Cotidiano

Aluno de Roraima cursa Engenharia Aeroespacial em Santa Catarina

Com apenas 19 anos, o estudante Willians Gonçalves Cavalcante já vive o que sonhou para o seu futuro. Natural de Boa Vista, ele atualmente mora em Santa Catarina, onde cursa Engenharia Aeroespacial na Universidade Federal daquele Estado (UFSC). O acadêmico é o primeiro da região Norte a ingressar no curso. De família humilde, ele espera que outros jovens sintam-se estimulados a correr atrás do que querem.

Pela afinidade com a matemática, fortificada pela experiência junto ao método de ensino japonês individualizado, Kumon, ele decidiu ainda no colégio que iria cursar alguma engenharia. Sobre a escolha específica da área, ele disse que a trouxe da infância. “Sempre fui apaixonado por aviões, desde criança. Então descobri que existia a engenharia aeronáutica e a aeroespacial”, disse.

Após concluir os estudos na Fundação Bradesco, em 2015, Willians fez o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) já focado no curso. Sem condições, o estudante nunca fez cursinho ou aulas particulares durante o período pré-vestibular. Conforme relato, o estudante trabalhou nos dois primeiros anos do Ensino Médio e, por isso, não tinha tempo para revisar o conteúdo fornecido pelo colégio.

No 3º ano, ele explicou que teve que abrir mão de trabalhar para se dedicar mais aos estudos. “Dei um passo pra trás para dar dois para frente”, pontuou. Com o resultado oficial do Sistema de Seleção Unificada (SISU) divulgado em janeiro, ele se mudou para o Estado sulista em fevereiro e aproveitou para adiantar disciplinas, com o intuito de terminar o curso mais cedo.  

O primeiro semestre do curso foi concluído e, atualmente, ele está no período de férias. O segundo semestre se inicia em março de 2017. No total, o curso tem a duração de cinco anos, dividido em 10 semestres. “O curso é maravilhoso, mais do que eu esperava. Cada dia que passa eu tenho mais afinidade, cada oportunidade que eu tenho, cada matéria que eu estudo e cada nota que eu obtenho me dão mais certeza da minha escolha, fico mais motivado. Tenho certeza que é a minha área”, ressaltou.

Willians sabe que a profissão não é muito comum e que o mercado ainda está sendo aquecido. Mas relatou que é sempre necessário na área de aviação um engenheiro, tanto aeronáutico quanto aeroespacial, que pode atuar em ambas as áreas. Em contrapartida, o campo da aeronáutica já é aquecido em razão da aviação estar se ampliando. No mercado, ele garantiu que é preciso engenheiro para manutenção, construção e planejamento.

“A aeroespacial ainda é pequena, a ciência ainda está se expandindo. As explorações espaciais e construções de veículos estão se inovando agora”, informou. O estudante acredita que em 2020 o campo será maior, já que o mercado é amplo pela falta de profissionais na área. Um engenheiro aeroespacial formado já tem emprego garantido quando encerra a universidade, segundo ele.

PRÓXIMOS PASSOS – Já planejando o futuro, Willians disse que assim que chegou à UFSC assistiu a uma palestra e encontrou o engenheiro-chefe da Embraer, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, onde planeja fazer um estágio ao final do curso. Junto a isso, o estudante pretende se especializar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que também tem convênio com a Embraer. “Tenho objetivo de chegar ao Canadá, onde tem um mercado aquecido, assim como os Estados Unidos e Alemanha”, falou.

DIFICULDADES – Segundo o estudante, a principal dificuldade é depender totalmente da família. Ele informou que quase não saia lá, já que o dinheiro que recebe da família é destinado a pagamento de aluguel, contas e supermercado. Contudo, quando o pagamento do Estado atrasa, ele fica pendente com as dívidas. “Moro até perto da faculdade para evitar transporte”, frisou. Ainda assim, ele garantiu que não é nada que o desanime.

PROJETO – Ainda no colégio, Willians criou um projeto junto a dois amigos chamado Phronesis, com o intuito de ajudar os alunos da turma que fariam vestibular. As aulas ministradas eram direcionadas aos estudantes que tinham dificuldade e não tinham condições de pagar cursinho. As disciplinas trabalhadas eram matemática, química, história e biologia. “Preparamos o material, lista de exercício e em um dia determinado dávamos aula”, ressaltou.

O projeto deu certo. De acordo com ele, o ano de 2015 foi o ano que teve mais de 75% de aprovados em instituições federais. Ele ainda relatou que não ajudou só colegas, uma vez que revisava o conteúdo para ensinar. “Foi também uma estratégia para mim. Quando eu revisava, adquiria mais conhecimento, foi um compartilhamento mútuo”, pontuou.

Já em Santa Catarina, ele informou que foi convidado a participar de uma ONG e, no ato, sugeriu desenvolver o Phronesis. O primeiro trabalho foi atuar em uma escola pública, localizada em uma região carente de Joinville, dando aula de reforço de matemática aos alunos do ensino fundamental, para que estejam preparados ao nível médio. A escola constatou índice quase zero de reprovação após o início do projeto.

O resultado foi tão positivo, que a Secretaria de Educação do Estado soube do projeto e ofereceu ao estudante uma bolsa para o ano que vem, a fim de que possa dar continuidade ao trabalho. A UFSC, por sua vez, também aderiu ao Phronesis e, a partir do ano que vem, vai abrir um cursinho dentro da instituição àqueles que não têm condições de pagar aulas particulares.

Ele ressaltou que também gostaria de ampliar o projeto em Boa Vista. Para tanto, seria necessário apoio dos órgãos competentes da Capital e do Estado, para que o projeto seja mantido. Os interessados no apoio podem entrar em contato com a Folha. (A.G.G)

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.