Após o senador Romero Jucá (PMDB-RR) negar que tivesse relação com Ângelo Goulart Villela, procurador que já chefiou o Ministério Público Federal em Roraima e que foi preso sob a acusação de ter sido cooptado pela JBS, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, recém-aposentado do Ministério Público Federal, desengavetou de seu acervo fotos em que o senador e o procurador aparecem juntos e divulgou uma carta aberta à imprensa.
Para Aragão, a relação, era, sim, próxima: “O Ângelo fazia o leva e traz entre o Jucá e a PGR [Procuradoria-Geral da República]. Foi o Ângelo que articulou o apoio de Jucá à recondução de Rodrigo Janot. Os dois eram próximos, sim”.
Aragão relata que teria encontrado Romero Jucá na casa de Ângelo, em Brasília, no final do governo Dilma Rousseff. “Entristecido, li ontem recente nota sua [de Jucá] em que nega conhecer e ter mantido amizade com nosso irmão comum Ângelo Goulart Villela. Vossa Excelência lhe atribui iniciativas contra si na Justiça Eleitoral de Roraima, como impeditivas de o Senhor ter uma relação próxima dele. Infelizmente – e isso me pesa muito – vou ter que o desmentir. Faço-o, porém, com a paz na consciência de quem não tem nada a esconder”, cita.
O ex-ministro afirma que Villela era um dos mais brilhantes procuradores do MPF, com disposição de diálogo, que foi seu braço direito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, que por sua capacidade de dialogar e articular politicamente despertou a atenção do procurador-geral da República.
“Foi frequentemente incumbido de dar recados do chefe da instituição a parlamentares, inclusive a Vossa Excelência, Senador. Fazia o leva e traz. No seu gabinete – isso testemunhei pessoalmente – Ângelo era de casa, conhecido e estimado por boa parte de sua equipe. Conseguia agendar reuniões sem dificuldades e, por isso, era usado não só pelo procurador-geral, mas, também, pela Associação Nacional dos Procuradores da República, de cuja diretoria passou a participar para facilitar a articulação parlamentar. Foi recebido pelo Senhor juntamente com o doutor Robalinho, presidente da ANPR, para tratar de pautas legislativas”, lembrou Aragão.
O agora aposentado procurador da República afirmou que Ângelo foi trucidado por aqueles a quem serviu com fidelidade. “Todos o abandonaram à própria sorte. Todos querem distância dele como se fosse um leproso, inclusive Vossa Excelência. Ângelo foi vítima daqueles que o usaram. Foi sugado interesseiramente e depois cuspido feito bagaço de laranja”, disse.
Aragão conclui a carta afirmando que Goulart teria se sacrificado por Jucá. “Agora os amigos lhe viram as costas. Senador, o Senhor não! Não tem esse direito. Ele muito se sacrificou por Vossa Excelência e pelos seus.
Assumiu muitos riscos. Era na casa de Ângelo Goulart que eu, como Ministro de Estado da Justiça, conversava com o Senhor para garantir tratamento digno à Dilma! Era onde o Senhor se sentia melhor, mais protegido, não é? E agora diz que não o conhecia? Sinceramente, não esperava isso de Vossa Excelência”, concluiu.
OUTRO LADO – Por meio de sua assessoria de imprensa, Romero Jucá enviou nota em que reforça “não ter qualquer relação” com Ângelo Villela. “Na condição de líder do Governo e senador, recebe inúmeras associações em seu gabinete, fato que o senador nunca negou e muitas vezes divulga em suas próprias redes sociais”, explicou a assessoria à Folha.