A letra curva e bem desenhada de Felipe Leocádio descreve momentos difíceis para um menino de 10 anos. Aluno da Escola Municipal Professora Glemíria Gonzaga Andrade, localizada no bairro Cidade Satélite, zona Oeste da Capital, ele é uma das crianças que decidiu enviar o pedido de presente para a Campanha Papai Noel dos Correios. No final da carta, o pedido ao bom velhinho: “Por favor, pode me dar uma bicicleta?”
Com apenas 4 anos, Felipe e a mãe, Adriane Leocádio, foram feitos reféns de dois bandidos durante um assalto à mão armada na própria casa. À época, Adriane ainda morava com o pai de Felipe em uma residência no bairro Alvorada, zona Oeste. Entre os pertencentes levados estavam dinheiro, celular e o carro da família. “O Felipe ficou traumatizado”, disse.
Passados dois anos do ocorrido, Adriane se separou e foi para a casa da mãe, onde ficou até se casar novamente. A nova mudança ocorreu quando conseguiu, junto ao marido, um apartamento no Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite. O casal decidiu comprar um carro utilizando o dinheiro que Adriane recebe com a venda de bolos e vendendo a moto que tinham. A insegurança, no entanto, bateu à porta novamente.
Um ano após a compra, o veículo foi roubado no estacionamento do residencial. Por trabalhar com encomendas, Adriane precisava ter uma forma de se locomover para efetuar as compras e realizar as entregas. A saída encontrada foi vender as bicicletas da família para comprar uma moto. No meio deste ano, quando os recursos permitiram, ela presenteou o filho com uma nova bicicleta.
Mais uma vez, a falta de segurança se fez presente na vida da família. A bicicleta de Felipe foi roubada na entrada do apartamento onde mora, no terceiro andar, por uma pessoa que já estava no prédio, tendo em vista que todas as portas de entrada do residencial são mantidas trancadas. A suspeita foi confirmada após ter tido acesso às imagens da câmera do vizinho. “Ninguém subiu, as imagens não mostram isso. A gente só vê a pessoa descendo com a bicicleta dele. Até hoje não sabemos quem foi”, lamentou.
Desde então, ela informou que não conseguiu comprar outra bicicleta. Além de Felipe, moram no apartamento os três filhos do marido, que está desempregado há pouco tempo. O seguro desemprego e o dinheiro que recebe com as vendas são direcionado para vale transporte, gasolina e demais despesas da casa.
Felipe então resolveu fazer o pedido ao Papai Noel por entender que as condições atuais não permitem que a mãe compre o que ele deseja. Com a memória viva na bicicleta que foi roubada, ele responde rápido à pergunta em relação ao modelo, apesar de não ter especificado o pedido na carta: “Uma verde, tipo Cross”, disse. (A.G.G)