A vinda em massa dos venezuelanos em busca de alimento, este ano, provocou uma demanda relevante no mercado local, principalmente no setor de grãos. Em específico, a produção de arroz em Roraima não conseguiu atender a alta procura do país vizinho e, para os donos de supermercado e atacados, a saída foi comprar arroz de fora.
Contudo, a demanda estrangeira parou e o mercado ficou com o estoque cheio. Diante da realidade, os produtores de arroz estão sendo prejudicados, uma vez que a matéria-prima não está sendo vendida como antes.
Segundo a presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Grãos do Estado de Roraima (Sindigrãos), Izabel Itikawa, a produção que está parada há um mês é um prejuízo em cadeia.
Além das indústrias que estão com máquinas e trabalhadores parados, há também os empresários que investiram na criação de gado, porcos e peixe e dependem de cuim e xerém para alimentar os bichos.
Antigamente, mais de 100 clientes por dia, entre empresários e produtores, se dirigiam às fábricas para comprar os subprodutos. Porém, sem a produção, não há subprodutos.
“Está chegando o ponto de o porco estar magro. É um prejuízo incalculável e em cadeia, porque os empresários contam com a nossa produção”, lamentou a presidente. Ela explicou que o arroz produzido em outros estados, e que está à venda no mercado, é mais barato do que o produzido em Roraima pelas vantagens com relação ao preço que os atacadistas e donos de supermercado têm na hora da compra.
Conforme relato, o produto comprado das regiões Sul e Centro-Oeste recebe a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 7% a 12%. A isenção, que beneficia na hora da compra e no fechamento do movimento, é referente ao incentivo gerado pela Área de Livre Comércio (ALC). As fábricas, entretanto, não recebem o benefício, segundo Izabel.
“Mediante os impostos que são pagos, ao custo de produção que temos, não conseguimos competir com o arroz que vem de fora. A ALC beneficia o consumo e não a produção. É beneficiado na hora da compra quem tem a inscrição da Suframa. Eu, como indústria, estou fora disso”, relatou. De acordo com a presidente, as indústrias ligadas ao Sindigrãos vendem um total por ano de 312.000 fardos de arroz para Roraima.
Atualmente, com o abastecimento, o mercado tem mais de 300 mil fardos. Estima-se que vai demorar de três a quatros meses para ser desabastecido e, só neste momento, os donos vão voltar a comprar o arroz local.
Por mês, a venda para o mercado é de 26 mil fardos. “Então vamos ficar parados quanto tempo? Empresa nenhuma aguenta um desaforo desses”, frisou.
Diante da situação, o Sindigrãos foi atrás do Governo do Estado, que se sensibilizou com a situação. Agora, aguardam pela proposta de lei que foi feita e aprovada no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e que será encaminhada à Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALE-RR). Para eles, a solução é o projeto se torne lei e venha a beneficiar o produtor da matéria prima.
Izabel ressaltou que as indústrias querem um mercado leal, tendo em vista que qualquer indústria de Roraima não tem o benefício da ALC. Ela ainda relatou que antes da homologação da Raposa Serra do Sol, a empresa que dirige produzia 25 mil hectares de arroz. Após a homologação, passaram para 12 mil. Hoje, produzem sete mil hectares. “Vivendo essa turbulência ninguém aguenta, o setor vai sumir. Já está fragilizado após tantas perseguições. Me dê a mesma igualdade que o outro tem, que é trabalhar com preço leal”, destacou. (A.G.G)