"É fundamental querer e se dedicar. Quem tem um objetivo a alcançar, deve lutar por ele, pois é possível realizar". (Foto: Arquivo Pessoal).
"É fundamental querer e se dedicar. Quem tem um objetivo a alcançar, deve lutar por ele, pois é possível realizar". (Foto: Arquivo Pessoal).

Aos 70 anos, Maria de Fátima da Silva Cruz, é a prova de que a idade não impõe limites quando há vontade de aprender. Com uma trajetória marcada por mais de três décadas dedicadas à saúde pública, ela concluiu, em setembro deste ano, o curso de enfermagem, transformando em realidade um sonho que atravessou gerações.

Natural de Parintins, município do Amazonas, Maria de Fátima, construiu uma longa história na área da saúde. Sua atuação começou como agente de saúde e, posteriormente, como agente de endemias. 

“Com a eclosão da epidemia de cólera na região Norte, em 1990, fui uma das 12 profissionais selecionadas para atuar em hospitais, um período que marcou profundamente minha carreira, ainda no Amazonas”, relembrou.

Segundo Maria, naquele período, uma instituição local ofertou um curso de técnico em enfermagem aos profissionais envolvidos. Sobre conciliar trabalho, estudos e a maternidade, ela reforça que não foi uma tarefa simples, mas que sempre fez parte de sua rotina.

Mesmo diante da carga, ela enxergou a formação como uma oportunidade de crescimento.Após longos plantões hospitalares, seguia direto para a universidade, muitas vezes dividindo o tempo entre aulas e chamadas emergenciais.

“Foi um curso muito proveitoso. Desde então, venho construindo minha caminhada na enfermagem”, relembra. Com 30 anos de atuação na área da saúde, ela explica que grande parte de sua experiência foi dedicada à obstetrícia, especialidade com a qual mantém forte identificação.

“No Amazonas fui aprovada em um curso pioneiro de saúde coletiva oferecido pelo governo do estado, em Parintins. Área que fortaleceu ainda mais minha vocação para o atendimento direto ao público “, comentou.

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Formação e trajetória profissional em Roraima

Há quatro anos em Roraima, Maria contou que veio para o estado em razão de um problema de saúde. “Vim realizar um tratamento neurológico, pois estava enfrentando perda de memória. Como minha filha já morava aqui, decidi me mudar”, relatou

Diante do quadro clínico, o neurologista recomendou com o apoio da filha da profissional, que Maria passasse a ler com mais frequência para estimular a mente. 

Foi nesse processo que o antigo sonho de se formar em enfermagem ganhou força novamente. “Minha filha me perguntou se eu queria cursar enfermagem. Eu disse que sim, porque era um sonho que eu sentia que ainda podia realizar”, contou.

Maria de Fátima da Silva Cruz. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV).

Embora tivesse cursado três anos de enfermagem no passado,  ela esclareceu que na época a formação não era reconhecida pelo MEC . Ainda assim, ela não considerou o aprendizado perdido. “O conhecimento ninguém tira, aprender é um processo contínuo”.

Aos 65 anos, Maria de Fátima ingressou na Universidade da Amazônia (UNAMA), onde permaneceu por mais de cinco anos até a conclusão do curso. “Foi uma experiência excelente, com professores de alta qualidade, terminei em setembro deste ano, estou realizada”, disse.

Em tom emotivo, Maria deixou uma mensagem direta para quem sonha em ingressar no ensino superior ou mudar de área. “A idade não pode ser um impedimento, é preciso querer, se dedicar e lutar pelo objetivo. É possível realizar, acredite, corra atrás e persista até o fim”, afirmou.

Atualmente, Maria atua como técnica de enfermagem no Hospital Geral de Roraima (HGR), na área de oncologia. Apesar do receio inicial em migrar da obstetrícia para as clínicas, a adaptação foi rápida. “Em poucas semanas, já estava integrada à equipe”.

Maria atua na área do oncologia no HGR. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV).

Os planos seguem firmes. Em breve, ela pretende iniciar uma pós-graduação e desenvolver um projeto acadêmico. Com determinação, resume sua filosofia de vida em uma frase que traduz toda a sua história.“Apenas a morte me impedirá de continuar meus estudos” finalizou em tom de humor.

Maria concluiu a graduação em Boa Vista em setembro deste ano. (Foto: Arquivo pessoal).