Cotidiano

Com comércio em crise, onda de violência aumenta em Pacaraima

Se a situação na fronteira já era crítica com a migração em massa de venezuelanos, agora ficou pior com desemprego e criminalidade

Após cinco meses de alta nas vendas devido à grande demanda de venezuelanos, comerciantes de Pacaraima, ao Norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela, estão com grande estoque de mercadorias parado nos estabelecimentos. Um dos motivos é a desvalorização da moeda venezuelana, que até poucos meses atrás se manteve na faixa dos 350 bolívares por R$ 1,00. Agora está valendo em média Bs 700 para cada R$ 1,00.

Nas ruas que viviam cheias de carretas e caminhões descarregando fardos de comidas que eram levadas para o país vizinho, só restaram os buracos, um movimento fraco de compradores e venezuelanos desempregados, que chegam em massa, aumentando as mazelas. Além do alto custo dos alimentos brasileiros, este mês começaram a aparecer novamente nos supermercados venezuelanos alguns produtos da cesta básica que tinham sumido com a escassez.

Os comerciantes reclamam que estão sendo obrigados a fazer promoções, muitas vezes vendendo a preço de custo ou até menos para não correrem o risco de a mercadoria vencer. Segundo a empresária Agnes Lima, as vendas caíram mais de 50 %. “Estou vendendo até abaixo do preço para poder sair a mercadoria estocada”, explicou a comerciante que mudou de ramo quando começou a demandar por alimentos na região de fronteira. Antes ela vendia roupas e calçados.

A empresária Rafaela Breckenfeld comentou que os venezuelanos já chegam a Pacaraima com o dinheiro contado, mas como o câmbio subiu, as mercadorias praticamente duplicaram o valor. “Antes faziam fila para comprar, agora estamos fazendo promoções, pois temos caixas de sabão, manteiga e maionese que podem vencer”, salientou.

Para o comerciante Ismael Cruz, as vendas caíram 80% devido à desvalorização, pois cada vez trazem mais dinheiro e levam menos produtos. Outros comerciantes optaram por não aceitar mais a moeda venezuelana, alegando que toda vez que vão trocar o dinheiro, acabam perdendo pela desvalorização.

Além dos alimentos, a queda na procura por pneus de carros também afetou o comércio pacaraimense. Conforme o gerente de uma loja de pneu, Joel do Nascimento, as vendas diminuíram em 70%. Esse estabelecimento foi aberto quando começou a grande demanda do país vizinho, agora o empresário já pensa em mudar de ramo.

Alguns comerciantes antigos de Pacaraima reclamaram que muitos árabes abriram estabelecimentos na cidade e estavam comprando mercadorias usando as firmas deles, além de outras irregularidades que a fiscalização da Secretaria da Fazenda do Estado conseguiu coibir.

Criminalidade só aumenta na fronteira

O declínio do comércio local e a migração em massa de venezuelanos para a cidade fronteiriça de Pacaraima, Norte do Estado, na fronteira com a Venezuela, têm gerado altas taxas de criminalidade nos últimos seis meses. Prostituição, roubos, arrombamentos e tráfico de entorpecentes são crimes que estão assustando os moradores.

Muitas residências já foram invadidas e furtadas. É comum ver garotas se prostituindo perto dos bares no Centro da cidade. As brigas entre venezuelanos são constantes na frente de casas e comércios. Muitas delas já acabaram em homicídios que chocaram os moradores.

A comerciante Elizete Mesquita afirmou que os moradores da cidade não aguentam mais a situação. “Não tem mais segurança em nada. O medo é grande, a gente não dorme nem trabalha mais em paz. Qualquer barulho é um susto”, disse. Na semana passada tentaram entrar na residência dela pelo telhado, mas tinha pessoas na casa e chamaram a polícia. “Os que estão aqui trabalhando, dando duro, a gente ajuda, mas sabemos que tem muito pilantra que trouxe droga e prostituição, e anda arrombando carros e casas”, salientou a empresária.

A população pede mais policiamento, principalmente à noite, quando andam pela rua os venezuelanos desempregados, que antes ajudavam a descarregar as carretas com fardos de alimentos. Devido ao esquecimento do comércio local, os caminhões e carretas estão em menor quantidade agora, mas as pessoas que viviam disso ficaram pela cidade.

POLÍCIA – Segundo o delegado da Polícia Civil, Alberto Alencar, o grande problema são os venezuelanos que estraram no país de forma irregular. Para ele, o sistema de segurança da cidade está sobrecarregado. “Estamos com baixo contingente de agentes e muito trabalho para ser feito.”

Apesar de não informar estatísticas, o delegado afirmou que os crimes vêm aumentando após a entrada desordenada de venezuelanos, o que tem gerado altos índices de tráfico de entorpecentes, prostituição adulta e adolescente, além dos furtos em residências.

Mais índios venezuelanos chegam para engrossar número de pedintes

Os indígenas da etnia Warao, que tinham sido deportados pela Polícia Federal, já estão de volta e agora em maior quantidade. Eles pedem comida e dinheiro pelas ruas, invadem restaurantes e pegam alimentos dos pratos dos consumidores. Também há não indígenas dormindo nos bancos da rua principal, do comércio e ao lado do Banco do Brasil, onde tomam banho e lavam roupa.

As pessoas vivem com medo, pois são abordadas pelos indigentes nas saídas dos bancos, comércios e restaurantes. Os restaurantes estão perdendo clientes por esse motivo. O dono de uma churrascaria afirmou que o movimento diminuiu 50% por causa dos indígenas. “Eles mandam mulheres e crianças nas mesas, às vezes pedem, mas outras metem a mão mesmo nos pratos dos clientes”, salientou.

Os indígenas dormem, comem e lavam roupa numa área grande localizada ao lado da rodoviária de Pacaraima. Parece uma comunidade indígena no meio da cidade.

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