
Com o inverno rigoroso que Roraima tem enfrentado, começou a se discutir sobre um possível risco de inundações em Boa Vista, devido ao alto nível de saturação do lençol freático na cidade.
O engenheiro geólogo e analista ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Zacarias Cruz, explica em entrevista à FolhaBV, que o lençol freático de Roraima concentra atualmente um alto número de saturação por ser muito raso.
Essa característica, segundo ele, é vista apenas na nossa capital. “Nosso lençol freático aqui às vezes chega a três metros de profundidade, e isso só é visto aqui em Boa Vista. Em outra parte do mundo, isso não existe. Então, aqui, com o período de chuvas muito acentuado, o lençol freático pode saturar e subir. Essas lagoas vistas de cima, na verdade, são lençóis freáticos aflorando no período de chuvas intensas, como estamos tendo agora”, explicou.
Impacto do Relevo e Tubulações no Acúmulo de Água
O relevo da cidade é outro fator que contribui para o acúmulo de água e a demora para que ela seja filtrada pelo solo. Problemas com tubulações de esgoto também podem ser causados pelo atual estado do solo. Porém, o especialista diz que há a possibilidade de um espaçamento maior entre as chuvas, o que rende mais tempo para a absorção da chuva, diminuindo o risco de alagamentos.
“Acredito que a chuva deva dar uma tregua agora e serem mais espaçadas, e isso dá um alívio também no lençol freático. Essa é uma tendência, as previsões, como o próprio nome diz, não é uma coisa absoluta, então provavelmente acredito que a chuva deva ter um hiato temporal maior, entre uma chuva e outra, dando tempo para que o solo consiga infiltrar essas águas”, disse Zacarias.
Apenas neste mês de julho, o acumulado registrado é de 469,2 mm, índice considerado elevado para o período, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), enquanto a média de chuvas do mês é de 308 mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
De acordo com Flávia Cantanhede, da Defesa Civil do Município, o Boletim de Alerta emitido pelo Cemaden mostra que a previsão meteorológica indica acumulados de até 150 mm nas próximas duas semanas. “É um volume considerado acima do normal. Concretizando-se essa previsão, o nível do rio Branco tende a continuar elevando, chegando ao possível extravasamento”, afirmou.
Com isso, o especialista afirma que não é algo para se desesperar, mas sim para se monitorar.
“Um problema de retorno de água, às vezes, pode ocorrer, mas não é uma coisa que vai ocorrer em toda a cidade… Só nas áreas mais baixas, onde as lagoas afloravam antes e foram aterradas. Então, eu acredito que não há motivo para desespero, apenas cuidado e ficar de prontidão”, alertou.
Monitoramento da Femarh
A Femarh segue disponibilizando à população boletins sobre as chuvas e monitorando a situação.