
No Brasil, as mesas de Natal e de Ano Novo muitas vezes seguem tradições diferentes, que misturam heranças culturais, simbolismos e superstições antigas. No Natal, aves como perus ou frangos ainda têm lugar garantido em muitas ceias. Já na virada do ano, muitas famílias optam por evitar aves por conta de superstições, preferindo carnes suínas, peixes ou pratos vegetarianos.
A justificativa para essa escolha não está na culinária, mas na simbologia: a crença popular diz que aves “ciscam para trás” e comer um animal que “anda para trás” na passagem de ano seria um mau presságio para quem busca prosperidade, progresso e novos começos.
A lógica dessa tradição é simbólica: a ideia é que o porco, por exemplo, “fuça para frente”, representando avanço, fartura e continuidade. Já aves que “ciscam para trás” evocam retrocesso, como se o ano começasse com um mau sinal. Por isso, na ceia de Réveillon, pessoas supersticiosas evitam frango, peru e galinha.
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A escolha de pratos diferentes para cada data também tem raízes históricas e culturais. A tradição da ceia de Natal no Brasil foi influenciada pela colonização portuguesa e pela propagação dos costumes europeus, onde se celebrava o nascimento de Cristo com banquetes compartilhados, muitas vezes incluindo aves como símbolo de fartura.
Já o Réveillon, por ser o marco de um novo ciclo, agregou superstições ligadas a símbolos de sorte e prosperidade, vindas de diversas culturas, um reflexo da miscigenação de crenças e hábitos sociais no país.
Mesmo que essas crenças não tenham base científica, elas permanecem vivas nas tradições familiares. Para muitos, a ceia de Ano Novo não é apenas sobre gastronomia, mas sobre intenção: comer carne suína, lentilha, peixe, evitar aves e apostar em ingredientes simbólicos como uvas, frutas secas e grãos, significa esperança de um ano de progresso, fartura e boas energias.
É interessante notar que essa divisão não é universal: nem todas as famílias seguem à risca essas tradições, mas elas evidenciam como a comida e o ritual das ceias carregam significados que vão além do paladar. A mesa de fim de ano torna-se, assim, espaço de memória, fé e expectativa coletiva.
Para quem quer mergulhar nas histórias por trás dos pratos, entender esse folclore familiar e conhecer as crenças alimentares ajuda a redescobrir valores culturais e afetivos e talvez transformar a ceia num momento consciente, de respeito às tradições e, acima de tudo, de esperança renovada.