Idealizado a partir da necessidade de criadores de gado em abater o rebanho em local seguro conforme as normas da vigilância sanitária, o Frigo 10 está em funcionamento há dois meses. Ontem, 25, o empreendimento localizado no quilômetro 482 da BR-174 sul, na zona rural de Boa Vista, foi apresentado aos jornalistas.
Foram investidos quase R$ 40 milhões para construção e aparelhamento do frigorífico, que é um dos mais modernos do país. O empresário e agropecuarista Antônio Denarium, sócio-presidente do Frigo 10, lembrou que a semente do empreendimento foi a falta de um local adequado para abate de gado, uma vez que o Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafirr), não atendia mais a demanda e não tinha capacidade de abate.
“Nesses dois meses de funcionamento, mudamos a realidade da produção de bovinos de Roraima. O nosso rebanho gira em tono de um milhão de cabeças e, por mês, abatemos cerca de 10 mil animais. Desse total, 30% iam vivos para Manaus. Tínhamos que pagar um frete para caminhão. Agora com o abate aqui, isso reduziu o custo da produção”, observou.
Segundo Denarium, a pecuária roraimense ficou estagnada por muito tempo devido à falta de uma indústria para o abate. Por causa disso, cerca de dois mil bois eram vendidos todo mês para o Amazonas, onde eram abatidos.
“Foi por isso que tivemos a ideia de construir o Frigo 10. Foi justamente para suprir a demanda, mas o importante é que quem ganhou mesmo foi o nosso consumidor, que hoje tem uma carne com mais qualidade e certificação nacional”, frisou.
Frigo 10 tem capacidade para abater até 80 bois por hora
O Frigo 10 é o matadouro mais moderno do Brasil com capacidade para abater até 80 bois por hora. O empreendimento atualmente está gerando cerca de 100 empregos diretos. Com a segurança no abate, Antônio Denarium acredita que o matadouro vai atrair novos investidores para o Estado em curto prazo.
“Hoje, com o Frigo 10, nosso modelo de produção integra agricultura e pecuária. Plantamos determinada cultura e colhemos. Depois, plantamos capim que vira pasto. É um ciclo de culturas que no final ainda recupera áreas de pastagens degradadas, tudo de acordo com as leis de proteção ambiental”, observou o empresário.
Nesses primeiros meses, o Frigo 10 está produzindo de olho nos mercados local e regional. A ideia para o futuro é abastecer o mercado do país vizinho, a Venezuela, que é o 4º maior importador de carne do Brasil e o primeiro importador de boi vivo.
“A carne vinha de Rondônia e os bois vivos do Pará. E nós, ao lado deste grande mercado consumidor, não podíamos nem tínhamos como vender nossa carne, nem o animal vivo, porque havia restrição de febre aftosa e o Mafirr não dá conta. Mas agora com o Frigo 10 funcionando e Roraima já com status livre de aftosa, estamos com poder de competitividade no mercado, assim que nosso rebanho começar a crescer”, frisou.
Processo de abate pode durar até 36 horas
O médico veterinário Carlos Bocehi, diretor do Frigo 10, explicou o processo de abate. O gado primeiro fica em um curral, onde é inspecionado por técnicos de órgãos de vigilância sanitária. Depois de aprovado, o boi segue para outro curral, onde toma banho antes de ir para o abate.
Do setor do abate sujo, o gado começa então a passar por vários processos de corte de carne, limpeza e seleção de miúdos. Mas primeiro entra na área de buchação, onde o bucho do animal é limpo. Depois, o gado vai para a área do mocotó e miúdos. No setor de miúdos, o bucho é resfriado ainda em movimento. O couro já ficou em outro setor.
Primeiro o boi recebe dois cortes transversais e desce para a câmara de resfriamento, onde é partido em seis pedaços, dois traseiros, dois dianteiros e duas pontas de agulha. “O processo é contínuo e pode durar até 36 horas, do abate até a venda da carne, que pode ficar estocada por até um ano”, ressaltou.
Há três câmaras de resfriamento com capacidade para armazenar até 160 bois abatidos, cada. Dependendo da produção, há mais duas a serem utilizadas.
O frigorífico tem uma rede de tratamento de água e fluentes, e todo o esgoto é de inox. Tudo de acordo com as normas da Vigilância Sanitária. O maquinário da fábrica é de última geração e todo automatizado. A sala de máquinas, que abriga três potentes compressores, funciona como o coração do Frigo 10, porque é de lá que saem todos os comandos. Ao lado do frigorífico, tem outra indústria que manufatura osso, chifre e couro.
“O que é legal também dizer é que todo este investimento foi feito porque acreditamos no potencial desta terra. O que podemos comprar aqui, nós compramos. Este frigorífico tem um dos melhores sistemas de abate do mundo. Nossa carne sai daqui com o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal)”, frisou o diretor. (E.S)