Durante muito tempo, a relação entre a terceira idade e a tecnologia foi vista como distante. No entanto, essa percepção vem mudando rapidamente. Um número crescente de pessoas com mais de 60 anos tem demonstrado não apenas familiaridade com o mundo digital, mas também engajamento ativo em redes sociais, aplicativos de mensagens, serviços bancários online e plataformas de entretenimento.
Segundo dados recentes, 58% dos idosos brasileiros já utilizam a internet regularmente, um aumento expressivo se comparado aos anos anteriores. O crescimento é impulsionado pela popularização dos smartphones, pela facilidade de acesso à internet e, em parte, pela necessidade imposta pela pandemia de COVID-19, que acelerou a digitalização de diversos serviços.
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De “resistentes” a protagonistas digitais
A percepção de que pessoas mais velhas são resistentes à tecnologia está cada vez mais ultrapassada. Um dos maiores exemplos dessa transformação é o uso do WhatsApp, que cresceu 20% entre o público 60+ entre 2020 e 2022. O aplicativo se tornou essencial não só para a comunicação com a família, mas também para participar de grupos sociais, receber informações de saúde e organizar compromissos.
“Hoje em dia eu marco consulta, falo com meus netos e até pago contas pelo celular”, conta Dona Regina, 72 anos, moradora de São Paulo. “No começo eu tinha medo de mexer, mas com paciência fui aprendendo. Agora não largo mais.”
Mais inclusão, mais independência
Além da comunicação, os idosos têm aderido cada vez mais a aplicativos de mobilidade urbana, bancos digitais, plataformas de streaming e aulas online. O uso da tecnologia tem contribuído diretamente para o sentimento de autonomia e bem-estar, facilitando o acesso a serviços e promovendo o envelhecimento ativo.
Para o gerontólogo André Meirelles, o envolvimento dos idosos com a tecnologia é uma tendência irreversível. “O digital, quando acessível, amplia o mundo da pessoa idosa. Ela passa a ter mais autonomia para resolver questões do dia a dia, manter-se informada e até continuar aprendendo”, explica.
Desafios ainda existem
Apesar dos avanços, ainda existem barreiras. A alfabetização digital não é uma realidade para todos, especialmente em regiões com menor acesso à internet ou entre idosos com menor escolaridade. A falta de conteúdo adaptado e o medo de golpes virtuais também são obstáculos importantes.
Programas de capacitação digital, oferecidos por ONGs, universidades e até bancos, têm desempenhado um papel fundamental na inclusão desse público. Iniciativas como oficinas de smartphone e cursos de segurança online vêm ganhando força em centros comunitários e instituições públicas.
Uma transformação em curso
A entrada dos idosos no mundo digital reflete não apenas uma mudança de comportamento, mas também uma transformação geracional. Eles não apenas acompanham a evolução tecnológica, como também passam a ocupar espaços antes considerados exclusivos dos mais jovens.
Ao se conectarem, os idosos ampliam horizontes, fortalecem laços sociais e demonstram que tecnologia e longevidade podem — e devem — caminhar juntas