Cotidiano

Fora do padrão, calçadas causam transtornos para deficientes

Em diversos bairros, a construção de calçadas tem chamado atenção por não estarem totalmente adequadas para cadeirantes e não seguirem o mesmo modelo nos lugares

A possibilidade de ir e vir dentro de uma cidade faz parte do plano básico da mobilidade urbana. Ter espaço acessível para todos é uma possibilidade de inclusão e facilitar a locomoção dos cidadãos. Entretanto, para alguns, o sentimento é que toda essa questão está sendo elaborada sem o devido planejamento para atender quem mais precisa.

Há oito anos, um acidente de moto mudou a vida do administrador Luiz Otávio Seabra. Paraplégico desde então, o funcionário público relata que diariamente passa por dificuldades para conseguir se locomover com a cadeira de rodas em Boa Vista. Por mais que as calçadas estejam disponíveis, o padrão exigido por normas técnicas não facilitam nesse processo.

“Tem calçada com muito buraco ou às vezes temos que descer para a rua porque a calçada está incompleta e aí temos que disputar o espaço nas ruas com os carros. Em algumas rampas, para quem não tem tanta força nos braços, não consegue porque tem o perigo de cair de costas”, contou. Além dos problemas nas calçadas, o cadeirante diz que a falta de acessibilidade se estende para paradas de ônibus que não possuem rampas ou, quando possuem, são muito íngremes.

O administrador revelou que tem o conhecimento de outros cadeirantes que preferem não sair de casa por conta das dificuldades que vão enfrentar nas ruas. Quem não tem muita força nos braços geralmente precisa de ajuda de outras pessoas para andarem nos locais. “Se não tiver ninguém para ajudar, fica parado ali esperando uma ajuda e às vezes não aparece ninguém”, enfatizou.

LEIS – Seabra desabafou que há muitas leis para a mobilidade urbana, principalmente para pessoas com deficiência, mas que muitas não são respeitadas como deveriam. Ele justificou que há normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que regulam as inclinações das rampas, porém, na maior parte dos casos, são ignoradas.

“É complicado porque nós somos os fiscais, mas não temos tanta força. Uma voz sozinha não tem tanta força como uma instituição governamental. Geralmente estamos sozinhos porque o Governo passa por cima dessas leis e a gente cobra que cumpram, essa é uma das nossas frustrações”, desabafou.

O psicólogo Weslen Lima, que também é cadeirante, relatou que toda situação é uma falta de consideração com a qualidade das obras que são feitas e destacou que os pontos de ônibus são inadequados para eles, pois as portas não abrem automaticamente e exige outro esforço, tanto para entrar quanto para sair do local.

Vereador cobra transparência nos projetos de obras

Em diversos bairros de Boa Vista, obras para a implantação de calçadas pela Prefeitura de Boa Vista estão ocorrendo ao mesmo tempo. Contudo, segundo apontou o vereador Prof. Linoberg (Rede), a cidade não tem uma lei de padronização para essas obras de calçadas, o que acarreta em uma diferença de tamanho em vários locais.

“Encontramos diversas calçadas que não estão dentro dessa metragem da norma técnica. Além disso, vimos árvores de até dois metros de altura sendo mortas pelas calçadas porque o cimento está indo até o caule, sufocando a raiz”, explicou. O parlamentar ressaltou que também constatou obras de calçadas acontecendo ao mesmo tempo com obras de drenagem nas ruas, o que está causando a cobertura da grelha para escorrer águas das chuvas. Um dos pontos que poderia resolver toda a situação é a atualização de um Plano Diretor por parte do Executivo municipal.

De acordo com o parlamentar, o Plano Diretor é feito através de audiências públicas para o planejamento da cidade. Boa Vista teve um Plano Diretor anteriormente, mas que há três anos deixou de existir por falta de apresentação de projeto para votação por parte do Executivo. “O que a gente tem feito é fiscalizar e cobrar do Executivo porque está fazendo uso do dinheiro público em coisa que estava errada que depois vai ter que refazer e, se não tem padrão, por que está quebrando calçadas de pessoas que já tinham calçadas?”, questionou.

Linoberg apontou que já procurou a Prefeitura de Boa Vista para solicitar estudos e os projetos para as obras, mas que foram recusadas todas as tentativas de respostas. O parlamentar revelou que questionou também sobre a aplicação do empréstimo de R$ 65 milhões para mobilidade urbana, mas que também não teve respostas.

A partir de agora, o vereador solicita que a sociedade se mobilize para pedir mais respostas da Prefeitura e consiga melhorar a aplicação dos recursos e encontrar um padrão para as calçadas. “Sabemos que há um projeto de lei de calçadas em Boa Vista sendo finalizado. A questão é que tem milhões de reais sendo gastos e daqui a pouco chega uma lei que vai adequar uma coisa que já foi feita. Aí vai gastar dinheiro tudo de novo?”, encerrou.

Prefeitura não dá explicações

A equipe de reportagem da Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista solicitando um posicionamento sobre as informações em relação a construções das calçadas, principalmente sobre a falta de padrão em alguns pontos da cidade. Entretanto, não obteve retorno até o fechamento da matéria. (A.P.L)