Cotidiano

Comerciantes trabalham de portas fechadas com medo de assaltos 

A Folha encontrou comerciantes que fecham as portas e só abrem para atender clientes conforme eles vão chegando, por medo dos assaltos

RODRIGO SANTANA

Editoria de Cidades 

Trabalhar no comércio em Boa Vista não tem sido uma tarefa fácil devido à sensação de insegurança provocada pela criminalidade urbana. Em muitos casos, a alternativa encontrada pelos comerciantes para evitar a ação dos bandidos é trabalhar com a porta dos estabelecimentos fechada.

É o que acontece no mercadinho de dona Claudecir Viana dos Santos, que fica no bairro Jardim Floresta. Ela conta que já foi vítima de seis assaltos em seu estabelecimento. Desde então, decidiu colocar uma grade na porta principal para atender os clientes.

“Colocar grade na porta, que permanece fechada até que apareça um cliente, foi a única alternativa encontrada para não correr mais o risco de ser assaltada. Toda vez que chega uma pessoa para comprar, eu abro a grade para que entre”, explicou.

Dona Claudecir conta que se sente insegura com a ação dos bandidos na capital. Ela reclamou da falta de segurança e disse que o governo estadual precisa melhorar os investimentos no setor.

“Eu pago meus impostos em dia e, como contribuinte, mereço mais respeito. Trabalho com comércio há mais de uma década, mas agora vivo assombrada com a criminalidade. As autoridades precisam garantir nossa segurança”, reivindicou.

Outro estabelecimento comercial que também adotou a prática de fechar as portas enquanto não aparece cliente, foi o pet shop da Sandra Araújo, que fica no bairro Caimbé. Ela conta que nunca foi assaltada, porém tem receio da ação dos bandidos.

“A criminalidade cresceu muito em Roraima. Aqui mesmo, na capital, vemos muitos casos de estabelecimentos que são assaltados. Não queremos nos tornar vítimas também”, comentou.

Ela explica que todo cuidado é pouco quando se trata de comércio, pois os bandidos não estão dando mole. Inclusive, a orientação aos funcionários é de não abrir a porta para gente suspeita para evitar os assaltos.

“Aqui os clientes que chegam estão acostumados com nossa postura. Eles não reclamam e entendem nossa preocupação. Esperamos que um dia possamos ter mais tranquilidade, mas pelo visto isso vai demorar a acontecer”, reclamou. 

A reportagem da Folha procurou o governo de Roraima para saber sobre o quantitativo de casos envolvendo assaltos a comércios em Boa Vista, mas até o fechamento dessa matéria não obteve retorno.

Para saber sobre a atuação da Polícia Militar nas ruas da cidade, a reportagem procurou a PM, que informou por meio do 1º e 2° Batalhão da Polícia Militar, que realiza policiamento ostensivo diariamente nas áreas de comércio. 

“O policiamento ocorre nas adjacências da área comercial do Centro da Capital, onde também mantém uma equipe na Base Móvel Comunitária. Além disso, equipes da PMRR atuam prevenindo os crimes na área da avenida Venezuela e avenida das Guianas, que compreende os bairros Pricumã, São Vicente e 13 de Setembro”.

A PM ressaltou ainda que o policiamento rotativo na zona Oeste, tem ênfase nas áreas de comércio da avenida Ataíde Teive, desde o cruzamento da avenida São Sebastião até o cruzamento da avenida Venezuela, e inclui os bairros Jardim Floresta e Caimbé.

“A pessoa que estiver com algum problema relacionado à segurança, seja de urgência ou de emergência, deve entrar em contato com o telefone 190 que a Polícia Militar vai realizar o devido atendimento à ocorrência”, concluiu a nota.

A Polícia Civil de Roraima (PCRR), por meio do Núcleo de Estatística e Análise Criminal (Neac), informou que foram registrados no período de janeiro a agosto de 2019 um total de 109 ocorrências de roubo a estabelecimentos comerciais em Roraima.

Especialista afirma que população está refém da criminalidade

Especialista atribui aumento de crimes à falta de investimentos (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)

A especialista em segurança Carla Domingues disse que o fato do Governo Estadual não reconhecer a real situação da segurança pública está tornando a população refém da criminalidade.

“Hoje nosso maior problema é a má gestão. É obvio que se não há gestão, o caos já se instalou em nosso estado. Precisamos de gestores capazes de captar recursos, para serem investidos na segurança pública”, argumentou.

Ela afirmou que os gestores públicos estão preocupados em camuflar os problemas da falta de segurança divulgando dados duvidosos sobre a redução da criminalidade.

“O certo seria investir no policiamento preventivo e ostensivo para assim coibir a criminalidade. Além disso, investir na compra de equipamentos, viaturas, realização de concursos. Capacitar e valorizar os profissionais que já atuam na segurança pública”, pontuou.

Com relação à crise migratória, a especialista disse que esse é um fator a ser considerado, pois infelizmente, segundo dados estatísticos, é crescente o número de ocorrências envolvendo imigrantes no estado. 

“Posso afirmar que a imigração desordenada também contribuiu para o aumento da criminalidade no estado. Embora a segurança pública seja dever do estado, aconselho que os comerciantes invistam em mais segurança com a compra de equipamentos”, aconselhou.