Cotidiano

Desabastecidos, garimpeiros buscam alimentos doados à Yanomami, diz Funai

Com espaço aéreo controlado pela Aeronáutica desde o dia 30 de janeiro, garimpo ilegal deixou de ser abastecido por helicópteros e aviões, principais meios de transporte e logística.

O desabastecimento de insumos para o garimpo ilegal, tem levado invasores a buscar os alimentos doados aos indígenas nas comunidades Yanomami. A afirmação é da diretora de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Lucia Alberta. 

Desde o dia 30 de janeiro, o espaço aéreo na reserva está totalmente controlado pela Aeronáutica, o que afetou o transporte de pessoas e logística garimpeira. Parte dos acampamentos ficam em áreas de difícil acesso, alcançadas somente via helicópteros e aviões de pequeno porte.

“Por conta dessa pressão que eles estão sentindo, os garimpeiros, de não conseguirem mais levar principalmente os insumos, eles estão buscando alimento que nós estamos enviando para os indígenas. Buscando de várias formas, até mesmo em situação de violência”, disse Lucia.

Para frear a movimentação de garimpeiros em busca das cestas básicas, o governo pode paralisar o envio de alimentos às comunidades alvo, afirma a diretora. A principal preocupação, segundo ela, é o aumento da violência. Lideranças indígenas e garimpeiros relataram assassinatos motivados por conflitos entre os grupos, na região do Homoxi. Ao menos três jovens indígenas foram assassinados e um homem, identificado como o garimpeiro Enandes Belo da Silva, de 45 anos, foi morto com um tiro na cabeça.

Sem comida ou transporte, alguns invasores têm entrado na floresta fechada ou se arriscado em barcos lotados para deixar o território. Um grupo de mulheres disse em uma gravação que a saída por helicóptero custa R$ 15 mil. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, espera que 80% das cerca de 15 mil pessoas envolvidas no garimpo ilegal saiam da região ao longo da semana.

“[…] essas pessoas não sabem caçar como os indígenas. Então, é um risco muito grande e nós temos que ficar atentos. Por isso, nós temos que tirar logo esses garimpeiros de lá, porque corre o risco de nós, como governo federal, tomarmos a decisão de não entregar cestas nesses lugares onde é possível essa violência”, salientou.

Comitiva da ministra Sônia Guajajara sobrevoou as regiões de garimpo na Terra Yanomami – Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV

Uma comitiva da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, está em Roraima desde sábado (4) para acompanhar as ações na Terra Yanomami. No domingo, o grupo realizou um sobrevoo na região e visualizou diversas áreas devastadas pela mineração ilegal e grande concentração de garimpeiros.

Nesta segunda-feira (6), foi anunciada a instalação de um hospital de campanha, próximo à base de Surucucu, referência no tratamento de doentes na Terra Yanomami. A intenção é evitar que os doentes mais graves precisem ser transferidos para a capita e diminuir a demanda na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai-Y) e Hospital da Criança Santo Antônio, ambos em Boa Vista.

Maior reserva indígena do país, a Terra Yanomami possui cerca de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Roraima e Amazonas. São ao menos 371 comunidades e quase 30 mil indígenas. 

A exploração ilegal de minérios na região é apontada como um dos principais fatores da crise sanitária e humanitária que assola o território.