O recente caso do estudante de 14 anos que matou a tiros dois alunos e deixou outros quatro feridos em um colégio particular de Goiânia, no dia 20 de outubro, foi considerado um alerta por educadores a fim de ressaltar que o bullying existe e precisa ser discutido entre a população. Em Roraima, 524 casos foram registrados pela Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed), de janeiro a setembro deste ano, nas 59 escolas estaduais da Capital.
A psicopedagoga e orientadora educacional da Divisão de Desenvolvimento Psicossocial Escolar (Dipse) do Departamento de Educação Básica (DEB), Maria de Nazaré Sicsu, explicou que a cada bimestre os orientadores educacionais das instituições enviam relatórios contendo a quantidade de casos e as ações que foram realizadas para solucionar cada um. O trabalho faz parte do projeto Professor Orientador, onde os professores são preparados para enfrentar a situação do bullying.
Segundo Maria, todas as escolas do Estado têm ações voltadas à prevenção da agressão previstas no Plano Político Pedagógico (PPP) e nos Planos de Ação da escola, do professor e do orientador. “Trata-se de uma relação desigual, onde há um agressor e uma vítima. Observamos a falta de preparo do adolescente em conviver com as pessoas diferentes deles”, disse. Na maioria dos casos, ela ressaltou que os motivos estão relacionados a peso, etnia, raça, religião e questão financeira.
Em relação aos casos, a orientadora declarou que são computados os que foram atendidos e solucionados. Cada um dos 524 alunos que denunciaram a situação foi ouvido, atendido e o caso chegou ao conhecimento do orientador educacional, do professor, do coordenador pedagógico e do gestor escolar. Para Maria, o número é considerado pequeno em relação às 59 escolas da rede estadual de Boa Vista.
Uma vez denunciado, o agressor também é encaminhado a um acompanhamento psicológico para ser sensibilizado e tratado. Conforme explicou, a vítima não é a única a ficar com problemas emocionais e psicológicos que, muitas vezes, desencadeiam em depressão, tentativa de suicídio e, nos casos mais extremos, o suicídio. Quando os casos são recebidos na própria Seed, a Dipse entra em contato imediato com a escola para saber quais as ações desenvolvidas no local.
Maria de Nazaré apontou que as atividades realizadas nas escolas começam com o preparo do orientador educacional na própria Seed, junto ao gestor e professor orientador. Após isso, o trabalho se estende à escola, onde o profissional capacitado realiza um projeto de ações que vão enfrentar ou prevenir a prática do bullying na escola por meio de palestras, rodas de conversa, campanhas, concursos de frases e cartazes.
DADOS NACIONAIS – Índices da última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feita em 2015 revelaram que 7,4% dos alunos brasileiros já se sentiram humilhados por provocações na maior parte do tempo ou sempre. Outros 19,8% que disseram já ter zombado de algum colega de escola informaram que os principais motivos das provocações foram a aparência do corpo (15,6%) e aparência do rosto (10,9%).
CASO GOIÂNIA – Diante do caso que ocorreu em Goiânia, a orientadora educacional Maria de Nazaré explicou que orientadores educacionais do Estado estão participando de curso de 60 horas, na Escola Estadual Oswaldo Cruz, localizada no Centro. O curso tem a preocupação de preparar os profissionais para trabalhar em diferentes situações.
Hoje, 31, o curso vai realizar um estudo relacionado à sexualidade, tendo em vista a importância de o aluno saber se relacionar com pessoas diferentes dele e, acima de tudo, respeitar essa pessoa. “Se ele aprende isso por meio de um trabalho feito junto à escola e à família, teremos ambientes e convivências nas escolas mais saudáveis”, disse. (A.G.G)