Cotidiano

Ex-detento revela o dia-a-dia dentro do maior presídio de RR

Em uma conversa que durou cerca de 30 minutos, ele contou como foram os últimos meses dentro da unidade

A Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) maior unidade prisional de Roraima, conta atualmente com mais de 2 mil presos que cumprem pena em regime fechado.

Em um passado recente, a unidade foi palco de confrontos entre detentos que resultaram em 43 mortes. Desde 2018 o presídio tem agentes da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP) que cuidam da segurança do local.

A reportagem da FolhaBV foi procurada por um ex-detento, que preferiu não se identificar. Em uma conversa que durou cerca de 30 minutos, ele contou como foram os últimos meses dentro da unidade.

“Passei dois anos e meio ali dentro, todo dia pedia a Deus em oração para sair vivo, pois as condições são terríveis. Preso não tem atendimento médico, só sai de dentro da cela quando está prestes a morrer, como recentemente um que morreu de covid-19, e estava com sintomas há vários dias e ninguém socorreu”, relatou.

Ainda de acordo com ele, a alimentação do presídio chega estragada. “Recebemos quase que diariamente comida azeda, muitos ficam intoxicados e não recebem remédios. Sei que quem está ali é porquê cumpre uma pena imposta pela justiça, mas a maneira como são tratados é desumano”, disse.

“O governo diz que fornece atendimento médico, mas é mentira, não tem médico na unidade, os presos estão com feridas e abcessos pelo corpo, além de doenças respiratórias e muitas outras com toda a certeza”, acrescentou.

Sobre os boatos de que existe a possibilidade de haver confrontos após a saída dos agentes da FTIP, o ex-detento disse que os presos se ameaçam dentro da unidade e que muitos planejam vingança ao fim da intervenção.

“As facções fazem reuniões nas celas, tentam recrutar novos membros. A maior facção que existe lá dentro ameaça matar todo mundo quando os federais forem embora. É um inferno que deixa qualquer um desestruturado emocionalmente. Muitos saem de lá pior do que quando entraram. Eu inclusive, estou fazendo tratamento psicológico por causa disso”, contou.

Outro ponto citado pelo ex-detento é relacionada a entrega de kits de higiene, que atualmente é feita pelos próprios familiares duas vezes ao mês. “Mesmo com os nossos parentes levando os materiais, os agentes dificultam a entrega. Eles esperam acumular uma certa quantidade para poder dar ao preso”, acrescentou.

A Penitenciária Agrícola de Roraima é o maior presídio do estado (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)

OUTRO LADO – A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) que respondeu às questões. Confira as respostas na íntegra:

1.Sobre alimentação estragada

É feita a fiscalização na alimentação todos os dias e quando há reclamações a empresa é notificada para melhoria desta.

2.Falta de atendimento médico rotineiro e também emergencial e negligência por parte de agentes quando os presos passam mal.

Informa que tem médico e enfermeiros todos os dias dentro da Unidade de domingo a domingo prestando auxílio dentro da Pamc.

3. Falta de kits de higiene, que estariam demorando a chegar até eles. Falta de banho de sol.

A entrega dos kits é feita de forma alternada, mas com uma rotina de 15 dias e tem banho de sol todos os dias.

Os internos estavam acostumados a ficarem soltos, sem horário e responsabilidades. Hoje saem de suas celas com horário controlado.

4.Presos com feridas e abcessos no corpo.

Presos com problemas de saúde têm atendimento na Unidade Básica de Saúde que funciona dentro da Pamc e são acompanhados pelos profissionais durante todo o tratamento.

5. Ameaça entre facções de que haja rebeliões quando a FTIP sair.

Com protocolos de segurança que serão implantados e a formação de novos policiais penais que atuarão dentro da Unidade Prisional, devem evitar qualquer tipo de problema dentro da Pamc.