nós pedimos providências às autoridades contra o garimpo há muito anos. Nosso território é demarcado, está na instituição, e o problema não acaba”, enfatizou.
Ingrid, que é filha única, disse que soube da chacina na sexta-feira passada, 04, através de outro garimpeiro, que responde pelo apelido de “Bolacha”. Segundo ela, essa pessoa foi até o local do garimpo no dia anterior às mortes para levar mantimentos. “Quando ele chegou, foi recebido pelo tuxaua da comunidade, que se chama Emílio, e outros índios. Esse tuxaua disse que não adiantava mais chamar ninguém, porque ele mesmo já havia mandado todos para o ‘céu’”, relatou.
“Bolacha” também contou aos familiares que foi ameaçado na região e, quando retornou à Capital, voltou a ser ameaçado, só que dessa vez por um líder indígena local. “Ele não chegou a falar o nome desse líder. Depois disso, o ‘Bolacha’ simplesmente desapareceu. Está com o telefone desligado, não está no endereço onde mora, simplesmente sumiu”, frisou.
FUNAI – A Folha entrou em contato com a Funai, que por sua vez afirmou que hoje fará um voo de rotina sobre a região e que a partir daí poderá dar algum posicionamento.
MPF – O MPF enviou um e-mail: “Informamos que existiu, sim, uma denúncia formalizada e que o MPF já abriu procedimento para apurar os fatos. No momento, está em curso a fase de investigação do procedimento, com os órgãos responsáveis parceiros tendo adotado as devidas providências. O MPF só se pronunciará após concluídas as investigações”.
PF – A Folha também procurou a Polícia Federal (PF) para saber se houve algum inquérito aberto, mas a instituição afirmou que esse é um assunto de competência da Polícia Civil do Estado. A Polícia Civil também foi procurada, mas afirmou que não está a par da situação e que isso é de responsabilidade de órgãos da União.