Verônica Vanessa da Silva relata: “Fiz o requerimento e fui deferida em todas as opções disponíveis. Não havia campo referente a apoio de cuidadora para necessidades fisiológicas. (Foto: Arquivo Pessoal).

A candidata Verônica Vanessa da Silva procurou a FolhaBV para denunciar situação de constrangimento e falta de acessibilidade durante a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, realizada neste domingo (9), no Colégio Militarizado Estadual Professora Maria de Lourdes Neves, em Boa Vista.

Verônica é cadeirante e possui uma lesão medular grave. Segundo o relato, sua cuidadora foi impedida de permanecer na escola durante a aplicação da prova, mesmo ela explicando que o acompanhamento era indispensável para que pudesse realizar suas necessidades fisiológicas com segurança e dignidade.

“Cheguei ao local acompanhada, como de costume, pois dependo da ajuda da minha cuidadora para esvaziar a bexiga. A presença dela é indispensável, já que possui o treinamento necessário, e por conta das minhas comorbidades, não posso ser assistida por alguém sem preparo adequado”, relatou.

Conforme Verônica, a cuidadora foi retirada da escola imediatamente, sem qualquer possibilidade de diálogo. 

“Por diversas vezes tentei alertar o responsável pelo local sobre minha necessidade, pois sabia que em algum momento sentiria dor e precisaria ir ao banheiro. Já participei de concursos públicos e nunca enfrentei esse tipo de problema, a única exigência era que minha acompanhante permanecesse fora da sala, entrando apenas para me auxiliar a esvaziar a bexiga”, relatou emocionada.

Sem poder contar com o auxílio, a candidata acabou passando por uma situação de constrangimento durante a prova.

“Me urinei, fiquei suja até o final da prova, constrangida, humilhada e nervosa. O fiscal, leitor e transcritor foram extremamente educados comigo e tentaram me tranquilizar, mas nada mais podia ser feito. Ainda tentaram me levar ao banheiro para ajudar, mas imagine o constrangimento para nós duas. Eu não tenho força alguma no corpo, pois tenho tetraparesia e se eu caísse? Foi uma situação profundamente traumática”, completou.

Ela afirma ainda que o problema comprometeu o seu desempenho na prova, especialmente na redação.

“Esse acontecimento me prejudicou da metade da prova até o final. Sinto-me profundamente humilhada, pois venho lutando para superar meus limites e conquistar uma vaga no ensino superior. Tenho me preparado e estudo diariamente, inclusive para concursos, e ainda assim fui prejudicada dessa maneira”, relatou.

A participante conta que os responsáveis pela aplicação alegaram que o auxílio da cuidadora deveria ter sido solicitado previamente, porém ela garante que não havia essa informação no edital.

“Tentei relatar assim que cheguei, mas não me deram a oportunidade de ser plenamente ouvida. Fiz o requerimento e fui deferida em todas as opções disponíveis. Não havia campo referente a apoio de cuidadora para necessidades fisiológicas. Seria algo que eu iria explicar na hora, como já tinha feito diversas vezes em outros certames”, finalizou.

O outro lado

A equipe de reportagem da FolhaBV entrou em contato com o Ministério da Educação (MEC) e aguarda retorno.