A distância entre as cidades de Uiramutã (Roraima) e Chuí (Rio Grande do Sul), passando por todo o litoral brasileiro, é de 10.160 quilômetros. Vencer esse
trajeto de bicicleta é uma tarefa complicadíssima. O arquiteto Fernando Zogaib, 42 anos, porém, foi além. O paulista de Valinhos completou o caminho em
apenas 50 dias e estabeleceu um novo recorde nacional.
A mesma travessia foi realizada por Marcelo Fiorentino, o “Mixirica”, em 57 dias, cinco anos atrás. Com a ideia de superar a marca, Fernando iniciou o caminho com o objetivo de completá-lo em 42 dias. Por causa de alguns imprevistos, o trajeto foi superado em 50 dias, de 26 de dezembro a 12 de fevereiro.
“Saí com planilha de todos os locais que percorreria e de pernoite, mas variáveis como a quebra de equipamento, condições climáticas, de relevo e condições das estradas jogaram o planejamento aos céus logo na segunda semana”, afirmou Fernando à coluna Pedala.
O novo recordista pedalou, em média, 203 quilômetros por dia. Fernando, que contou com conselhos de Mixirica durante a preparação, já está acostumado a longas distâncias. Ele treina 1.600 quilômetros por mês na região de Campinas ao lado de outros atletas, como os campeões brasileiro de MTB e ciclismo de estrada. Além disso, tem dezenas de cicloviagens no currículo – a primeira foi feita há 26 anos, com média de 110 km por dia.
A preparação mental, segundo o ciclista, também foi tranquila. “Eu sonhava com essa viagem diariamente. Só me preparei mesmo quanto à falta de segurança física que imaginaria enfrentar durante alguns pontos específicos do caminho. Era meu único medo”, frisou.
Um dos momentos mais complicados, de acordo com ele, foi superar alguns trechos movimentados, como a BR-101, em Pernambuco, a passagem por
Niterói e o Rio de Janeiro e a Rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo e no Paraná.
Solidariedade no caminho
Fernando ainda teve de lidar com muitas estradas de terra, sobretudo no norte do país. Na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, foram 150 quilômetros
sob essas condições. Diante da dificuldade, o câmbio da bicicleta quebrou, forçando o paulista a improvisar o conserto para continuar. Mais à frente, o
câmbio voltou a ter problemas. Ele, então, contou com a solidariedade de pessoas desconhecidas.
“Minha coroa 53 não segurava mais a corrente ao menor esforço. Entrei em contato com a Vivian que mora em Santarém [Pará] e tinha oferecido ajuda uns
dias antes. Passei uma lista de peças e também falei que precisaria de uma revisão geral. Cheguei lá foi para um pit stop de Fórmula 1! Deixamos a bike
destruída no mecânico às 21h. No dia seguinte, às 7h, lá estava a Vivian com a bike nova. O Alisson, mecânico que trabalhou na bike até as 2h, ainda não quis me cobrar pelo serviço”, contou Fernando.
A bike escolhida foi uma comprada em 2017 e completamente conhecida de Fernando. Antes da travessia, ele já havia percorrido 36 mil quilômetros com ela.
A uma semana da viagem, ela ganhou equipamentos novos para aguentar o tranco. O peso dela ajudou no desafio. O ciclista carregou 15 kg no total (oito da
bicicleta e sete de bagagem).
Leveza para seguir
O paulista optou por abdicar de uma barraca, por exemplo, e dormir em pousadas pelo caminho. Ainda assim, foi despachando peças de roupas pelo
caminho. No fim da viagem, a bagagem era de dois quilos – ele já não andava com a mochila no bagageiro traseiro. Isso facilitou a vencer os mais de 61 mil
metros de grau de elevação.
Fernando atravessou o Brasil com os próprios recursos, sem o apoio de empresas ou patrocínios. A escolha foi dele mesmo. “Por duas vezes tive
oportunidade de receber patrocínio, mas preferi abrir mão. Queria realizar 100% desta aventura ‘solo’. Com a cabeça leve. Não queria o sentimento de ter de
responder a expectativa de outro além da minha própria”, explicou o ciclista, que já planeja a próxima cicloviagem.
Fonte: Portal Uol