Débora dos Santos, de 17 anos, foi encontrada morta na vicinal 6, em Rorainópolis, com três tiros na cabeça. (Foto: arquivo pessoal)
Débora dos Santos, de 17 anos, foi encontrada morta na vicinal 6, em Rorainópolis, com três tiros na cabeça. (Foto: arquivo pessoal)

A família da adolescente Débora dos Santos Bezerra, de 17 anos, diz viver um “segundo luto” após descobrir que o policial militar acusado de matá-la em Rorainópolis, no sul de Roraima, teve a prisão preventiva revogada pela Justiça e está respondendo ao processo em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica. O crime ocorreu em 4 de maio de 2024.

O policial A. S. L. é acusado de ter executado a jovem com três tiros na cabeça em uma vicinal da região. Ele foi preso seis dias após o crime, mas passou a cumprir as medidas cautelares após decisão judicial ocorrida em setembro deste ano.

A mãe de Débora, Graciane Silva, relata que só soube da liberdade do militar devido rumores em Rorainópolis, onde o policial estaria circulando. Após ligar para o Ministério Público, ela afirma que houve omissão das informações à família.

“Há pouco mais de um mês começou várias pessoas a entrar em contato com a gente para informar que ele estava solto. Eu duvidei. Não achei que a Justiça estaria nesse ponto de soltar. Então entrei em contato. A chefe da Procuradoria da Mulher me disse para eu ficar tranquila, que ele estava preso e que me avisariam de qualquer novidade. Mas era tudo mentira. Ela já sabia que ele estava solto”, declarou.

Segundo Graciane, a sensação de descobrir a soltura do acusado foi devastadora e que perdeu a confiança nas instituições. “Foi como receber a notícia da morte dela novamente. Dobrou a dor. Não tem como eu dar credibilidade para essa justiça injusta. Não é à toa que nosso Estado lidera ranking de feminicídio. Hoje eu sinto na pele: lidera porque o próprio Estado é conivente“, disse.

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Revogação da prisão

No documento, o juiz destacou que há indícios suficientes de autoria e prova da materialidade, mas decidiu substituir a prisão preventiva por medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, obrigação de comunicar mudança de endereço e proibição de se ausentar por mais de 7 dias sem autorização. Foi definido ainda que A.S.L. será julgado pelo Tribunal do Júri.

PM voltou a trabalhar

A família afirma que a dor aumenta ao saber que o policial continua exercendo função dentro da corporação. De acordo com informações obtidas pela reportagem, A. S. L. está lotado no Comando de Policiamento da Capital (CPC), na Fiscalização Administrativa (FA), setor ligado à logística interna e que não exige porte de arma.

Em nota (na íntegra logo abaixo), a Polícia Militar de Roraima informou que instaurou um Conselho de Disciplina para analisar a conduta do militar, garantindo contraditório e ampla defesa. A corporação afirmou que “todos os procedimentos seguem rigorosamente os protocolos estabelecidos” e que as medidas adotadas observam critérios técnicos, legais e administrativos, “sem interferência externa”.

NOTA

A Polícia Militar de Roraima informa que instaurou um Conselho de Disciplina para análise da conduta do militar citado, garantindo todas as etapas legais do processo administrativo, incluindo o contraditório e a ampla defesa.

A corporação reforça que todos os procedimentos seguem rigorosamente os protocolos estabelecidos e que cada medida adotada observa critérios técnicos, legais e administrativos, sem qualquer interferência externa.

A PMRR reafirma o compromisso com a legalidade, a transparência e o respeito às normas que regem a atividade policial militar, mantendo sua atuação institucional sempre pautada pelo interesse público e pela responsabilidade com a sociedade roraimense.

Histórico do caso

Débora foi encontrada morta em 4 de maio na vicinal 6, KM 3, em Rorainópolis.
Mesmo casado, informações indicam que o policial mantinha um relacionamento com a adolescente. A esposa dele teria agredido a jovem, que, na época, pediu medida protetiva contra o casal.

O policial foi preso dias após o crime, na própria residência. Na ocasião, a mãe de Débora pediu justiça pela morte da filha.