A Defesa Civil de Roraima se prepara para qualquer ocorrência ou situação que possa ser causada por possíveis enchentes neste inverno de 2016. A mobilização ocorre em um trabalho mútuo com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), com a elaboração do plano de contingência, que visa mapear os riscos e dar possíveis soluções, caso as chuvas se intensifiquem.
No fim de semana, houve um aumento de 23 milímetros no nível do Rio Branco, mas o secretário executivo de Defesa Civil Estadual, Jefferson Abreu, disse que ainda não é um alerta para que sejam tomadas providências. “Nesse primeiro momento, estamos realizando uma movimentação, junto às coordenadorias municipais, para auxiliá-las com as análises das prefeituras sobre riscos e vulnerabilidades com pontes, nível dos rios e verificando locais adequados que possam servir de abrigo, caso necessário”, disse.
A montagem do plano de contingência é importante para detalhar informações sobre características de uma área e definir as responsabilidades em uma organização. O objetivo é organizar, facilitar e adiantar as ações necessárias para o controle e combate a situações anormais. “Atualmente, estamos realizando a fase de planejamento, ou seja, nos preparando para qualquer eventualidade que fuja da normalidade. Nenhuma operação está em andamento e, de acordo com as informações meteorológicas, talvez nem seja necessário, diferente dos casos de 2006 e 2011.”
Em 2006, o nível do Rio Branco, principal do Estado, chegou a 8,8m, causando estado de emergência em Boa Vista e em outros municípios de Roraima. Mais de 368 famílias foram retiradas de suas residências e encaminhadas para abrigos por mais de dois meses. No ano de 2011, o rio chegou a atingir mais de 10 metros acima do nível normal, quando 70% da cidade de Caracaraí, a Centro-Sul do Estado, ficaram submersos.
O diretor da Defesa Civil Municipal, Amarildo Gomes, disse que o plano de contingência está pronto e que já estão sendo realizados o mapeamento das prováveis áreas de risco e o cadastramento das famílias que moram nessas mediações. Cerca de 90 famílias já foram cadastradas. “Na quinta-feira, visitamos o Caetano Filho [Beiral, no Centro], porque é um local que não escapa de enchente, caso ocorra alguma. Hoje, 09, visitaremos os bairros Caranã e Cauamé, que estão próximos de buritizais e igarapés”, relatou.
Segundo Gomes, cada secretaria do Estado é responsável por uma situação, como saúde, educação, abrigo, meio ambiente e outras. Ginásios serão utilizados como abrigos em caso de inundação e, com o auxílio do Corpo de Bombeiros, a remoção das famílias será realizada.
CONTATO – Mesmo sem previsão de enchentes, a população pode contatar o Corpo de Bombeiros (193) e a Prefeitura de Boa Vista (156) caso precise de auxílio. O Corpo de Bombeiros possui equipes em prontidão com barcos, material para mergulho e possui quartéis nos municípios de Rorainópolis (Sul do Estado), Pacaraima (Norte) e Caracaraí (Centro-Sul), todos abastecidos com equipamentos.
Moradores do Beiral temem que inverno seja rigoroso no Estado
Os moradores da área Caetano Filho, o Beiral, localizada no Centro, estão preocupados com o aumento do nível das águas do Rio Branco. Com a chegada do inverno, o receio é que a enchente histórica ocorrida em 2011 volte a prejudicar o cotidiano dos que lá vivem. A preocupação é devido à percepção no aumento do volume das águas.
No entanto, de acordo com dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), a tendência é de que o nível se eleve um pouco, mas dentro da normalidade, pois as previsões de chuvas para os próximos meses também estão num padrão de normalidade.
Apesar das previsões não indicarem chuva acima das precipitações esperadas, os moradores não escondem a aflição e relatam suas experiências com enchentes passadas. Segundo eles, quando as águas do rio invadem ruas e casas das partes mais baixas da Capital, é preciso se adaptar a uma rotina já conhecida por muitos.
A dona de casa, Isaura Pina, 62, mora há 18 anos no Beiral e fala dos transtornos causados pelas cheias. Ela teme que este ano seja semelhante a 2011, quando o nível do rio ultrapassou 10 metros. “Quando o rio sobe, ficamos muito preocupados. Geralmente temos que ir para abrigos, casas de amigos e parentes. Meu negócio fica prejudicado, sendo impossível vender café da manhã, como faço todos os dias”.
Para os vendedores de peixe, os transtornos também acontecem, no entanto eles estão acostumados a criar alternativas para driblar possíveis prejuízos. “Quando a água sobe, levamos nossa estrutura para onde permanece seco, dando continuidade a nossas vendas”, comentou o pescador e vendedor de peixe, Júlio Pinho Ramos, 34.
Apesar das dificuldades, o pescador e também vendedor de peixe, Fernando Pereira, 52, disse que a época de cheia é propícia para pescar devido ao aumento do número de peixes no Rio Branco. “Pelo menos peixe não falta. Apesar da enchente, ficamos aqui, porque pescador tem que ficar na beira do rio”, frisou.
Previsões são de chuvas dentro da normalidade nos próximos 3 meses
O meteorologista da Femarh, Ramon Alves, explicou que desde abril, Roraima entrou na fase de transição da estação seca para a chuvosa. Porém, as previsões para os próximos meses indicam precipitações de chuva acima de 300 milímetros, padrão considerado normal. “Nos primeiros dias de maio, choveu em Boa Vista 28,8 milímetros, aumentando o nível do rio em 153 centímetros”, informou.
Alves explicou que o Estado vem sofrendo nos últimos anos diversas influências do El Niño, fenômeno atmosférico que aquece as águas do Oceânico e afeta o clima, alterando os regimes de chuva e ocasionando um longo período de seca. “Apesar da diminuição deste fenômeno, ainda há indicativo de manutenção do aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, até meados deste trimestre. Sendo assim, o El Niño continuará modulando o clima para os próximos meses”, frisou.