Cotidiano

Estudante de zootecnia cria cobras em cativeiro em Roraima

Embora pareça divertido ter um bichinho diferente dos tradicionais cães e gatos, decisão requer, além da responsabilidade, autorização e cuidados específicos

LEO DAUBERMANN

Editoria de Cidades

Já pensou em ter como animal de estimação um jabuti, um papagaio, uma iguana ou um passarinho, desses que você ouve toda manhã da janela do seu quarto, ou então uma cobra?? Criar animais silvestres em cativeiro é um hábito muito comum em várias partes do mundo. Mas, embora pareça divertido ter um bichinho diferente dos tradicionais cães e gatos, a decisão requer, além da responsabilidade, autorização e cuidados específicos.

É possível adquirir um desses animais de forma legal, por meio de criadores ou estabelecimentos que possuem a autorização das secretarias estaduais de Meio Ambiente. Foi exatamente o que a estudante de zootecnia Emylly Marinho, 25, fez. Ela conseguiu autorização para criar cobras em cativeiro. Os animais foram adquiridos de criatórios comerciais regulamentados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).

O amor por animais exóticos e selvagens começou ainda quando ela era criança, por volta dos 12 anos.

“Minha mãe e minha família me achavam estranha por gostar desses animais menos convencionais. Por insistência, adquiri minha primeira cobra legalizada pelo Ibama quando eu tinha 15 anos e, desde então, meu interesse por esses animais só aumentou. E por causa dessa paixão, meu futuro começou a ser traçado”, disse a estudante.

Emylly decidiu que iria investir numa área de formação que possibilitasse vivenciar profissionalmente o interesse por serpentes e répteis em geral.

“Passei em zootecnia na UFRR [Universidade Federal de Roraima] e desde então venho me qualificando na área, fiz estágio no Instituto Butantan em São Paulo e no Núcleo Serra Grande, que fica em Ilhéus, na Bahia”, explica.

“Tenho capacitação para animais peçonhentos e não peçonhentos. Lá na Bahia, eles vêm realizando um trabalho de conservação de Lachesis muta [surucucu pico de jaca], a maior serpente peçonhenta das Américas que pode chegar aos 3,8 metros. Durante meu estágio, tive contato e pude estudá-la”, conta.

De acordo com a estudante, antes de se mudar para Roraima, ainda em Santa Catarina, ela tinha 15 serpentes legalizadas e microchipadas, mas acabou repassando alguns animais para amigos próximos. “Atualmente, aqui em Boa Vista, eu possuo somente um exemplar de Boa constrictor occidentalis ou popularmente conhecida como jiboia argentina”, disse.

Ainda de acordo com Emylly, todos os animais silvestres precisam ser legalizados, têm que portar um microchip e necessitam de nota fiscal e uma certidão de nascimento, disponibilizados pelos criatórios no momento da compra.

“No mercado pet, vem aumentando bastante o interesse por esses animais. O preço é meio salgado, varia entre 3 mil e 20 mil reais. O valor varia de acordo com o padrão genético”, ressalta.

A estudante ressalta ainda que o mercado comercial legalizado reduz o tráfico de animais. “Quanto mais criatórios especializados, menos tráfico vai existir. Com a Lilith, minha jiboia, faço trabalhos de conscientização em alguns eventos tentando mostrar que as cobras não são animais ruins, precisam somente de respeito e podem ser dóceis se não se sentirem ameaçadas”, completa.

CUIDADOS E ALIMENTAÇÃO – Assim como cães e gatos, as serpentes também precisam se alimentar regularmente. Mas, de acordo com Emylly Marinho, é bem mais prático e fácil criar uma serpente do que um cachorro.

“As cobras só comem uma vez a cada 15 dias e é proporcional ao peso dela, em média 20% do peso de cada animal. A Lilith come cinco ratos em cada refeição. Compro eles fora de Boa Vista, vem pela empresa aérea. Já vêm embalados e congelados, guardo no freezer, descongelo, esquento e ela come”, explica.

Segundo Emylly, a jiboia fica num terrário, uma espécie de caixote de madeira, com a frente de vidro. “Ela precisa de um local limpo para ficar e também das lâmpadas UVA e UVB, que imitem os benefícios que a luz do sol fornece. Eu ligo durante uma parte do dia e pronto, é basicamente isso”, ressalta.

“É muito mais prático do que um cachorro, que late, faz barulho, faz bagunça, xixi e cocô todo dia. A Lilith somente quando come, uma vez a cada 15 dias, mais ou menos. Não faz barulho, ocupa pouco espaço, se eu precisar viajar e ficar 10 dias fora, quando eu voltar ela vai estar viva e bem”, completa Emylly.

MICROCHIPAGEM – Para a realização da microchipagem, são utilizados transponders ou microchips que são implantados com o auxílio de um aplicador que se assemelha a uma seringa. No microchip, além das informações da espécie, as suas características individuais e o acompanhamento da saúde do animal, cada cobra recebe um número de registro cadastrado em um software com acesso on-line pelo Ibama.

LEGISLAÇÃO – É proibido matar, perseguir, caçar, apanhar e utilizar espécimes da fauna silvestre sem autorização ou licença e o Ibama é o órgão responsável pelas permissões. A proteção da fauna está prevista na Constituição e na Lei nº 9.605/98, a Lei de Crimes Ambientais.

Comete crime ambiental quem vende, exporta, compra, guarda, mantém em cativeiro ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna brasileira, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem permissão. A lei também proíbe a introdução de espécime estranho à fauna do País e abuso e maus-tratos contra os animais. A pena vai de multa à reclusão de até cinco anos.