Estado teve aumento expressivo na proporção de domicílios com algum grau de insegurança alimentar (Foto: Raisa Carvalho)
Estado teve aumento expressivo na proporção de domicílios com algum grau de insegurança alimentar (Foto: Raisa Carvalho)

Roraima foi na contramão do restante do país e registrou piora significativa nos índices de segurança alimentar em 2024. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado teve aumento expressivo na proporção de domicílios com algum grau de insegurança alimentar, passando de 36,4% em 2023 para 43,6% em 2024. O resultado coloca Roraima entre os cinco piores estados do país, ao lado do Pará (44,6%), Amazonas (38,9%), Bahia (37,8%) e Pernambuco (35,3%).

Enquanto o Brasil avançou na redução da fome, com queda geral da insegurança alimentar de 27,6% para 24,2%, quase todas as unidades da federação apresentaram melhora, com exceção de Roraima, Distrito Federal, Amapá e Tocantins. No caso roraimense, o aumento da insegurança alimentar reforça a vulnerabilidade de parte da população, principalmente nas áreas rurais e em comunidades de baixa renda.

De acordo com o IBGE, a Região Norte segue liderando os piores indicadores do país: 37,7% dos domicílios vivem com algum grau de insegurança alimentar, e 6,3% enfrentam o nível mais grave, quando há falta de comida no lar. A taxa é quase quatro vezes maior que a registrada na Região Sul, que apresenta o menor índice nacional (1,7%).

Segundo informações do portal de notícias Agência IBGE, a analista da pesquisa, Maria Lucia Vieira, explica que, apesar de a população rural estar mais próxima do cultivo de alimentos, isso não garante segurança alimentar. “Parte dos domicílios rurais tem rendimento per capita menor e maior presença de crianças, de tal forma que, mesmo com o cultivo agrícola, esse pode ser restrito e não variado, não garantindo nem quantidade e nem qualidade”, afirmou.

O levantamento também mostra que os fatores sociais influenciam diretamente o acesso à alimentação. Famílias chefiadas por mulheres, pessoas negras ou pardas e com baixa escolaridade estão entre as mais afetadas. Nos lares em que o responsável tem ensino fundamental incompleto, cerca de 65% enfrentam algum nível de insegurança alimentar. Além disso, o problema é mais comum entre trabalhadores informais, domésticos e autônomos, o que reforça a relação entre renda e o direito à alimentação adequada.

Com mais de quatro em cada dez domicílios roraimenses vivendo com restrição no acesso a alimentos, o estado enfrenta um desafio crescente. A piora dos indicadores ocorre em um cenário em que o restante do país avançou, o que reforça a necessidade de políticas públicas específicas para a região. Questões estruturais, como o alto custo dos alimentos, a dependência de produtos vindos de outros estados e as dificuldades logísticas de abastecimento, intensificam o problema.

Apesar do avanço nacional, os números de Roraima evidenciam que as desigualdades regionais permanecem marcantes. A ampliação da insegurança alimentar no estado é um alerta sobre a urgência de estratégias mais eficazes de combate à fome, com ações voltadas às realidades locais e às populações mais vulneráveis.