Cotidiano

Após chuvas, mosquitos invadem casas e incomodam população

Dos 54 bairros avaliados, 28 foram classificados como alto risco, 18 com médio e oito com baixo risco de infestação do mosquito

Não são apenas os alagamentos de ruas que tiram a paz dos moradores de Boa Vista após as chuvas. Alguns visitantes indesejáveis acabam invadindo as residências e muitas vezes tiram o sono da população: os mosquitos. A preocupação com estes pequenos invasores aumenta quando há risco de se contrair doenças como dengue, zika e chikungunya.

Dormir na casa do vigilante João Guimarães, de 48 anos, não seria possível se não tivesse ventiladores. Há vinte anos morando no bairro Pintolândia, zona Oeste de Boa Vista, ele reclama que o ataque dos mosquitos dura o dia inteiro. 

“Devido a esse período chuvoso, aumentou mais um pouco. Sempre teve bastante. Aqui próximo tem uma lagoa, mas acho que isso é de fossa. Os próprios moradores não cuidam e deve ter algum buraco aberto. Na minha casa eu sempre tenho o maior cuidado, mas a gente não pode estar fiscalizando os vizinhos, né?”, comenta Guimarães, que tornou o inseticida um item indispensável na lista de compras do mês.

Mesmo sem histórico de doenças provocadas por mosquito dentro de casa, João Guimarães acredita que deveria haver uma maior vistoria e combate aos pequenos invasores por parte do governo municipal e estadual. “Eu queria uma fiscalização maior da saúde para ir nas casas. Se a gente for falar com os vizinhos, eles se zangam. Seria bom se isso fosse intensificado”, afirmou o vigilante.

Além do já famoso Aedes Aegypti, em Roraima há predominância de outras duas espécies de mosquitos: o anophiles, transmissor da malária e mais presente no interior do estado, e o culex, mais comum e conhecido como muriçoca ou carapanã. Segundo a professora de ciências biológicas Vânia Lezan, os bairros mais próximos de rios são os mais propícios a ter mosquitos.

“Calor e umidade são um prato cheio para proliferação dos mosquitos. Independente da espécie, todos eles têm um ciclo de vida que é formado pelo ovo, estágio larval, da pupa e adulto. E o no estágio adulto existe o mosquito macho e o mosquito fêmea. As fêmeas, após a cópula, precisam do sangue, e por isso elas picam as pessoas. Embora uma única cópula baste pra fecundar todos os ovos, ela vai precisar picar mais de uma pessoa para ter a proteína do sangue suficiente pra amadurecê-los. Então são nessas várias picadas que ela acaba transmitindo as doenças de uma pessoa para a outra”, explica.

Antes de se tornarem adultos, os mosquitos necessitam 100% da água para se desenvolverem. O acúmulo de água deve ser a maior preocupação dos moradores, conforme Vânia, já que durante a fase de ovo eles são mais resistentes e podem ficar até um ano aguardando o contato com a umidade. 

“Assim como as pessoas escovam os dentes e tomam banho pra não ficar doentes, elas também precisam fazer essa limpeza da casa pra evitar esses focos. Não se pode apenas jogar a água do recipiente, mas lavar com água sanitária também. Os ovos se dessecam, são levados pelo vento e podem ficar esperando até a água chegar. Se você só troca e não limpa, ele não morre. Uma piscina que tem o cloro, não vai ter mosquito”, exemplificou.

Além de inseticidas, a melhor maneira de evitar a picada das fêmeas é a instalação de telas nas janelas e portas da casa, como também o uso de mosquiteiro durante o sono, conforme a professora. “Se você tiver que ficar fora de casa durante o amanhecer e anoitecer, que são os horários que eles mais têm atividade, é bom ficar protegido com manga comprida, calça e repelente”, orientou.

DADOS – Somente na Capital, foram notificados 1.841 casos de dengue neste ano. Deste total, 744 foram confirmados. O resultado do último Levantamento Rápido de Índice de Infestação para o Aedes aegypti (LIRAa) classificou Boa Vista com alto risco de infestação (4,8%). 

A média do índice de infestação predial foi de 4,8%, com 313 imóveis positivos para o Aedes. Dos 313 imóveis positivos, 93% correspondem a residências e comércios e outros 7% de terrenos baldios. Dos 54 bairros avaliados, 28 foram classificados como alto risco, 18 com médio e oito com baixo risco de infestação do mosquito.

PREFEITURA – À Folha, a Prefeitura de Boa Vista informou que desenvolve ações voltadas ao combate e à prevenção do Aedes aegypti. As atividades de controle do mosquito acontecem em todos os bairros utilizando estratégias de visita domiciliar com orientações ao morador sobre medidas de prevenção de combate.

GOVERNO – Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelos carros conhecidos como “fumacês”, não quis se pronunciar até o fechamento desta matéria após as nossas tentativas de contato.