
Seja nas ruas da capital Boa Vista ou nos municípios do interior, a cena se repete, cães e gatos vagando pelas ruas tornaram-se uma realidade recorrente em Roraima. ONGs e políticas públicas, como programas de castração e adoção, buscam minimizar o problema, mas a responsabilidade e a conscientização contra o abandono de animais dependem de toda a sociedade.
Muitas vezes tratado como um problema isolado, os animais em situação de rua, são uma questão que afeta não apenas o bem-estar animal, mas também a saúde pública e o equilíbrio urbano.
De acordo com Lohanna Nascimento, protetora e voluntária da Yawara, associação sem fins lucrativos que atua na causa animal em Boa Vista desde 2009, a maioria dos animais que chegam à ONG são vítimas de atropelamento, violência ou doenças graves.
“Cerca de 85% a 90% dos resgates feitos pela Yawara envolvem animais atropelados, seja dentro da cidade ou em rodovias. Como vivem nas ruas, acabam sendo vítimas constantes, pois não têm noção do perigo como os seres humanos. A maioria dos atropelamentos ocorre com motocicletas”, explicou.



A voluntária reforça que além do sofrimento animal, isso gera um problema de saúde pública. “O motociclista acidentado vai para o hospital aí precisa de medicamentos e se houver alguma sequela precisará de auxílio, dessa forma, o custo recai sobre toda a sociedade, então os impactos são coletivos”, evidenciou.
A reportagem da FolhaBV entrou em contato com a Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses que informou em nota, que apesar de receber os animais em situação de risco, a unidade não funciona como abrigo ou clínica veterinária, mas realiza ações fundamentais para o controle populacional e sanitário.
“Somente os animais que atendam aos critérios de recolhimento, são levados à Unidade, tratados, observados e, sendo descartados a possibilidade de doenças de caráter zoonótico, são realizados procedimentos como: esterilização cirúrgica (castração), imunização antirrábica, microchipagem e em seguida, disponibilizados para adoção responsável”.
Ainda segundo a nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a unidade é um espaço de acompanhamento, controle, tratamento e vigilância de doenças que podem ser transmitidas para os seres humanos.
“O Castra Móvel é coordenado pela UVCZ e integra o programa União pelos Animais. Em formato itinerante, a equipe realiza a castração gratuita de cães e gatos, contribuindo para o controle populacional e o bem-estar animal”, trecho da nota.
Dificuldades de adoção
Os animais com sequelas permanentes são os mais difíceis de serem adotados, principalmente, os paraplégicos, que precisam de cuidados especiais, pontuou a voluntária Lohanna Nascimento.

“É um animal que requer banhos frequentes, pois se arrasta e acaba se sujando com urina, além de poder apresentar problemas renais ou intestinais. Já os cães com sequelas emocionais, devido à violência que sofreram, podem tornar-se retraídos e, às vezes, agressivos, tendo dificuldade em conviver com outros animais”, frisou.
Jennifer é uma cadela que foi encontrada em 2019 por uma cantora do Amazonas que vinha se apresentar em Roraima. Atropelada na BR-174, próximo a uma usina de asfalto em Boa Vista, outro veículo passou por cima dela, devido à gravidade, ela só consegue se locomover se arrastando.

Bob, é cão resgatado pela própria voluntária Lohanna que o encontrou debilitado perto de sua casa. Também vivia nas ruas e chegou ao abrigo em péssimo estado de saúde. Está há cerca de sete meses no abrigo se recuperando e aguarda adoção.


Vítima de uma agressão cruel, Café, o caramelo autêntico de cerca de dois anos, chegou à Yawara desnutrido, com doença do carrapato e uma cicatriz na cabeça, marca da sua luta pela sobrevivência. Antes de ser resgatado, Café vivia nas ruas e foi atacado com uma terçadada na cabeça.



(Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV).
“Mesmo após o trauma, é um cão alegre e muito dócil. Está castrado, vacinado, livre de pulgas e carrapatos só aguardando um lar e muito amor”,disse a voluntária.
A conscientização ainda é o ponto de partida.O combate ao abandono exige educação, políticas públicas permanentes e responsabilidade individual.

“Nem todo mundo pode resgatar um animal, mas qualquer pessoa pode ajudar. Às vezes, um potinho de ração já faz diferença. A compaixão é o primeiro passo e cada ato de cuidado libera espaço nas ONGs para salvar mais vidas”, finalizou.






Setor pet em Roraima
O segmento pet é um ramo que mostra crescimento na região. Segundo dados da Junta Comercial de Roraima (Jucerr), o estado possui 282 empresas registradas até 15 de outubro de 2025. O número inclui pet shops, clínicas e serviços veterinários.
O levantamento mostra ainda que na capital Boa Vista, o crescimento é tímido ao comparar as 110 empresas em 2024 para 111 em 2025. Municípios como Iracema e São João da Baliza registraram aumento, enquanto Mucajaí e Pacaraima reduziram o número de estabelecimentos.
| Município | Quantidade em 2024 | Quantidade em 2025 |
| Boa Vista | 110 | 111 |
| Mucajaí | 9 | 3 |
| Rorainópolis | 5 | 6 |
| Pacaraima | 5 | 2 |
| Alto Alegre | 4 | 1 |
| Bonfim | 2 | 1 |
| Amajari | 2 | 0 |
| Caracaraí | 2 | 3 |
| Cantá | 2 | 4 |
| Uiramutã | 2 | 2 |
| Normandia | 1 | 0 |
| São Luiz do Anauá | 1 | 1 |
| São João da Baliza | 1 | 3 |
| Caroebe | 1 | 2 |
| Iracema | 1 | 5 |
(Tabela com os dados enviados pela Jucerr).
Apesar do crescimento do mercado pet, o abandono de animais revela que consumo e cuidado não caminham lado a lado. Enquanto aumentam as empresas voltadas ao bem-estar dos pets, ruas seguem abrigando cães e gatos vítimas de abandono.