
A chegada do Ano Novo costuma ser marcada por um espetáculo de luzes no céu em diferentes partes do mundo. Os fogos de artifício, hoje associados à celebração, alegria e renovação, têm uma história muito mais antiga do que se imagina e estão ligados a crenças espirituais, rituais de proteção e à busca por bons presságios para o ciclo que se inicia.
A origem dos fogos de artifício remonta à China antiga, há mais de dois mil anos. Registros históricos indicam que, inicialmente, os chineses utilizavam bambus secos lançados ao fogo, que estalavam com força ao explodir. O barulho alto era visto como uma forma de espantar maus espíritos e energias negativas, especialmente durante a passagem de um ano para outro. Com o tempo, a descoberta da pólvora, por volta do século IX, transformou esses estalos em explosões luminosas, dando origem aos primeiros fogos propriamente ditos.
A relação entre fogos e Ano Novo se fortaleceu justamente por causa desse simbolismo de proteção e renovação. Na tradição chinesa, o início de um novo ciclo exigia rituais que garantissem prosperidade, saúde e sorte. As explosões, além de afastarem espíritos indesejados, eram entendidas como uma forma de “limpar” o caminho para o futuro. Essa associação atravessou séculos e permanece viva até hoje, especialmente nas celebrações do Ano Novo Lunar.
Com as rotas comerciais e as grandes navegações, o uso da pólvora e dos fogos se espalhou para outras regiões do mundo. Na Europa, entre os séculos XIV e XVI, os fogos passaram a ser usados em festas públicas, coroações e eventos religiosos, sempre como símbolo de poder, celebração e grandiosidade. Aos poucos, deixaram de ter apenas um significado espiritual e passaram a representar também alegria coletiva e comemoração.
No Ocidente, a tradição dos fogos na virada do ano ganhou força à medida que o calendário gregoriano se consolidou e as celebrações públicas de Ano Novo se tornaram mais comuns. O espetáculo no céu passou a marcar simbolicamente o encerramento de um ciclo e o início de outro, reforçando a ideia de recomeço. Em muitos países, o som e a luz dos fogos representam a expulsão simbólica do passado e a celebração das possibilidades futuras.
No Brasil, a tradição chegou por influência europeia e foi se adaptando à cultura local. Com o passar do tempo, os fogos se tornaram parte central das celebrações de Réveillon, especialmente em grandes cidades e áreas litorâneas, como o Rio de Janeiro. A combinação entre fogos, música, cores e rituais como o uso do branco transformou a virada do ano em um evento coletivo marcado pela esperança e pela expectativa de dias melhores.
Hoje, apesar das discussões sobre os impactos sonoros dos fogos, especialmente para animais, idosos e pessoas com sensibilidade auditiva, o simbolismo permanece forte. Em muitas regiões, alternativas silenciosas vêm sendo adotadas para manter a tradição visual sem o barulho excessivo. Ainda assim, o espetáculo de luzes continua representando, para milhões de pessoas, a celebração do tempo que se renova e o desejo coletivo de um ano mais próspero e harmonioso.
Mais do que um simples show pirotécnico, os fogos de artifício carregam séculos de história e significado. Eles lembram que a virada do ano sempre foi, em diferentes culturas, um momento de proteção, esperança e renovação, sentimentos que seguem atravessando gerações sempre que o céu se ilumina à meia-noite.