Foi divulgado na manhã desta quarta-feira (15), o estudo “Infância e Juventude Yanomami: O que significa ser criança e os desafios urgentes na Terra Indígena Yanomami”, que traz dados inéditos sobre a realidade do público infanto-juvenil dentro das TI Yanomami.
Segundo o estudo, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com apoio da Hutukara Associação Yanomami (HAY), três em cada quatro Yanomami são crianças, adolescentes ou jovens. Essa realidade, em que 75% da população tem menos de 30 anos, mostra a centralidade da infância e da juventude para o futuro do povo que vive na maior terra indígena do Brasil, com 9,6 milhões de hectares em Roraima e no Amazonas.
O relatório revela como é nascer e crescer Yanomami, trazendo informações sobre a riqueza cultural desse modo de vida e os desafios que precisam de atenção urgentes diante de violações sistemáticas de direitos.
O estudo foi inicialmente pensado pelo chefe de clima água e desastre da Unicef, Gregory Bulit e feito em colaboração dos consultores e antropólogos Ana Maria Machado e Marcelo Moura, que juntos somam mais de 25 anos de experiência de trabalho com os Yanomami.
O levantamento foi elaborado com base em documentos, coleta de dados, estudos antropológicos, depoimentos de lideranças e experiências de vida, sistematiza a forma como esse povo compreende a infância e o papel das novas gerações em sua comunidade à luz dos desafios colocados para crianças e jovens. Leia na íntegra clicando aqui.
O povo Yanomami e seu modo de vida
O povo Yanomami é um dos maiores grupos indígenas do Brasil, com cerca de 31 mil pessoas vivendo em 376 comunidades nos estados de Roraima e Amazonas. Para eles, ser criança é crescer em liberdade: meninos e meninas participam desde cedo das atividades cotidianas da aldeia, acompanham suas mães na colheita e seus pais na caça, brincam na floresta, observam os rituais coletivos e aprendem a viver em comunhão com a natureza.
Esse modo de vida, profundamente conectado à floresta, tem sido ameaçado ao longo da história. Em 2023, por exemplo, a declaração da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) jogou luz sobre o impacto de mais uma invasão de garimpo ilegal, quando estimadas 20 mil pessoas ocupavam o território. As consequências foram a forte elevação nos casos de malária e outras doenças, a desestruturação dos processos de caça, coleta e manutenção de roças, além de contaminação por mercúrio – o que, aliado há época à desestruturação do sistema de saúde, elevou os casos (e óbitos) por desnutrição no território, principalmente de crianças na primeira infância.
Desafios e a Relação com o Mundo Não Indígena
O estudo aborda ainda como crianças e jovens se relacionam com o mundo não indígena, além de retraçar histórico do atendimento de saúde e educação para essas populações.
“Este estudo que a gente fez é uma reunião de informações que a gente já tinha: dados de campo, leituras, pois a gente conhece bem a bibliografia do que é feito sobre os Yanomami. Muitas conversas que fizemos com os Yanomami para o estudo, com membros da Hutukara. Tem esse acúmulo histórico todo. Para a parte específica sobre saúde e educação, foi uma pesquisa mais pontual, com dados e informações jornalísticas relacionadas àquele período”, disse Ana Maria à FolhaBV
O documento mostra os costumes e práticas relacionados a nascer e crescer na Terra Indígena. As crianças aprendem observando e participando da vida coletiva – seja nas roças, nas caçadas ou nos rituais de passagem de ciclos de vida. Essa visão de infância contrasta com as ameaças causadas pela dificuldade de providenciar, de forma contínua, serviços e políticas adequadas às especificidades e diversidade dos Yanomami.
A publicação é uma iniciativa da área de Mudança Social e de Comportamento (SBC, pela sigla em inglês) e da Coordenadoria para Assuntos Indígenas do UNICEF Brasil, com financiamento da União Europeia, por meio do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO).