Cotidiano

Entidade indígena confirma morte de 6 garimpeiros em ofício entregue à Funai

Associação Hwenama entrou em contato com liderança indígena da comunidade, que confirmou as mortes

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Após 16 dias do ocorrido, a morte dos seis garimpeiros na comunidade do Homoxi, na Terra Indígena Yanomami, Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste do Estado, foi confirmada pela Associação dos Povos Yanomami de Roraima (Hwenama). De acordo com Ingrid Carreiro, filha de uma das vítimas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) esteve na segunda-feira, 14, com o presidente da Hwenama, que conversou via radiofonia com lideranças indígenas da localidade. A confirmação foi entregue em forma de ofício à Funai.

A comunidade Homoxi possui aproximadamente 300 indígenas. Os seis garimpeiros estavam trabalhando na região há alguns meses, uns há mais tempo que outros. As informações foram repassadas à Folha por Júnior Hekurari, presidente da Hwenama. “Conseguimos contato com uma liderança indígena da comunidade. A morte dos garimpeiros foi confirmada e eles [índios] autorizaram a entrada de autoridades para a retirada dos corpos do local”, afirmou.

A morte aconteceu no dia 1º de novembro pela manhã. O motivo do conflito ainda é desconhecido. A Hwenama se prontificou a acompanhar os familiares e autoridades até a comunidade para auxiliar no diálogo. Ainda de acordo com a entidade indígena, são quase duas horas de voo e mais quatro horas de caminhada até o local onde estão os corpos.

No ofício entregue à Funai, há o seguinte relato do presidente da associação: “O indígena informou que os garimpeiros invadiram a terra deles e estavam desrespeitando todos na região, causando brigas e causando impacto nos rios”.

Essa informação entra em contradição com depoimentos de garimpeiros e familiares das vítimas dadas à Folha durante a repercussão do caso em matérias anteriores. De acordo com relatos, os garimpeiros trabalhavam em parceria com os indígenas. Inclusive, ainda de acordo com relatos, o tuxaua de cada comunidade receberia uma espécie de comissão uma determinada quantidade de ouro a cada abertura de nova frente de exploração, chamada de “barranco”.

Essas informações também foram confirmadas por Ingrid Carreiro, que busca agora um meio de trazer o corpo do pai para a Capital. “O nosso problema é conseguir uma aeronave. Muitos órgãos que pedimos ajuda disseram que é um processo burocrático, que demora e nos pediram calma. Só que é difícil pedir calma para uma família desesperada. O único apoio que tivemos foi da Funai e da associação [Hwenama]”, desabafou a jovem.

Ingrid afirmou que os familiares vão apelar para o Governo do Estado a partir de hoje, 16. “A forma mais rápida é através do governo. Vamos tentar chegar à governadora [Suely Campos, do PP] de alguma forma para pedir ajuda. Depois da confirmação, tivemos que esperar por conta do feriado”.

FUNAI – A Folha tentou entrar em contato com a Funai, mas por conta do feriado não obteve resposta.

Familiares denunciaram mortes no dia 7; Hutukara havia confirmado

Na primeira semana de novembro, familiares denunciaram para a Folha o desaparecimento de seis garimpeiros que estavam atuando na região do Homoxi, Ingrid Carreiro, filha da vítima Raimundo Oliveira, de 47 anos, formalizou, no dia 07, denúncia junto ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR). A entidade Hutukara Yanomami já havia confirmado as mortes, em entrevista à Folha, mas a Funai insistiu que os crimes ainda estavam confirmados.

O caso repercutiu por conta do desespero das famílias em busca de informação e de providências por parte das autoridades públicas. A Folha conversou com vários familiares e também com outros garimpeiros que atuaram nas proximidades do local onde aconteceu a chacina.

Segundo relatos, um dos garimpeiros que estava na região, que responde pelo apelido de “Bolacha”, foi mantido refém junto com a esposa e o filho após as mortes, na pista de pouso. No dia 02 de novembro, “Bolacha” conseguiu contato através de radiofonia e disse: “Estou falando com calma, mas a situação está muito grave. Manda o avião”. Ao chegar a Boa Vista, ele procurou os familiares e disse que os indígenas haviam assassinado os garimpeiros.

De acordo com Edna Joana da Silva, esposa da vítima Leandro de Oliveira, de Rio Verde (GO), o marido entrava em contato com frequência uma vez por semana, através de radiofonia. Ele atuava como cozinheiro no acampamento dos garimpeiros. “No dia 25 de outubro, Leandro disse que estava tudo bem, que estava feliz e que no dia 13 de dezembro sairia de Boa Vista para voltar a Goiás. Disse que lá [Homoxi] era muito difícil, que às vezes faltava comida, mas que ele havia feito amizade com os índios, porque eles sempre almoçavam com os garimpeiros e que estava até ensinando uns a ler e a escrever”, relatou para a esposa.

Por conta dos contatos frequentes com a esposa, Leandro relatava tudo o que acontecia na área indígena, inclusive qual era o método de negociação. “Todas às vezes que os garimpeiros faziam um ‘barranco’, era pago ao tuxaua da comunidade uma quantidade em ouro. Ele chegou a falar em 10 gramas por ‘barranco’. Quem gerenciava os garimpeiros era um tal de ‘Nem’. Tudo era divido com os indígenas: mantimentos, objetos etc”.

Ana Maria da Silva, irmã de Edna, também estava na região durante o mesmo período, mas em comunidade indígena diferente. De Homoxi até onde Ana trabalhava como garimpeira eram necessários 15 minutos de voo. “Eu e Leandro nos falávamos todos os dias pelo rádio de um acampamento para o outro. No dia 1º [quando aconteceu a suposta chacina], ele ligou de manhã cedo para a central pedindo que reservassem as nossas passagem de volta para Goiás. Após o meio-dia, ele ligou de novo, tentou falar alguma coisa, ouvimos muito barulho e a ligação caiu. Foi a última vez que mantemos contato. Foi quando tudo aconteceu”, narrou Ana. (C.C.)

PM afirma que ação no Rio Uraricoera não tem qualquer relação com as mortes  

O coronel da Polícia Militar, Waney Vieira, coordenador da equipe de policiais que está realizando trabalhos de contenção e retirada de garimpeiros da terra indígena, entrou em contato ontem, com a Folha, para contestar a matéria “Rio Uraricoera – Após suposto massacre, 776 pessoas são retiradas de área de garimpo ilegal”, de autoria do repórter Luan Guilherme Correia, na página 7A, de ontem.

Segundo ele, a operação de retirada de garimpeiros da região do Rio Uraricoera não tem qualquer ligação com as mortes de garimpeiros, como deixou entender a matéria de ontem no jornal impresso.  Ele disse que os policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Companhia Independente de Policiamento Ambiental (Cipa) estão naquela região há aproximadamente 15 dias e devem ficar lá por mais 15. “Depois passaremos novamente para a 1ª Brigada de Infantaria de Selva a responsabilidade da contenção daquela área de garimpo ilegal em Roraima”, disse.

Ele lembrou que a ação foi iniciada no dia 31 de outubro pela 1ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro, com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da PM. “Estamos complementando o trabalho iniciado pelo Exército Brasileiro, na operação Curari VII”, frisou o coronel.

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