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Delegada de RR relembra embate com delegado preso pelo assassinato de Mariele: 'Machismo'

Delegada Giuliana Castro relembrou nas redes sociais o embate com Rivaldo Barbosa, após ter a fala interrompida por ele em reunião entre chefes das Polícias Civis, quando ela ocupava o cargo de delegada-geral de Roraima, em 2018.

Rivaldo Barbosa foi chefe da Polícia Civil do RJ - Foto: Divulgação
Rivaldo Barbosa foi chefe da Polícia Civil do RJ - Foto: Divulgação

A prisão do delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, suspeito pelo assassinato da vereadora Mariele Franco, trouxe para a delegada de Roraima, Giuliana Castro, lembranças de um embate entre os dois, em 2018. Ela publicou o relato nas redes sociais e avaliou o momento vivido como um caso de machismo.

“Em 2018, eu estava em uma reunião com Chefes de Polícia de todo o Brasil. No momento da minha fala, sofri atitudes machistas e estava sendo interrompida a todo momento pelo então chefe de polícia do RJ, que estava sendo desrespeitoso e machista comigo. Chamei a atenção e tive uma discussão com ele, foi um climão, interviram, mas foi necessário para impor respeito. O nome do Delegado machista: Rivaldo Barbosa”, diz a delegada Giuliana na publicação.

A delegada ocupava na época o cargo de delegada-geral roraimense e era a única mulher no encontro que exercia a função de liderança. À Folha, ela explica que todos expuseram ideias e relatos sem interrupções, mas enquanto ela falava sobre o funcionamento da corporação em Roraima, foi interrompida constantemente, em especial, por Rivaldo.

“Diante dessas interrupções, eu fui obrigada ali a parar o meu posicionamento e questionar, e tivemos ali um embate sobre essas interrupções. O que aconteceu foi que eu parei e questionei, e me impus e disse: senhor delegado, eu não o interrompi, ninguém interrompeu, nenhum homem foi interrompido em sua fala, e o senhor acabou de fazer a sua explanação. Eu gostaria que o senhor respeitasse a minha fala e eu gostaria de saber por que só eu, a única mulher aqui presente, estou sendo interrompida a todo momento pelo senhor, especialmente. E gostaria que isso parasse, porque isso está caracterizado o machismo aqui presente nesta reunião”, detalhou a delegada.

A delegada explica que pediu uma reprimenda ao presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia Civil, mas não foi atendida. Porém, foi solicitado que Rivaldo parasse de interrompê-la. 

Delegada Giuliana Castro foi delegada-geral de Roraima – Foto: Nilzete Franco/FolhaBV

Após o momento de tensão e constrangimento, a delegada detalha que foi elogiada pelos colegas por seu posicionamento. Além disso, seus apontamentos foram respeitados e, inclusive, aplicados. A exemplo da identidade visual das Polícias Civis, que foi sugestão de Roraima.

“Minha fala não foi levada em consideração o machismo, mas sim, a falta de respeito pela minha pessoa ali. Mas, claro que aquilo foi uma atitude machista, afinal de contas, eu era a única mulher que estava sendo interrompida, era a única mulher presente e a única delegada-geral da Polícia Civil, que estava sendo interrompida”, salientou.

Sobre a prisão de Rivaldo, no lado pessoal, a delegada diz que se sentiu orgulhosa do seu posicionamento naquela reunião. Ela lamentou também que um delegado da Polícia Civil esteja envolvido nesse caso.

“É lamentável que um chefe de polícia, que um delegado da Polícia Civil, utilize do seu cargo para praticar atos criminosos, não apenas para impedir a investigação, mas também para ajudar a cometer esses atos criminosos, como diz a acusação, e isso é realmente lamentável em todos os aspectos. Mas, por outro lado, hoje o sentimento, não apenas meu, mas de toda a nossa nação, é que a justiça está sendo feita no caso da vereadora Marielle Franco”, finalizou.

Entenda 

O delegado Rivaldo Barbosa, foi preso pela Polícia Federal na manhã do domingo (24/3), suspeito de mandar matar Marielle Franco. Além dele, foram presos o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e o irmão dele, Domingos Brazão, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio.

A Operação Murder Inc. apura os homicídios da vereadora e do motorista Anderson Gomes e a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves.

Marielle Franco era socióloga e vereadora do Rio de Janeiro. Ela foi morta a tiros na noite de 14 de março de 2018, após participar de um evento para a juventude negra na Lapa, zona central. O ataque aconteceu na Rua Joaquim Palhares, também no centro do Rio.

Antes dessa operação, apenas os executores do assassinato tinham sido presos: os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz e o ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, o Suel.