Em um intervalo de 114 dias, a linha de transmissão elétrica da Venezuela para Roraima registrou 62 desligamentos. Desses, 32 casos configuraram interrupção de carga que totalizaram 309 megawatts hora, provocando transtornos aos consumidores roraimenses.
Quando problemas como esse ocorrem no sistema elétrico, o módulo de proteção da distribuidora Roraima Energia, conhecido como Erac (Esquema Regional de Alívio de Carga), é ativado automaticamente. Ele tem a função de restaurar o equilíbrio entre a geração e o consumo, e, assim, restabelecer a frequência do sistema.
Para isso, o Erac desliga os blocos de carga ao cortar o fornecimento de energia para áreas específicas de maneira momentânea e escalonada. A concessionária de distribuição elétrica é quem define previamente as áreas a serem afetadas em cada estágio de corte.
Nesses momentos de problemas com a importação da Venezuela, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determina que alguma usina do sistema Roraima eleve sua geração ou mesmo entre em operação com a finalidade de reestabelecimento das cargas que foram cortadas.
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Desde o restabelecimento da linha da Venezuela, Roraima registrou apenas um blecaute diretamente ligado à transmissão internacional. Naquela ocasião, o apagão provocou uma queda abrupta de 158,9 megawatts de potência, afetando, naquele instante todo o Estado de Roraima.
“Esses desligamentos foram causados principalmente por instabilidades no sistema venezuelano, que geraram eventos de sobrefrequência e subfrequência. A UTE [Usina Termelétrica] Jaguatirica II apresentou respostas bruscas às variações no sistema, comprometendo a reserva de potência da região”, consta ata da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) de 11 de junho sobre o apagão de fevereiro.
Os números foram apresentados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) ao CMSE e se referem ao período entre 14 de fevereiro e 8 de junho de 2025. O relatório, por outro lado, apontou que a linha da Venezuela evitou interrupções estimadas em 252 megawatts hora de energia.
Neste contexto, o comitê decidiu que a importação da energia da Venezuela para abastecer Roraima continuará até o início dos testes da interligação do Estado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), por meio do Linhão de Tucuruí.
No entanto, a operação internacional pode ser suspensa antes, caso o desempenho da transmissão seja insuficiente, segundo o mesmo relatório que, a cada dois meses, é atualizado sobre a análise da importação.
Nos bastidores do setor, a informação que circula é de que os testes da interligação ao SIN começarão em setembro. Oficialmente, o Governo Lula já anunciou a inauguração do linhão para dezembro com a presença do presidente em Roraima.
Desde janeiro, o Brasil, por meio da Bolt Energy, importou mais de 26 mil megawatts hora da Venezuela, por meio da Usina Hidrelétrica de Guri. O subsídio do governo brasileiro à empresa, entre janeiro e junho, foi de R$ 28,5 milhões. Se desconsiderar os primeiros dois meses de testes, o País pagou, em média, R$ 6,1 milhões por mês à importadora.