Vinte e nove famílias já receberam os corpos dos presos mortos durante o massacre ocorrido na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), zona Rural de Boa Vista, na madrugada de sexta-feira, 06. Os corpos foram identificados por meio de perícia papiloscópica feita pelo Instituto de Medicina Legal (IML) e Instituto de Identificação durante o fim de semana.
Enquanto esperavam a liberação, embaixo de árvores, alguns familiares solicitaram do Governo do Estado o serviço de assistência para realizar o sepultamento. Na tarde de sábado, 7, de hora em hora os legistas chamam as pessoas para fazerem o reconhecimento. Foi também na tarde de sábado que uma tenda foi instalada em frente ao IML.
A vendedora Simone Alves chegou ao local de manhã bem cedo e esperava por informações sobre a situação do marido, preso na unidade há dois meses por porte de drogas. “Estou esperando qualquer informação. Meu marido estava na cozinha. O nome dele não foi divulgado e ninguém sabe dizer se ele está vivo ou morto. Eu não sei o que fazer. É um descaso do Governo o que está acontecendo com a gente”, desabafou.
Uma mulher, que preferiu não se identificar, recebeu a confirmação de que o marido, preso na penitenciária há poucos meses, era um dos mortos. Sem conter o choro, ela disse à equipe da Folha que estava aguardando a liberação do corpo e que já tinha solicitado do Governo do Estado a assistência para o funeral.
O clima em frente ao IML era de desespero. Muitas mulheres choravam a perda do marido, filho ou irmão. Uma delas, que também preferiu não se identificar, afirmou que não teria condições de custear o enterro do filho e foi informada pela equipe da Folha sobre a assistência do Governo. “Isso é o mínimo que eles [Governo] podem fazer. Se tivessem se preocupado antes, essa chacina não teria acontecido. Preferiram fingir que nada estava acontecendo dentro da Pamc.
Sabiam da existência das facções e que era perigoso. Meu filho estava pagando pelo crime que cometeu há mais de um ano, por conta de tráfico. Não tinha na a ver com facção nenhuma e agora olha só onde ele está: dentro de um saco”, disse.
Um rapaz, que é servidor público do Estado e ficou receoso de divulgar o nome, desabafou sobre as represálias que estava sofrendo por ser irmão de um preso morto. “A gente já está sofrendo com a perda e com essa enrolação do Governo e ainda temos que ouvir coisas como ‘bandido bom é bandido morto’. As pessoas não pensam que quem morreu ali dentro [Pamc] também é um ser humano. E o pior: são pessoas que não têm nada a ver com as facções e com essa rixa. As famílias também não têm nada a ver com isso. Agora estou aqui [no IML] esperando liberarem os pedaços do meu irmão para poder enterrar”, disse o servidor.
GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que equipes de psicólogos e assistentes sociais estão oferecendo suporte necessário às famílias, bem como possui equipe técnica preparada para fornecer serviço de assistência funerária, quando requisitado.
Em relação às indenizações, a Procuradoria Geral do Estado informou que o valor pago aos familiares é fixado pelo juiz da causa conforme a jurisprudência, e que os interessados podem ingressar com ação pedindo a indenização por danos morais em uma das varas da Fazenda Pública Estadual. (C.C)