INTERNACIONAL

Após duas décadas, direita lidera disputa presidencial na Bolívia

Se as urnas confirmarem as pesquisas, a Bolívia poderá testemunhar o fim de um ciclo político iniciado em 2006

Eleição marcada para 17 de agosto será decisiva para futuro político do país (Foto Divulgação)
Eleição marcada para 17 de agosto será decisiva para futuro político do país (Foto Divulgação)

Pela primeira vez em quase 20 anos, a direita lidera as intenções de voto para a presidência da Bolívia. Com as eleições gerais marcadas para o dia 17 de agosto, o país sul-americano, que faz fronteira com o Brasil e tem cerca de 12 milhões de habitantes, vive um cenário político inédito desde a chegada de Evo Morales ao poder em 2006.

Em meio à fragmentação da esquerda e ao apelo de Evo pelo voto nulo, o megaempresário Samuel Medina, da coligação Alianza Unidad, aparece como favorito nas pesquisas, seguido por Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente e candidato pela Alianza Libertad Y Democracia. Juntos, os dois nomes da direita somam cerca de 47% das intenções de voto, segundo levantamento do jornal El Deber publicado neste domingo (3).

A eleição, além de presidente e vice-presidente, também renovará os 130 assentos da Câmara de Deputados e os 36 do Senado. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa obter 50% mais um dos votos válidos, ou 40% com uma vantagem mínima de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado. Caso esse cenário não se concretize, o país poderá viver um segundo turno inédito, já marcado para 19 de outubro.

Esquerda rachada e sem rumo

A esquerda boliviana chega às urnas em crise. O atual presidente Luis Arce, desgastado por uma prolongada crise econômica e enfrentando tensões internas no partido, decidiu não concorrer à reeleição. Em seu lugar, o MAS (Movimento ao Socialismo) lançou como candidato o ex-ministro Eduardo De Castillo, que amarga cerca de 2% das intenções de voto e enfrenta resistência até mesmo de movimentos de base do partido.

Já o presidente do Senado e ex-líder cocaleiro Andrónico Rodríguez, que chegou a ser apontado como possível nome de consenso à esquerda, também enfrenta queda vertiginosa nas pesquisas. Ex-aliado de Evo Morales, Rodríguez caiu de cerca de 14% para 6% nas últimas semanas, segundo levantamento da Unitel.

Enquanto isso, Evo Morales, ainda figura influente no cenário político nacional, adotou postura radical: tem defendido abertamente o voto nulo, aprofundando o racha interno da esquerda e reduzindo ainda mais as chances de uma candidatura progressista competitiva.


Novos ventos?

Se as urnas confirmarem as pesquisas, a Bolívia poderá testemunhar o fim de um ciclo político iniciado em 2006 com a chegada de Morales ao poder. A ascensão da direita sinaliza uma guinada importante no país andino, que, após anos de governos liderados pelo MAS, parece caminhar para uma nova configuração política — mais liberal e voltada ao setor privado, especialmente no que diz respeito à economia e à política internacional.

Com um eleitorado fragmentado, uma esquerda desmobilizada e o voto conservador consolidando-se, os próximos dias serão cruciais para o futuro político da Bolívia — e também para os reflexos na geopolítica sul-americana.

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