Cotidiano

Gestantes passam a viver com medo por causa da microcefalia

Com os riscos de bebês nascerem com microcefalia por causa do zika vírus, gestantes passaram a viver um drama para se protegerem

A possibilidade de ter um filho com microcefalia ou com problemas neurológicos tem deixado muitas gestantes sem sono em todo o país. Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a ligação da doença com o zika vírus, em dezembro do ano passado, as futuras mães redobraram os cuidados em relação ao mosquito Aedes aegypti.

Apesar de Roraima ter apenas um caso da doença confirmado pelo Ministério da Saúde, a notícia tem assustado as grávidas. Temendo complicações em sua gestação, considerada pelos médicos como de alto risco, a jornalista Ana Cláudia Bastos, que espera o primeiro filho, relatou que faz de tudo para não ser picada pelo mosquito.

“Eu sempre fui muito cuidadosa com a minha saúde e isso se intensificou depois que descobri que estava grávida. Não vivo sem repelente, e sempre borrifo a minha casa com veneno à base de água para matar os insetos”, explicou. Além destes cuidados, ela afirmou que usa apenas roupas longas. “Quanto mais coberto o corpo, menos espaço para o mosquito picar. Mesmo dentro de casa sempre estou de calça jeans e blusas de manga longa”, disse.

Apesar de todos esses cuidados, Ana Cláudia afirmou que já encontrou o Aedes aegypti dentro de casa. Ela relatou que no momento se apavorou. “Estou tranquila quanto à microcefalia, pois estou em uma fase da minha gestação em que ela já foi descartada, mas esta não é a única doença que o mosquito transmite, o bebê ainda pode desenvolver problemas neurológicos e até mesmo de visão”, destacou.

Para evitar complicações devido à gestação de alto risco, ela frisou que quando está em casa não sai do quarto. “Eu preciso ficar em repouso direto, evito até mesmo cozinhar. O bom é que neste ambiente o risco de eu ser picada é menor”, afirmou.

A funcionária pública Sandra Almeida está no quinto mês de gestação. Ela relatou que mudou alguns hábitos para evitar ser contaminada pelo mosquito. “Eu não gostava muito, mas passei a dormir com mosquiteiro, pois como moro em uma região próxima a um matagal, todo cuidado é pouco”, declarou.

Sandra disse que deixou de frequentar sítios, praias e balneários. “Apesar de não ter sido registrado nenhum caso no interior de Roraima, a quantidade de mosquitos nestas regiões é maior do que na cidade. Nos finais de semana mais quentes a tentação é grande, mas penso no bem maior, que é o meu filho”, disse. (I.S)

Médico alerta para mitos sobre o zika vírus

Com a grande penetração da internet e das redes sociais, muitos boatos sobre qualquer tema se espalham rapidamente. Logo que o zika vírus foi descoberto no Brasil, diversas teorias sobre a microcefalia começaram a surgir, assustando aquelas que podem ser afetadas pela doença: as gestantes.

O presidente do Conselho Regional de Medicina em Roraima (CRM-RR), Alexandre Marques, informou que um dos mitos mais comuns é que o zika vírus pode ser transmito por fluídos corporais, como o sêmen, sangue e o próprio leite materno. “A doença só pode ser transmitida por meio do mosquito. Muitas pessoas devem ter ficado paranóicas com essas notícias, mas é importante alertá-las que em qualquer caso de dúvida a recomendação é procurar um médico ou um profissional da saúde em uma unidade básica”, disse.

Ele frisou ainda que, antes de propagar qualquer informação sobre a doença, a recomendação é averiguar os fatos. “Não vale a pena espalhar o terror entre as grávidas e em qualquer outra pessoa com informações falsas. É sempre bom verificar tudo antes de passar adiante”.

Acompanhamento médico e pré-natal são as principais recomendações às grávidas

A principal recomendação para gestantes neste período de incertezas em relação à microcefalia e doenças relacionadas ao zika vírus é o acompanhamento médico por meio do pré-natal qualificado e a realização de todos os exames previstos nesta fase, além de relatarem aos profissionais de saúde qualquer alteração que perceberem durante a gestação.

A coordenadora-geral da Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Daniela Souza, explicou que também é importante que as gestantes reforcem as medidas de prevenção ao mosquito Aedes aegypti, com o uso de repelentes indicados para o período de gestação, uso de roupas de manga comprida e todas as outras medidas para evitar o contato com mosquitos, além de evitar o acúmulo de água parada em casa ou no trabalho.

“Até o momento, a maioria das gestantes cujos bebês desenvolveram a microcefalia tiveram sintomas do vírus Zika, principalmente no primeiro trimestre da gravidez. Mas o cuidado para não entrar em contato com o mosquito Aedes aegypti é para todo o período da gestação”, acrescentou.

COMBATE – Para avançar no combate ao mosquito Aedes aegypti – transmissor da zika, dengue e chikungunya – e barrar o avanço das doenças transmitidas por este vetor, a Sesau instalou a Sala Estadual de Coordenação e Controle para o Enfrentamento à Microcefalia, com envolvimento de pelo menos 12 órgãos e entidades no combate ao Aedes aegypti e às doenças transmitidas por ele.

A sala funcionará com o monitoramento constante dos indicadores do Aedes aegypti e dos casos de zika e de microcefalia. Todas as quintas-feiras, às 8h30, os representantes dos órgãos envolvidos se reúnem para avaliar o quadro atual e as ações já realizadas, além de definir diretrizes para a próxima semana.

Daniela destacou que a Sesau irá adquirir 28 motocicletas para auxiliar no trabalho dos agentes de endemias. Para atingir a meta, que é visitar 100% dos imóveis, eles precisam deste tipo de transporte para chegar às vilas mais distantes da sede. “Também serão entregues 300 kits de EPIs, compostos por roupas, óculos, máscara, luvas, lanternas, bem como todo o equipamento necessário para garantir a segurança dos agentes durante a pulverização de larvicida”, disse.

A aplicação do produto será feita por meio de 80 bombas costais que também estão contidas nos lotes a serem entregues pelas empresas e que serão distribuídas aos municípios conforme a necessidade de cada um. Estas bombas são mais eficientes que a utilização do carro fumacê, pois com o aparato móvel, os agentes entram nos imóveis, aplicando veneno diretamente nos criadouros. Com esta modalidade, é possível combater a larva, enquanto o fumacê se aplica ao mosquito adulto.

Além disso, será aumentada a quantidade de carros fumacê de 7 para 10 unidades. O diagnóstico de eventuais casos de microcefalia ganhará reforço com a aquisição de dois aparelhos para ultrassonografia, que é a única forma de detecção da doença ainda durante a gestação. (I.S)