ATO HISTÓRICO

Assembleia Extraordinária da Terra Indígena Raposa Serra do Sol marca lançamento do Protocolo de Consulta

Para Elinea de Souza, coordenadora regional das mulheres, o Protocolo é uma lei indígena que fortalecerá as lideranças na condução de seus trabalhos, garantindo a autonomia das comunidades frente a invasões e empreendimentos que possam impactar seu território

A construção desse protocolo foi uma demanda das próprias comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol (Foto: Divulgação)
A construção desse protocolo foi uma demanda das próprias comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol (Foto: Divulgação)

Em um ato histórico que ecoa os mais de 30 anos de luta pelo território, os povos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol celebraram uma conquista significativa nessa sexta-feira (8).

Durante o primeiro dia da Assembleia Extraordinária, realizada no emblemático Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), foi lançado o Protocolo de Consulta, uma legislação que visa assegurar e proteger os direitos dos povos indígenas, especialmente em relação ao território, fortalecendo sua autonomia e organização social.

A assembleia, reuniu lideranças para debater a situação atual do território, avaliando os progressos e desafios enfrentados ao longo dos anos.

(Foto: Divulgação)

O Protocolo de Consulta, fruto de seis anos de construção efetiva, foi recebido por mais de 47 tuxauas (homens e mulheres), coordenadores de jovens, membros do Grupo de Proteção, Vigilância Territorial Indígena (GPVTI), agentes indígenas de saúde (GPVTI) e outras lideranças presentes. Com suas 59 páginas, o documento registra não apenas o histórico de luta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, mas também suas leis constitucionais e, sobretudo, as leis próprias que regem essas comunidades.

A construção desse protocolo foi uma demanda das próprias comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol, apoiada pelo departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e por uma comissão de lideranças que acompanharam todo o processo, desde sua sistematização até a revisão final do material.

Junior Nicacio, advogado indígena e coordenador do departamento jurídico do CIR, destacou a importância histórica desse momento, ressaltando que o Protocolo de Consulta é a lei máxima da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, servindo não apenas para orientar as relações internas, mas também como instrumento de diálogo com os governos federal, estadual e municipal.

O documento também registra o histórico de violência enfrentado pelos povos indígenas da região, relembrando eventos como o ataque à comunidade 10 Irmãos e a destruição de diversas comunidades, mantendo vivo o registro desses eventos para buscar justiça e manter viva a resistência pelo território.

Nicacio enfatizou que o Protocolo não visa inviabilizar empreendimentos, mas sim garantir que qualquer projeto que afete a vida dos povos indígenas da região seja precedido de consulta às comunidades afetadas.

A Terra Indígena Raposa Serra do Sol abriga cinco povos e mais de 200 comunidades, totalizando uma população de 32 mil indígenas. O Protocolo, segundo Nicacio, respeita a diversidade cultural e busca sempre prevalecer as decisões coletivas.

O presidente do Conselho Local de Saúde Indígena, Dioclecio da Silva Henrique, ressaltou que o Protocolo representa o direito dos povos indígenas de serem ouvidos e consultados sobre questões que afetam suas vidas.

Para Elinea de Souza, coordenadora regional das mulheres, o Protocolo é uma lei indígena que fortalecerá as lideranças na condução de seus trabalhos, garantindo a autonomia das comunidades frente a invasões e empreendimentos que possam impactar seu território.

O lançamento do Protocolo de Consulta foi acompanhado por diversas entidades e instituições, incluindo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério Público Estadual (MPE) e organizações indígenas locais.

O procurador do Ministério Público Estadual (MPE), André Paulo, ressaltou a importância do Protocolo como uma garantia dos direitos indígenas, afirmando que qualquer autoridade estatal deve respeitar as leis indígenas.

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.