Cotidiano

Casal perde filha recém-nascida e diz que vai processar Maternidade

ANA GABRIELA GOMES

Editoria de Cidade

Trinta e um de dezembro de 2019. Exatos três dias após o nascimento da primeira filha, o casal, Daniele Marques e Marcelo Nascimento, retornou ao Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth para receber a notícia do óbito da primogênita. Desolados com o ocorrido, o casal afirmou à Folha que houve negligência por parte da unidade de saúde e, por isso, vai entrar com ação via Ministério Público Estadual (MPRR).

“Vocês já sabem, né? A criança de vocês morreu”. Foi assim, segundo Marcelo, que o casal recebeu a notícia que mudou a vida de ambos. Daniele, de 34 anos, esclareceu ter realizado todo o acompanhamento de pré-natal, bem como consultas e exames, para que nada de errado acontecesse com a criança. Durante o período, nenhum sinal de perigo foi constatado. Quase dois meses depois, ela disse ainda ter problemas para comer e dormir.

Daniele deu entrada na maternidade no dia 28 de dezembro, à noite, com dores e pressão alta. “Fui pra nada. Passei a noite esperando por algum exame ou consulta que não aconteceram. De manhã, quando apareceu alguém para auscultar minha filha, os batimentos já estavam irregulares. Foi quando me mandaram pra cesárea de emergência. Ela já nasceu roxa, mas foi levada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal”, explicou. 

No dia 31 de dezembro, após receber alta, Daniele foi em casa para trocar de roupa. Horas depois, recebeu a ligação da maternidade requisitando a presença da família. “Desde então eu não durmo, eu não como, eu só choro. Eu fiz tudo certo. Só hoje vejo a negligência que sofremos no dia em que eu entrei lá, sentindo dor, e não fui atendida da maneira como deveria”, disse ao relembrar o período de gravidez.

O pré-natal de Daniele começou no terceiro mês, logo após descobrir que estava grávida. O primeiro ultrassom foi realizado em uma clínica particular. No resultado: deslocamento de placenta. Ao procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS), foi aconselhada a procurar o Centro de Referência da Mulher, tendo em vista o resultado do exame e a possibilidade de uma gravidez de risco.

Já no Centro de Referência, uma segunda ultrassom foi realizada. Ao verificar a imagem, no entanto, a médica informou à Daniele que não se tratava de uma gravidez de risco e que a mesma poderia realizar o acompanhamento pré-natal junto a uma UBS. “Foi tudo bem em todas as consultas do pré-natal, o batimento estava normal e não dava nada de errado no ultrassom”, relatou. O final da história, porém, já se sabe.

Após receber a notícia, os pais foram informados de que a bebê havia ingerido mecônio (fezes) quando ainda estava dentro da mãe, e que isso teria comprometido o quadro da criança. Durante toda a operação de cesárea, nem o esposo e nem a mãe de Daniele foram informados da situação da mãe e da criança. “Quando ela nasceu, que a entubaram, eu já sabia que era só Deus mesmo”, contou Daniele.

O casal chegou a procurar o Instituto Médico Legal (IML) para que alguém lesse o atestado de óbito da filha, mas foram informados por um servidor de que a criança não havia ido para o local. “Não sabíamos que ela não tinha ido. Soubemos da notícia e não conseguimos pensar em nada. Se eu soubesse, teria feito o Boletim de Ocorrência pra ela ir ao IML e ficaria lá até saber o motivo da morte”, ressaltou Marcelo.

Para Daniele, a filha ainda estaria viva, e em casa, se ela tivesse sido corretamente atendida no dia em que deu entrada na maternidade. “Sei que não teremos mais ela aqui, mas a gravidez foi planejada e nós queremos honrar o nome dela. Eles anunciam tanto que há óbito por falta de pré-natal e orientação, por que então nossa filha morreu se houve todo esse acompanhamento?”, indagou a mãe.

OUTRO LADO – Em nota, a Direção Geral da Maternidade informou que a paciente deu entrada de madrugada na unidade e que a equipe de plantão solicitou o exame de ultrassom para avaliar a vitalidade fetal. Informou ainda que, após o exame, Daniele foi encaminhada para o parto cesáreo, devido à diminuição no batimento cardíaco do bebê, mas que o bebê, no entanto, fez aspiração meconial (quando o bebê faz cocô dentro da barriga e aspira, indo para o pulmão). A direção esclareceu ainda que, devido ao quadro infeccioso da mãe, ocorreu a piora no quadro de saúde da criança. No entanto, ressaltou que, conforme o prontuário, a paciente não deixou de ser atendida em nenhum momento, passando por todos os procedimentos indicados para situações como esta. Sobre o atendimento, a nota orientou que a família registrasse a ocorrência na Ouvidoria. “A Direção reforça que vai buscar esclarecimentos junto aos profissionais para saber o que de fato ocorreu”, finalizou a nota.