Cotidiano

Franquias são chances de comprar marcas e estudos de mercado

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

Muita gente sonha com o negócio próprio, mas não tem ideia de por onde começar, ou acaba atropelando a fase de estudo de mercado e avançando direto para a prática, o que pode resultar em negócio malsucedido. Mas as franquias podem ser a oportunidade perfeita para quem não pretende perder tempo com erros, pois oferecem estratégias, experiências e um nome com aceitação no mercado.

Gildo Júnior apostou neste modelo de negócio em 2011 e trouxe para Boa Vista a empresa especializada em depilação “Não + Pelo”. A franquia surgiu em 2007, na Espanha, e chamou atenção por oferecer fotodepilação por um preço diferenciado. Hoje, possui mais de 1.200 lojas espalhadas por todo o mundo.

“Quando trouxemos a franquia para Roraima, estava recém-lançada no País. Por isso, o preço era mais acessível. A grande jogada é esta: encontrar franquias novas que ainda estão baratas para poder ter acesso”, afirmou Júnior.

De acordo com o franqueado, o maior questionamento das pessoas é sobre quem é de fato o chefe. Ele contou que ouviu diversas vezes que era um funcionário do franqueador (empresa que cede a marca) e não o dono do próprio negócio. Isto porque a liberdade de uso da marca é limitada, como os preços cobrados e procedimentos de trabalho.

Acontece que uma franquia é uma empresa já estabelecida no mercado, ou seja, já estudou os clientes, marketing e a própria mercadoria. E entende a melhor forma de vender o produto. É justamente este estudo que é cedido ao franqueado (quem paga para usar a marca) e por isso a obrigação em seguir à risca.

“Quando você vai montar um negócio próprio, é preciso pesquisar, correr atrás e muitas vezes não se conhece o mercado. Mas quando entramos em uma franquia, tudo isso já é dado mastigado: estratégia de vendas, política comercial, etc. A grande vantagem que eu vejo é que toda a experiência que quem está lá em cima tem, é compartilhada conosco”, explicou Gildo Júnior.

VALORES – O valor inicial de investimento varia de acordo com o tamanho da marca. Na última feira de franchising que ocorreu no País, em 14 de fevereiro, as marcas expostas tinham preços de taxa de franquia que variavam de R$ 1 mil a R$ 4 milhões. O economista Dorcílio Erik explicou que os preços menores são porque, embora haja o estudo de mercado, ainda não há segurança no investimento, pois as marcas ainda não estão firmadas. E aconselhou a estudar o produto e o cenário antes de investir.

Quando se cobra um valor menor é porque o produto ainda não está maduro, ainda não há segurança de dar um mínimo de risco possível. É preciso ter o cuidado para saber se o produto que é vendido lá no grande centro do País, vai ter a mesma aceitação aqui. Não adianta pegar uma empresa de casaco de frios porque o cara está cobrando pouco, mas não vai ter aceitação aqui.

CONTRATOS – Os contatos possuem duas taxas, uma para que a marca seja cedida, que geralmente é paga a cada cinco anos, caso haja interesse das partes em renovar, e uma mensal, que pode ser de valor fixo ou de royalties, em que um percentual é cobrado em cima do faturamento do franqueado. Conforme a marca cresce, os valores podem ser modificados mesmo quando a franquia já foi cedida.

“Há oito anos, quando começamos a “Não + Pelo”, pagamos R$ 110 mil em tudo: taxa de franquia, equipamento, o enxoval de móveis. Mas quando montei a segunda unidade em um shopping, o meu investimento foi muito maior, cerca de R$ 350 mil, porque temos novos equipamentos e uma taxa de franquia mais alta”, contou Gildo Júnior.

Alimentação é uma das melhores alternativas para investimento

De acordo com a Associação Brasileira de Franquias, em 2018, as marcas com melhores resultados foram do setor de alimentação. As franquias de alimentação cresceram 8,1% de junho a agosto em comparação com o trimestre anterior, com um faturamento de R$ 11,8 bilhões. O segmento da culinária asiática teve um desempenho ainda melhor, registrando expansão de 9% no mesmo período.

O economista Dorcílio Erik explicou que o mesmo cenário pode ser aplicado a Roraima, mesmo em um momento de crise. De acordo com ele, os supermercados vendem produtos básicos e por isso continuam faturando em tempos de crise.

Erik também lembrou que em Roraima a economia funciona em prol dos servidores públicos e estas pessoas não sentem o mesmo impacto do que as dependentes do setor privado, logo, as empresas que investem em lazer e prazer sentem um impacto menor.

“Os servidores continuam assegurando capacidade de consumo para os supermercados, restaurantes e até lojas de grife. Por mais que atrase o pagamento dois ou três meses, há uma segurança de que irão receber e não há a menor possibilidade dos efetivos perderem o emprego”, comentou o economista.

A cidade é pequena, vale a pena investir?

Em 2014, quem em vivia Boa Vista questionava se havia chances de dois shoppings se manterem de pé na capital. A situação parecia não fazer sentido nem ter justificativa, mas a verdade é que um investidor precisa ser visionário, pensar em possibilidades econômicas para o futuro. Hoje, os shoppings estão sempre cheios e continuam se mantendo, mas ainda não trabalham com total capacidade.

“Até hoje, há espaços vazios nos dois shoppings, o que quer dizer que não estão trabalhando em plena capacidade. Mas, planejando um cenário futuro, há sim possibilidade para os dois funcionarem simultaneamente”, analisou Dorcílio Erik.

A resposta para a questão inicial é: sim, vale a pena investir em Boa Vista, mas é preciso pensar no futuro e estudar bem o público para o qual o produto é voltado (idade, poder aquisitivo, gênero…) e as possibilidades de cenário futuro.

Prós e contras para investir em Roraima

Dorcílio Erik afirma haver duas questões que retraem os investimentos em Roraima atualmente: a matriz energética e a corrente na BR-174. O economista afirmou que não tem dúvidas de que essas questões serão resolvidas, pois há um alinhamento entre os governo federal e estadual quanto a estes pontos.

“Resolvendo estas questões, nós seremos altamente atrativos porque estamos próximos dos mercados consumidores para exportação, tanto a Venezuela, que em um breve período vai resolver a questão política, como a Guiana”, explicou o especialista.

Sobre a imigração venezuelana, o economista explicou que embora traga esgotamento para os serviços públicos, a situação também oferece mão de obra barata, o que atrai investidores. Erik usou como exemplo o Modelo de Sólon, teoria que lista o nível de investimento, de poupança e a disponibilidade de mão de obra como matrizes para o desenvolvimento econômico.

“A imigração está oferecendo, no mínimo, excesso de mão de obra barata. Quando se aumenta o número de trabalhadores e os empregos não aumentaram na mesma proporção, os salários são os mais baixos possíveis. É ruim para quem vende a força de trabalho, mas para o empresário aumenta o lucro e, consequentemente, os investimentos, porque o dinheiro arrecadado não fica parado”, comentou. (F.A)