Cotidiano

Em 2015, delegacias registraram 200 casos de estupro de menores

Cerca de 70% das vítimas de estupro são crianças e, na maioria das vezes, são parentes próximos que cometem o abuso

Em 2015, delegacias registraram 200 casos de estupro de menores Em 2015, delegacias registraram 200 casos de estupro de menores Em 2015, delegacias registraram 200 casos de estupro de menores Em 2015, delegacias registraram 200 casos de estupro de menores

Dados de pesquisa desenvolvida em 2015 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que, no Brasil, 70% das vítimas de estupro são crianças e, na maioria das vezes, são parentes próximos que cometem o abuso. Em Roraima, os casos têm sido notificados cada vez mais e, conforme a titular do Núcleo de Proteção a Criança e Adolescente (NPCA), delegada Jaira Farias, mais de 200 casos no ano passado foram notificados nas delegacias da Capital.

“Quando chegam a nós os casos de estupro de vulnerável, pedimos que a família da vítima compareça à delegacia, tomamos as declarações do suspeito também e solicitamos exame de conjunção carnal. Ainda encaminhamos para psicólogo”, explicou. “A maioria dos casos que chegam até o NPCA é cometida contra crianças, pois geralmente, quando envolve adolescente, as situações são com namorados e, muitas vezes, o adolescente nos diz que a situação foi consentida. Porém, quando ocorre com menor de 14 anos, é necessário registrar como estupro de vulnerável”.

A delegada ressaltou que, na maioria das situações, a família é conivente. “Quando isso é constatado, a mãe responde pelo crime junto com o acusado. Os que mais praticam o abuso contra os menores são parentes, principalmente padrastos. Quando é caso de flagrante, pedimos a prisão preventiva do acusado e ele é encaminhado imediatamente para a unidade prisional”, frisou.

O conselheiro tutelar Franco Rocha explicou que, quando os casos são encaminhados para a entidade, que tem o objetivo de garantir os direitos da criança com base no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), eles são trabalhados durante 24 horas, recebendo e acolhendo as denúncias. “Nós mantemos o denunciante no anonimato absoluto. A identidade dele é totalmente preservada e agimos de imediato porque é um dos crimes mais graves e mais cruéis contra a criança. A gente orienta que o menor seja afastado imediatamente do convívio do agressor, que geralmente é um familiar que pratica o abuso, pois a esse tipo de situação nós damos uma prioridade absoluta. Paramos tudo que estamos fazendo para dar suporte à vítima e à família dela”, ressaltou.

Ele disse que parte da orientação inicial é encaminhar ao médico, logo após registrar Boletim de Ocorrência no NPCA e, de lá, a criança é encaminhada para o Instituto de Medicina Legal (IML) para passar por exame de conjunção carnal, a fim de atestar a violência sexual. O Conselho Tutelar providencia o afastamento da criança da residência onde sofreu o abuso, como medida protetiva e apoio psicológico para a vítima.

“Lamentavelmente, estamos recebendo cada dia mais denúncias por esse tipo de crime. De janeiro para cá, essas situações têm aparecido de uma forma assustadora. A gente deixa bem claro que a família deve tomar rapidamente medidas preventivas, conversando com a criança sobre o problema, de modo que ela possa identificar que algo de errado pode ocorrer quando estiver só na presença de um adulto”, frisou.

Outro papel fundamental que o Conselho Tutelar desenvolve, segundo Franco, é o de alertar as autoridades e reivindicar diante da sociedade que o agressor responda de acordo com o crime que ele cometeu. “Tentamos sempre fazer também recomendações preventivas para que os pais possam agir, antes que aconteça o pior”, destacou.

Tratamento psicológico é fundamental

Quando a criança passa pelo trauma do abuso sexual, ela imediatamente é encaminhada para o tratamento psicológico, pois é fundamental para que a vítima tenha recuperação mais eficaz à situação sofrida. A psicóloga Sandra Mara de Carvalho informou que são várias abordagens que podem ser utilizadas no tratamento psicológico da criança que foi abusada sexualmente.

A que ela utiliza é a cognitiva, que consiste em trabalhar a memória utilizando métodos lúdicos, pois o elemento cognitivo é o mais afetado por causa do trauma. “O trabalho é de resignificar a memória da vítima para superar e tentar tirar da situação uma razão para ser alguém melhor”, disse.

Ela ressaltou que se o trauma não for tratado rapidamente, a criança pode ficar com sequelas para o resto da vida. “Se ela tiver um aparo familiar bom e tratamento psicológico sem interromper, a vítima tem todas as condições de recuperação efetiva”, frisou. Quanto à família da criança, geralmente não é encaminhada para terapia, mas o psicólogo tem de ter a sensibilidade de perceber que para melhores resultados é necessário que os familiares também passem por apoio psicológico.

“A família também tem de receber esse amparo, porque muitas vezes, por exemplo, a mãe não está conseguindo digerir bem o problema e a criança que está passando por terapia até apresenta avanços, mas daí, de uma forma indireta ou não, a mãe que não está conseguindo superar o trauma acaba interferindo na evolução psicológica da vítima”, explicou.

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