Mesmo depois de uma ação realizada pela Prefeitura de Boa Vista, na semana retrasada, quando catadores de lixo e seus familiares foram retirados do aterro sanitário da capital, os trabalhadores voltaram para o local. A equipe de reportagem da Folha flagrou cerca de dez pessoas trabalhando no lixão ontem, 24, pela manhã.
Segundo a catadora C.L., de 35 anos, há três anos ela ficou desempregada e não conseguiu mais oportunidade no mercado de trabalho. O único meio encontrado para alimentar os cinco filhos foi catando no lixão. Ela foi uma das pessoas retiradas do local, mas resolveu voltar porque os filhos estão passando fome. “Essa foi a única saída que encontrei depois que fiquei desempregada. Tenho cinco crianças pequenas e é catando que alimento elas. Sei que não posso estar aqui, mas meus filhos acordaram chorando, com fome. Esse foi o único jeito que encontrei para conseguir alimentos para eles”, contou.
A indígena F.S., de 25 anos, disse que não cumprirá a ordem para sair do local, “pois a Prefeitura tirou as pessoas do aterro, mas não deu amparo”. “Eu estou aqui e sempre vou estar. Tenho filhos para criar. A Prefeitura nos tirou daqui, mas não nos deu nada. Então não obedeço à ordem deles”, garantiu.
Procurado pela Folha, o Ministério Público do Trabalho informou que “irá tomar as providências que o caso requer, diante da decisão judicial estabelecida”.
OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente informou que todas as pessoas que insistem em continuar entrando no Aterro Sanitário estão sendo retiradas pela empresa responsável pela administração do local, a Sanepav, e levadas para delegacia por descumprimento de mandado judicial.
A Sanepav afirmou que toda a área do lixão é cercada e há uma vala de cinco metros de profundidade, construída com objetivo de impedir a entrada de pessoas não autorizadas. Entretanto, o acesso acaba sendo burlado pelos fundos do local.
INTERDIÇÃO – Duas semanas atrás, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego flagraram crianças e adolescentes trabalhando em situação precária no lixão. O aterro sanitário foi interditado e reaberto dois dias depois por decisão judicial. (E.S)